TIMES

Por Gabriel Duarte — de Belo Horizonte


O formato firmado entre Ronaldo Fenômeno e Pedro Lourenço para injeção de recursos no Cruzeiro usou uma previsão da Lei da SAF para agilizar a entrada do capital no caixa cruzeirense (na casa dos R$ 100 milhões). O fato de não mudar o corpo societário da SAF, num primeiro momento, encurtou o caminho do processo inicial.

Cruzeiro 1 x 1 Democrata SL - Melhores momentos - 8ª rodada do Campeonato Mineiro 2023

Cruzeiro 1 x 1 Democrata SL - Melhores momentos - 8ª rodada do Campeonato Mineiro 2023

O fato de a entrada de Pedro Lourenço ter sido com a aquisição de "debêntures conversíveis", que são uma espécie de títulos de crédito adquiridos e que podem ser convertidos em ações da sociedade, encurtam o caminho por não terem de passar órgãos de controle, já que não haverá mudança no formato da sociedade cruzeirense - a Tara Sports Brasil continua com 90%, e a associação com os 10%.

Na prática, funciona como uma injeção de recursos de Pedro Lourenço, que pode transformar em ações ou ter o retorno dos recursos a partir do formato acertado com a gestão Ronaldo. Os detalhes de como, quando e quanto são os recursos injetados não foram divulgados pelas partes e nem como serão as condições para Pedro Lourenço transformar os créditos em ações, caso queira.

O clube mineiro informou que o valor será investido exclusivamente em "necessidades operacionais", mas também não explicou quais são essas necessidades no pronunciamento. Pedro Lourenço ainda previne seu patrimônio, inicialmente, de entrar como sócio da SAF, visto que tem a opção de ter o retorno em créditos financeiros.

A negociação de debêntures está prevista na Lei da SAF. Na lei, elas são chamadas de "debêntures-fut", mas Ronaldo não as emitiu neste modelo. O artigo 26 do texto aprovado tratou das características, inclusive com a aplicação de juros sobre os recursos injetados e o prazo mínimo das debêntures:

Ronaldo e Pedro Lourenço estão próximos de sociedade no Cruzeiro — Foto: Gustavo Aleixo/Cruzeiro

  • Remuneração por taxa de juros não inferior ao rendimento anualizado da caderneta de poupança, permitida a estipulação, cumulativa, de remuneração variável, vinculada ou referenciada às atividades ou ativos da Sociedade Anônima do Futebol;
  • Prazo igual ou superior a 2 (dois) anos;
  • Vedação à recompra da debênture-fut pela Sociedade Anônima do Futebol ou por parte a ela relacionada e à liquidação antecipada por meio de resgate ou pré-pagamento, salvo na forma a ser regulamentada pela Comissão de Valores Mobiliários;
  • Pagamento periódico de rendimentos;
  • Registro das debênture-fut em sistema de registro devidamente autorizado pelo Banco Central do Brasil ou pela Comissão de Valores Mobiliários, nas suas respectivas áreas de competência.

A lei ainda estabelece que "os recursos captados por meio de debêntures-fut deverão ser alocados no desenvolvimento de atividades ou no pagamento de gastos, despesas ou dívidas relacionados às atividades típicas da Sociedade Anônima do Futebol previstas nesta Lei, bem como em seu estatuto social."

Assim como fez com Pedro Lourenço, Ronaldo poderá emitir novas debêntures em busca da injeção de capital no Cruzeiro, sejam elas conversíveis ou não. A gestão do Fenômeno buscava a injeção de capital desde o ano passado, em vista os desafios administrativos, financeiros e esportivos dos próximos anos.

Segundo recente comunicado, a gestão de Ronaldo informou que "no Plano de Recuperação Judicial, a SAF estima que o suporte financeiro total à Associação envolverá cerca de R$ 491 milhões, em 12 anos". Mas o valor e o prazo ainda podem ser alterados com base nas tratativas e negociações com os credores. O PRJ do Cruzeiro está travado na Justiça.

Pedro Lourenço é cruzeirense declarado e próximo de Ronaldo desde a chegada do Fenômeno à Raposa. Ele estava há dias em negociação com o Fenômeno para acertar os detalhes. A intenção da equipe de Ronaldo é dedicar o aporte para potencializar o trabalho de recuperação do clube que já foi iniciado. Destinando o dinheiro a reformas de estrutura, investimento no clube e na base, entre outros.

Pedro Lourenço é conselheiro nato do Cruzeiro e uma das figuras centrais na reconstrução do clube após queda para a Série B, atuando como principal patrocinador.

Conhecido como "Pedrinho BH", o cruzeirense fez fortuna fundando a maior rede de supermercados de Minas Gerais, empresa que patrocina o Cruzeiro e chegou a ocupar o espaço principal na camisa da equipe.

Ronaldo posa para foto com Pedrinho e a taça da Série B do Brasileiro — Foto: Gabriel Duarte

Na recuperação judicial, a empresa do conselheiro é listada como a terceira maior credora do clube, com mais de R$ 25 milhões de créditos. Esta lista de credores apresentada pelo Cruzeiro à Justiça é alvo de contestações na esfera jurídica.

Em janeiro de 2022, a gestão de Ronaldo ofertou 20% da SAF ao empresário, por R$ 90 milhões. Na época, Pedro confirmou ao ge que recusou a proposta por falta de interesse, segundo ele.

Assista: tudo sobre o Cruzeiro no ge, na Globo e no Sportv

Veja também

Mais do ge