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Por Jéssica Maldonado — Rio de Janeiro


Confira a coletiva de Artur Jorge após a vitória sobre o Fluminense

Confira a coletiva de Artur Jorge após a vitória sobre o Fluminense

Já são mais de dois meses que Artur Jorge, treinador do Botafogo, e a esposa Maria José deixaram a vida em Braga, Portugal, para se aventurarem no primeiro desafio fora da Europa. A caminhada tem um início feliz com o time, descobertas no Rio de Janeiro, mas também lágrimas de saudades da família, que ficou no Velho Continente.

A seguir, você vai ler uma entrevista com Maria José, ex-diretoria comercial da Baldi, empresa importadora e distribuidora de champagne. Ela largou a carreira para viver a vida como esposa de treinador e aprender a ser mãe e vó à distância. O ge a encontrou no condomínio em que mora com o comandante do Botafogo, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio de Janeiro.

Artur Jorge e Maria José em evento do Braga, em Portugal — Foto: Arquivo pessoal

Maria e Artur completam, neste Dia dos Namorados, 31 anos de casados. Durante esse tempo, ela sempre esteve ao lado do português e, embora tenha os próprios afazeres do dia a dia, está sempre atenta ao que acontece em campo – e nos bastidores também.

- Às vezes opino sobre os jogos. Se não gosta do que ouve, ele diz: “Está bem, no próximo jogo vais tu para o banco” - conta, aos risos.

Sonhos concretizados no Santiago Bernebéu, Maracanã...

Maria e Artur se conheceram na escola, quando tinham 16 anos. Ou seja, ela acompanhou toda a carreira do companheiro como jogador e treinador, ambos no Braga, e coleciona boas memórias. Uma das mais marcantes foi recente, na disputa da Liga dos Campeões, na última temporada, quando foi a todos os jogos da campanha a convite do ex-clube do marido.

Estar no Santiago Bernabéu, estádio do Real Madrid, era a concretização de um sonho quase inimaginável para ambos há pouco tempo.

- Em 2019, fomos lá (no estádio) como visitantes. Fomos a Madrid, tivemos quase duas horas na fila para comprar os ingressos e fazer a visita guiada no estádio. Ele pedia para eu tirar fotos dele sentado no banco de reservas, no gramado, na sala de imprensa... Ele só pensava que estar ali era um sonho. Ele era uma criança na loja de doces.

Artur e Maria no Santiago Bernabéu em 2019 — Foto: Arquivo pessoal

- Quando eu sonharia com isso? Nunca! Naquela época ele estava treinando o sub-15 do Braga - contou ela, ao lembrar da ascensão de Artur no Braga depois de passar por praticamente todas as categorias de base do clube português.

Artur Jorge em visita ao estádio do Real Madrid em 2019 — Foto: Arquivo pessoal

Artur é uma pessoa séria nas entrevistas e muitas vezes esconde a emoção que dedica exclusivamente a momentos em família. Há dois anos, quando estava prestes a completar 50 anos, fez uma lista de 10 estádio que queria visitar. Nela, tinha a casa do Real Madrid, do Napoli – clube que Maradona jogou, maior ídolo dele -, e o Maracanã.

- Quando estava indo ao Maracanã (para fazer o jogo entre Botafogo x Flamengo), ele me disse: 'Já percebeu que esse ano eu estive no Santiago Bernabéu, no estádio do Napoli e vou estar no Maracanã? Eu disse que queria ir como turista, mas em três estive como treinador' - contou Maria.

Extracampo e carinho da torcida como combustível

Hoje, Artur desfruta de sete jogos de invencibilidade no Botafogo e é tietado por onde vai. O lazer se limita ao pouco tempo livre que tem fora do clube. As conversas em restaurantes, por exemplo, costumam ser interrompidas por algum torcedor em busca de uma foto com o treinador. E é Maria quem se prontifica para ser a fotógrafa.

Diferente do que se imagina, o treinador não se sente incomodado. Ela conta que o marido vê o carinho da torcida como um combustível para a manutenção do bom momento do time. Inclusive, a expressão “dedo do Artur Jorge” chegou ao grupo de WhatsApp da família.

- O que eu tenho rido com isso... Mas eu não acho tantas piadas. Os filhos sublinham os comentários e mandam no grupo que temos - conta ela, das mensagens impublicáveis que o treinador recebe do filho e do genro, ambos jogadores de futebol, sobre a expressão 'dedo do Artur Jorge'.

- Eu li um comentário de torcedor dizendo: 'Esse cara é mais bonito que a minha mulher'. A gente ri muito. Vocês (brasileiros) têm a mente muito criativa.

- Minha família levou muitas camisas para Portugal. E fomos à loja comprar. Imaginem os torcedores na loja e, do nada, chega o técnico. Ele foi junto comprar e foi engraçado. Eu não tinha noção que em um dia normal as pessoas estavam comprando camisas. Aqui, podem deixar de comer, mas compram as camisas. Incrível. Fazia fila, umas 19h. Os torcedores entravam e já não iam mais para as camisas, mas faziam fila para tirar foto com o Artur.

Equilíbrio entre vida pessoal e profissional

Maria conta com a companhia de uma amiga portuguesa que fez quando chegou ao Rio. Enquanto Artur está nos treinos ou em viagem, ela aproveita para desbravar a cidade e conhecer novos lugares - São Conrado e Prainha são suas praias preferidas, mas não abre mão de um bom boteco, mesmo que praticamente não consuma álcool.

Recentemente, ela também recebeu os três filhos e os netos, que até tiveram tempo para curtir com o patriarca. Aliás, o treinador valoriza o tempo de qualidade e faz questão de levar isso para o elenco para conciliar com o dia a dia.

- Ele tiveram cinco ou seis dias fora, foram no domingo e voltaram na sexta, e no sábado foram para São Paulo. Ou seja, até teria mais sentido ir direto para São Paulo, mas o Artur disse que eles tinham que estar com a família porque faria diferença. Eles precisariam disso para motivar a ganhar. Ele passou por isso também. Às vezes, o fato de estar o tempo todo em concentração piora, é a tal da parte psicológica.

Artur Jorge recebe a família no Rio de Janeiro — Foto: Reprodução

Maria vive a rotina do futebol desde os 21 anos. Depois, viu o filho Artur Jorge se tornar jogador. Além disso, sua filha se casou com um atleta. Para ela, alguns jogadores são frágeis emocionalmente e precisam estar com quem amam por perto.

- Fiquei muito emocionada com uma entrevista do Tchê Tchê em que ele admitiu a depressão que teve. Até conversei isso com o meu filho e disse: "quantos já estiveram nessa situação e não admitem porque a sociedade ainda condena e diz que depressão é uma frescura?". É um tabu ainda. Pensam que ir ao psicólogo é para malucos da cabeça, mas não é nada disso.

Artur e Maria com os três filhos — Foto: Arquivo pessoal

Hoje, Maria e Artur vivem no Brasil com a saudade diária dos filhos. Semana passada, todos deixaram a casa dos pais para voltarem para Portugal. O momento da volta do aeroporto para casa foi de dor da distância e lágrimas de ambos.

- É nessa horas que a gente coloca tudo em questão. Por algumas horas, depois de ver minhas filhas chorando e meus netos indo embora... Mas sei que não há o melhor dos mundos. O fato de ter muita saudade não quer dizer que você não está gostando de estar aqui. São coisas diferentes. Adoro, a cidade é maravilhosa, e as pessoas também.

Assista: tudo sobre o Botafogo no ge, na Globo e no sportv

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