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Por Cahê Mota — Rio de Janeiro


Um processo democrático com início ainda quando os jovens talentos têm 14 anos e que já rende frutos para as categorias de base da seleção brasileira.

Os parâmetros definidos pela CBF na captação de talentos cumpriram a relação expectativa x realidade após percalços no cenário continental na década passada e a incógnita gerada pela pandemia. O Sub-20 já foi campeão Sul-Americano e o Sub-17 está a duas vitórias de repetir o feito.

Equador 2 x 2 Brasil - Gols do jogo - 3ª rodada do Hexagonal Final do Sul-Americano Sub-17

Equador 2 x 2 Brasil - Gols do jogo - 3ª rodada do Hexagonal Final do Sul-Americano Sub-17

Classificado com antecedência para o Mundial da categoria, que acontece em novembro em sede ainda a ser definida, o Brasil encara o Chile nesta quinta-feira, às 18h30 (de Brasília), para seguir dependendo apenas de si para ser campeão. A partida terá transmissão do Sportv e o ge acompanha em Tempo Real.

A sequência do trabalho que entregou resultados com Ramon Menezes e agora repete o sucesso com Phelipe Leal tem como projeto a observação minuciosa de promessas em clubes de todos os estados do Brasil, a começar pelo Sub-15, que também disputa o Sul-Americano ainda em 2023. Um tripé que leva em conta o desempenho no momento, projeção para evolução e histórico de personalidade, relacionamentos e capacidade de superação ajudam a identificar atletas com potencial de defender a Seleção.

Garotos do Sub-17 comemoram vaga antecipada do Brasil no Mundial — Foto: Rafael Ribeiro / CBF

Números do ciclo da Sub-17

  • 157 monitorados da geração 2006/07
  • 97 convocados desde o Sub-15
  • 56 jogadores já no Sub-17
  • 26 clubes do país no banco de dados
  • 50+ com a inclusão do clube anterior ao início da captação
  • 5 regiões do país representadas
  • 18 estados brasileiros

Os critérios não são engessados e levam consigo muito da percepção do corpo técnico da CBF. O resultado até aqui, por sua vez, demonstra que é possível, sim, minimizar os erros e abrir o leque de opções mesmo após uma pandemia que congelou o calendário para esses meninos na geração anterior a atual.

"Não é possível convocar somente jogadores com uma dessas características. O histórico nos mostra que na base não basta convocar pelo momento, é preciso ter jogadores que sustentem um desenvolvimento de mentalidade e cultura vencedora"

- Não é vencer a qualquer custo, é uma opção de vida - explica Phelipe Leal, comandante da Seleção Sub-17, que ainda não perdeu desde a primeira convocação da geração 2006/07, em março do ano passado.

Branco e Phelipe Leal se abraçam após vaga garantir no Mundial Sub-17 — Foto: Rafael Ribeiro / CBF

O trabalho de captação através de observadores tem um segundo estágio batizado de "Caderno Radar", onde os jovens são classificados como arquivados, em observação, monitorados, selecionado e top. Os processos são atualizados a cada três meses, e fornecem os treinadores das seleções um ranking de até cinco opções por posição visando as convocações.

- Conseguimos ver o nível de evolução do nosso trabalho como mapeamento, evolução do clube, e direcionar o processo de convocação. Dali, tiramos os jogadores de acordo com a forma que a equipe vai jogar, característica de cada um e botar os melhores para jogar, que é meu desafio. A missão é utilizar os melhores com equilíbrio - detalha Leal.

O trabalho com jogadores nascidos entre 2006 e 2007, por exemplo, contou com o monitoramento de mais de 150 nomes, dos quais quase 100 tiveram oportunidades a partir do Sub-15. O processo passou por todos as regiões do Brasil, o que o torna democrático na visão de Phelipe Leal.

- Isso para mim é importante. O nosso trabalho precisa enxergar o amplo, eu preciso ter a consciência de que as convocações são coerentes para o que a CBF quer e com os olhares abertos para o país inteiro.

Brasil de Phelipe Leal está invicto no Sul-Americano Sub-17 — Foto: Rafael Ribeiro / CBF

Branco celebra a "volta do protagonismo"

Todo esse trabalho passa diretamente pelo tetracampeão Branco, coordenador das categorias de base da CBF. No Equador para chefiar a delegação que busca o título sul-americano sub-17, o dirigente celebrou resultados que devolvem ao país aos holofotes no cenário continental.

Branco comemora título Sul-Americano com comissão do Sub-20 — Foto: Rafael Ribeiro / CBF

- Estou muito satisfeito com o que vi até agora, com a vaga assegurada para a Copa assim como o Sub-20. Isso atesta a consolidação do nosso trabalho para retomar o protagonismo nos torneios. Respeitando nossa essência, a nossa história, a capacidade individual dos nossos jogadores, o nosso DNA.

Branco bateu na tecla das dificuldades que o Brasil teve no mesmo Sul-Americano das duas categorias em 2019, último ano em que foi disputa. Nem Sub-20, nem Sub-17 conseguiram sequer a vaga em seus mundiais.

- O Sul-Americano é um torneio muito difícil. Na última edição, em 2019, o Brasil não passou para a segunda fase. Mas disputou o mundial por ser o país sede. De lá para cá, já são cinco anos ajustando processos internos e abrindo o leque de observação dos atletas. Esse grupo do Phelipe Leal nasceu campeão, fez boas etapas de preparação, e não conta, hoje, com atletas talentosos que pularam etapas.

"É uma seleção muito forte e equilibrada. Isso mostra a força do nosso trabalho. Estou otimista. Agora é buscar o título do Sul-Americano como fizemos no Sub-20"

Ex-treinador das categorias de base de Fluminense e Botafogo, além de passagens por gigantes italianos como Juventus e Roma, Ricardo Perlingeiro foi o escolhido por Branco para o cargo de coordenador de Observações Técnicas das Seleções de Base da CBF. Peça importante no processo, ele fala do desenvolvimento cada vez mais precoce de talentos que pulam etapas e já estão entre os profissionais.

Perlingeiro e Branco comemoram o título olímpico em Tóquio — Foto: Arquivo pessoal

- Nenhum clube profissional vai inscrever um jogador de 16 a 19 anos numa competição importante como o Campeonato Brasileiro se não tiver a oportunidade de escalá-lo. Eles já treinam normalmente com os profissionais. Isso é importante para o amadurecimento dos jogadores. A estrutura dos clubes cresceu muito ultimamente e isso também facilita a adaptação deles - disse ao site da CBF

Com sete pontos e dois gols de saldo, o Brasil inicia a quarta rodada do hexagonal final do Sul-Americano na terceira colocação, mas tem chances de terminar em primeiro com uma vitória sobre o Chile. Isso porque no jogo seguinte o líder Equador e a vice-líder Argentina, também com sete pontos, medem forças. Um empate é suficiente para deixar a Seleção no topo, já a vitória de um dos lados leva a situação para a última rodada para o saldo de gols.

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