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Por Jorge Natan e Rodrigo Lois — Rio de Janeiro e Milão


Um título histórico, a contratação por um gigante da Europa e a primeira convocação para a seleção brasileira: a temporada 2023/24 pode ser considerada um divisor de águas na carreira para Carlos Augusto. O lateral se destacou em seu primeiro ano na Inter de Milão e não só conquistou o Scudetto como também assegurou mais quatro anos de contrato com o clube.

Carlos Augusto revela prioridade ao Campeonato Italiano: "Segunda estrela é um marco"

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— Eu tinha como objetivo estrear na Champions League. Agora a gente pode elevar um pouquinho mais esse objetivo. Ganhar mais vezes o Italiano com a Inter, fazer um ciclo vencedor. Estamos aí para tudo. Estou bem satisfeito com a minha temporada. Lógico que todo jogador quer sempre mais, mas acho que o meu papel era ajudar bastante e estar pronto quando precisassem. É a primeira temporada, e teve um salto importante — disse Carlos Augusto, em entrevista ao ge.

Revelado nas categorias de base do Corinthians, o jogador de 25 anos foi cedido por empréstimo do Monza à Internazionale, por duas temporadas. O contrato previa a compra obrigatória do brasileiro, por 17 milhões de euros (R$ 93,5 milhões hoje), em caso de classificação para competição europeia. Com o time já campeão nacional, Carlos agora terá vínculo definitivo com a Inter até 2028.

Carlos Augusto comemora a conquista do título do Campeonato Italiano, pela Inter de Milão — Foto: Getty Images

Em sua primeira temporada na Internazionale, Carlos Augusto disputou 41 jogos, em todas as competições. Foi titular 16 vezes e entrou ao longo das partidas em 25 ocasiões. Entre os suplentes, é quem mais teve espaço no time. Inclusive começando cinco jogos pela Champions League.

E na segunda-feira passada veio a alegria maior: conquista do título do Campeonato Italiano, logo num clássico contra o Milan (vitória por 2 a 1 no San Siro). Primeira vez na história da Serie A que isso aconteceu.

— Isso deu uma animação a mais. Foi um jogo bem tenso, mas nosso time estava preparado e queria ganhar esse título no clássico. Seria mais bonito. Para nós fazer isso contra o Milan não era uma pressão a mais, foi uma motivação. A gente fez grandes jogos ao longo do campeonato, e quando foi chegando a oportunidade de ganhar no dérbi, todo mundo tinha essa motivação. É mais bonito ganhar contra um grande rival.

Jogadores da Inter de Milão comemoram o Scudetto após vitória sobre o Milan no San Siro — Foto: Getty Images

Foi o 20º título nacional da equipe, o que tornou o troféu ainda mais especial. Além de triunfar na "decisão" contra o rival, a Inter levou a melhor em uma corrida pela segunda estrela no escudo. Na Itália, os time só podem adicionar o símbolo aos brasões a cada 10 Scudettos.

Inter e Milan chegaram à temporada 2023/24 com 19 títulos cada. Com a conquista, a Internazionale se tornou o segundo clube a ter mais de uma estrela, entrando para um grupo que só tinha a Juventus (campeã 36 vezes e com três estrelas no escudo).

— Lógico que somos a Inter de Milão, e entramos em todas as competições para ganhar. Champions League, Copa da Itália... Mas a gente tinha colocado como principal objetivo mesmo a segunda estrela. É um marco, a segunda estrela no escudo. Chegar ao 20º Scudetto. Então esse era o nosso principal objetivo, todo mundo sabia disso. Lógico que a gente não deixava as outras competições de lado, dava o nosso melhor em tudo. Mas é um momento histórico, ganhar mais uma estrela em cima do escudo. Esse era o principal objetivo — revelou Carlos.

Imagem da festa do elenco da Inter de Milão pela conquista do 20o Scudetto — Foto: Getty Images

O desempenho também levou Carlos Augusto à seleção brasileira. Convocado por Fernando Diniz, o lateral foi titular no duelo entre Brasil e Argentina no Maracanã, que ele aponta como um dos mais especiais de sua temporada, apesar da derrota. O nome dele não apareceu na primeira lista de Dorival Júnior, mas a expectativa de seguir tendo chances existe, antes da Copa América.

— A gente sabe que tem jogadores brasileiros de qualidade no mundo todo, e eles acompanham todos. Não tive nenhuma conversa pessoalmente, mas sei que são atentos a todos os jogadores que jogam pela Europa, pelo Brasil. Eu tenho que fazer o meu trabalho bem feito, e se acontecer a oportunidade, estar pronto sempre.

Brasil x Argentina e mudança no comando: Carlos Augusto comenta chance na Seleção

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Confira os principais trechos da entrevista com Carlos Augusto:

Como é o vestiário da Inter de Milão? Com quem você interage mais?

Uma coisa que facilitou muito é que eu já sabia falar italiano, estou aqui há três anos. Me impressionou é que é um grupo muito bom, todo mundo se ajuda. Não tem frescura. Sabe que para andar para a frente, num campeonato longo, a gente tem que ter isso. Falo com todo mundo, me dou bem com todo mundo. Mas fico mais com a galera da minha idade. Falo bastante com o Bisseck, Frattesi, muito com o Lautaro também. O Sánchez também. A gente é muito amigo, e acho que isso ajudou muito a gente neste ano.

Fala um pouquinho sobre o Lautaro Martínez. Capitão, artilheiro e camisa 10 do time. Como ele exerce a liderança dele na Inter de Milão?

Ele é um cara bastante tranquilo. Quando eu cheguei no clube, ele me ajudou bastante, me mostrou como funcionam as coisas, como é vestir a camisa da Inter. Ele é um cara jovem, mas representa muito pra gente com essa faixa de capitão. Ajuda muito, quem joga, quem não joga bastante. Ele dá força para continuar jogando, para aumentar a vontade. É a escolha certa de capitão, ajuda bastante dentro do vestiário.

Carlos Augusto, junto de Frattesi e Asllani, durante a festa do título da Internazionale — Foto: Getty Images

Queria que você falasse agora sobre o (Simone) Inzaghi. Você lembra de algum papo com ele que tenha sido mais marcante?

Ele ajudou bastante, ele ajuda todo mundo. Ainda mais aqueles que jogam menos. Ele consegue dar essa motivação. Comigo ele falou bastante, ainda mais por estar fazendo duas posições. Ele deu bastante conselhos. Querendo ou não, mesmo sendo na mesma faixa do campo, são posições diferentes, então tem que ficar atento. Ele me ajudou bastante nisso. Mas eu acho que isso também o grupo aceita bastante. Não é um grupo que causa confusão. Acho que tudo se intercalou, e acabou tudo dando certo dentro do nosso ano.

Que tipo de conselho ele deu, sobre as questões de posicionamento? (Carlos Augusto atuou como zagueiro e lateral ao longo de 2023/24)

Ele falou que ia me usar naquela posição por causa das minhas características. Foram aqueles conselhos de treinador paizão, sabe? Para estar tranquilo, acreditar nas minhas qualidades, e fazer um bom jogo, ajudar a equipe. É mais aqueles conselhos de treinador paizão. Ainda mais para eu me encaixar nas características do time. Quando a gente chega, os novos, ele ajuda bastante, para entender como o time joga, como é o sistema de jogo do time. Ele dava conselhos sobre como ele gostaria que jogasse. Isso ajudou bastante para me adaptar mais rápido.

Curiosamente, nos 16 jogos em que você foi titular, cinco deles foram na Liga dos Campeões. Você acha que o Inzaghi confiava em você para esses jogos de Champions por algum motivo específico?

Agora eu sei que tenho a confiança do treinador. Mas, às vezes, é por características do jogo. Ele confiava em todos para fazer esses jogos da Champions, e como eram muitos jogos, querendo ou não, tinha que fazer esse revezamento. Ele teve a confiança em nós, e a gente nele também. Acabamos sendo eliminados nas oitavas, mas foi minha estreia na Champions, fiz bastante jogos como titular, e isso quer dizer que ele confia em mim. Quero continuar assim.

Carlos Augusto contou com o apoio de Simone Inzaghi na Champions League — Foto: Getty Images

E como foi a gestão da vantagem na Serie A? Vocês foram campeões com cinco rodadas de antecedência. Quando caiu a ficha de que tinham se tornado os favoritos ao título? Como o Inzaghi geriu isso no vestiário, para não deixar a coisa descontrolar?

Acho que o momento-chave para nós foi um período de jogos em fevereiro, quando a Juventus era vice-líder e estava só a um ponto de diferença. E a gente teve o dérbi da Itália, contra a Juventus. Acabamos ganhando, então ali deu para acreditar mais. São jogadores experientes, que ganharam muita coisa. Tem jogador que ganhou Copa do Mundo, Champions League, e eu acho que eles ajudaram bastante o grupo, principalmente os mais jovens, a saber administrar.

Falando da campanha... Vocês só perderam um jogo até agora (Sassuolo, em setembro). Como dá para explicar a solidez da Inter de Milão?

A gente lembra dessa derrota, aquele jogo a gente tomou a virada. Aquele jogo ajudou bastante para entender o resto da temporada. A maioria dos jogos a gente abria vantagem. Esse e outro jogo, contra o Bologna, nos ensiraram a manter o resultado, saber sofrer também. Não é todo jogo em que se pode jogar bem. Então acho que a equipe soube sofrer. E também teve aquela sorte de campeão, que em alguns jogos também ajudou. O time soube sofrer nos momentos difíceis, e quando teve as oportunidades soube aproveitar. Foi a junção de tudo.

Carlos Augusto foi peça importante na campanha campeã da Inter de Milão na Serie A — Foto: Getty Images

Ainda falando sobre a comemoração do título... Você cantaram "Ai se eu te pego!". Foi uma ideia sua?

Não, a música é antiga, mas aqui eles escutam bastante. Na Itália essa música toca muito. Ela ficou mundialmente famosa, né? Mas eu lembro também que quando teve o jantar da apresentação, e os novos têm que cantar, eu cantei essa música no trote. Eles gostaram muito, então no momento da festa ali do títulos eles tocaram todos tipo de música e todo mundo gostou.

Carlos Augusto comenta relações no vestiário da Inter e comemoração com "Ai se eu te pego"

Carlos Augusto comenta relações no vestiário da Inter e comemoração com "Ai se eu te pego"

Sobre essa ter sido uma temporada em que você explodiu também para o futebol brasileiro. Muita gente te redescobriu agora nessa temporada, jogando na Inter de Milão e na seleção brasileira. Sentiu alguma diferença no reconhecimento? Até em redes sociais, o pessoal te procurando.

Eu fiquei bastante tempo no Corinthians, mas acabei não jogando tanto, tendo aquele impacto. Quando fui embora e fiquei no Monza, teve o período da COVID, as pausas nos campeonatos. Então meio que você dá uma sumida. Quando eu vim para a Inter de Milão, teve uma mudança e eu senti o carinho dos torcedores. Isso é gratificante, quero sempre mais, quero dar meu melhor pelo Brasil. Mas para isso tem que trabalhar bastante. Você sente a diferença, sim, do pessoal te redescobrindo. É aquilo que fala: o mesmo que elogia, é o mesmo que crítica. Mas nós jogadores já sabemos sobre isso, temos que ter a cabeça tranquila, saber do nosso momento, independente de ruim ou bom, estar concentrado no trabalho, não importa o que se fala agora.

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