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Por Redação do ge — Las Vegas, EUA


Bielsa, técnico do Uruguai, critica saída cedo de jovens sul-americanos à Europa e cita Endrick

Bielsa, técnico do Uruguai, critica saída cedo de jovens sul-americanos à Europa e cita Endrick

A entrevista coletiva de Marcelo Bielsa, treinador do Uruguai, na véspera do confronto pelas quartas de final da Copa América contra a seleção brasileira, foi de longa reflexão sobre o futebol moderno. O técnico argentino, nesta sexta-feira, em Las Vegas, criticou a venda de jogadores jovens sul-americanos ao futebol europeu de maneira precoce e citou Endrick, atacante que será titular neste sábado.

Em uma pergunta sobre o São Paulo de 1992, Bielsa interrompeu o jornalista brasileiro e começou a reflexão sobre o futebol atual. Veja o vídeo acima.

— Você recorda a formação do São Paulo? Com um treinador monumental e uma formação de todos jogadores de seleção brasileira, todos jogando no futebol local. Vejam o que passou com o pobre futebol sul-americano. Lá jogava Raí, Antonio Carlos, Ronaldo, Cafú, Pintado, Muller, todos jogadores "europeus", mas antes de irem à Europa jogaram duas finais de Copa Libertadores. O que aconteceu com o futebol? Com o futebol, que é propriedade popular essencialmente... Por que? Os pobres têm muita pouca capacidade de acesso à felicidade porque não dispoem de dinheiro para comprar felicidade. O futebol, como é gratuito, é de origem popular — disse Bielsa, que completou:

— Esse futebol, que era uma das poucas coisas que os mais pobres mantinham, já não tem mais, porque aos 17 anos Endricks vão, o "winger de Palmeiras" (Estevão)... que lástima que eu tenha que dizer hoje algo que só vai me trazer críticas.

Estevão e Endrick, atacantes do Palmeiras — Foto: Fabio Menotti / Ag. Palmeiras

Sobre uma possível preocupação em relação às polêmicas de arbitragem, Marcelo Bielsa disse que o futebol está ficando cada vez mais previsível e menos atrativo ao público geral.

— Parecia que o auxílio da tecnologia nos deixa ainda mais perto para avaliar as conclusões que pareciam irreversíveis. Para mim, isso faz muito dano ao futebol. O jogo tem essa particularidade, na medida que o jogo se torne plenamente previsível cada vez irá perdendo o atrativo. Eu tenho a certeza que o futebol está em um processo decrescente — afirmou Bielsa, que completou o raciocínio:

— Cada vez mais gente assiste ao futebol, mas ele fica cada vez menos atrativo. Não se privilegia o que tornou esse jogo o esporte número um do mundo. Ele não protege quem vê. Isso favorece o negócio, o negócio é que muita gente veja o jogo. Mas quando passa o tempo e cada vez os futebolistas que merecem ser olhados sejam menos e cada vez o jogo seja menos agradável, esse aumento artificial dos espectadores vai sofrer um corte. Futebol não é 5 minutos de ação, é muito mais do que isso, é expressão cultural, uma forma de identificação.

Veja outros trechos da coletiva

Ausência de Vini Jr mudará estilo de jogo do Uruguai?
— Pessoalmente, creio que não (muda o Uruguai). Brasil é um país que neste momento tem muitos extremos por ambos os lados e jogando em grandes times do mundo em bom nível. O substituto que disponha o rival para resolver a ausência de Vinicius não será uma opção fácil de neutralizar.

Preocupações para o jogo?
— Normalmente, eu me fixo em que setor de campo jogamos, como recuperamos a bola, quando a recuperamos, se criamos perigo, de que modo criamos perigo, o modo como recuperamos a bola e buscamos o ataque representa o estilo que queremos que tenha a equipe. São essas as avaliações que faço. Em alguns aspectos as conclusões são melhores, em outras há coisas para corrigir. Mas, considerando a quantidade de tempo que há entre jogos para recuperação necessária, as correções são mais verbais ou através de imagens do que em treinos.

Qual a melhor seleção?

— Há uma equipa revelação que é a que mais cativou com os momentos que produziu, que é a Colômbia, uma seleção que é valorizada por unanimidade. Eles têm muitos atacantes e no futebol isso não é comum, tem mais de uma opção para cada posição, sem grandes diferenças de quem inicia para quem entra, porque jogam nas melhores ligas do mundo e competem com naturalidade. Ou seja, às novidades e ao predomínio do futebol criativo junta-se agora o que é essencial para sobreviver no futebol de hoje.

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