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Por Juliana Baptista, para o Eu Atleta — São Paulo


Quando exageramos no consumo de bebidas alcóolicas, no dia seguinte é comum nos sentirmos muito indispostos. E para não interromper a frequência dos treinos, algumas pessoas insistem em fazer exercícios com ressaca, uma opção perigosa. Mas afinal, o que acontece no corpo quando a gente treina com ressaca? Primeiro, vamos ver alguns sintomas do problema.

Os principais sintomas da ressaca são:

  • Sede
  • Dor de cabeça
  • Fotossensibilidade
  • Náuseas
  • Indisposição
  • Falta de apetite
  • Alterações no humor

Como fazer exercícios com ressaca afeta o organismo

Treinar de ressaca acelera a fadiga, causa náuseas e dores de cabeça e aumenta o risco de lesões — Foto: Istock Getty Images

É importante entender como o álcool consegue impactar nosso organismo em diversas frentes. O médico do esporte Pablius Staduto Braga explica:

  • Baixo estoque energético

O álcool afeta o metabolismo, deixando-o mais lento, além de fazer o organismo consumir carboidratos de forma irregular, reduzindo o estoque de energia, fundamental para um treinamento adequado. Outro efeito da mudança no metabolismo é um aumento de cortisol, hormônio responsável por recrutar energia em momentos de estresse. Com isso, há um aumento da percepção de esforço durante a atividade física.

  • Fadiga, baixa disposição e falta de concentração

A redução na energia causa fadiga, baixa disposição e falta de concentração nos treinos - e no dia todo, na verdade. Além disso, é muito comum que, após exagerar na bebida, a noite de sono seja prejudicada. Pode-se até dormir muito, mas é um sono sem qualidade, o que também afeta a concentração e qualidade dos exercícios. Então, além de se sentir mais cansado, a falta de concentração pode colaborar com a ocorrência de alguma lesão durante a atividade física.

  • Desidratação

Conforme as bebidas alcoólicas são ingeridas, ocorre um efeito de desidratação, pois o álcool diminui a produção do hormônio que regula a eliminação da urina e compete com a água na absorção pelo intestino. Esta desidratação limita as reações celulares e, consequentemente, reduz o tempo de resposta do corpo.

  • Náuseas e dores de cabeça

A perda de líquidos corporais em decorrência do consumo de bebidas alcoólicas pode causar dores de cabeça, em menor ou maior grau, dependendo da pessoa, além de náuseas e indisposição alimentar. Ou seja, a concentração estará prejudicada e você não sentirá vontade de comer bem. Tanto o estoque energético quanto o foco ficarão comprometidos, afetando a performance esportiva e aumentando os riscos de lesão.

  • Risco de hipoglicemia

Com a indisposição alimentar, a pessoa pode acabar não fazendo uma ingestão adequada de carboidratos. Com isso, durante o exercício pode haver uma baixa de glicose no sangue, a chamada hipoglicemia, gerando sintomas como confusão mental, palpitações, tremores e ansiedade.

  • Aumento do risco de lesões

Ainda sobre a desidratação, existe um mito sobre ser positivo fazer exercícios físicos de alta intensidade no dia seguinte da bebedeira, para que o corpo “elimine” o álcool através do suor. Na verdade, esta prática aumenta o estado de desidratação do corpo, prejudica a reposição de glicogênio dos músculos e intensifica a perda de nutrientes e minerais. Ou seja, se você for treinar no dia seguinte de beber muito, com ressaca, vai correr o risco de fazer com que a sua musculatura fique comprometida. Outro ponto importante a ser ressaltado é que o organismo pode precisar de um tempo maior de recuperação após o exercício.

  • Piora no desempenho

A atenção e o foco nas estratégias competitivas podem ser sensivelmente comprometidas devido à diminuição de metabolismo e pela ação direta sobre os estímulos de nervos e sentidos e percepção. Assim, as chances de embate e disputa diminuem consideravelmente.

  • Aumento das dores musculares

O risco principal de se treinar com ressaca é a diminuição de estímulos para a produção do hormônio de crescimento, que é o principal responsável pelo efeito anabólico e de ganhos ao condicionamento muscular. Desta forma, o período de dor muscular e a sua intensidade devem aumentar, fazendo com que o corpo precise de um tempo maior de recuperação e reação.

  • Aumento da pressão arterial e interferência na frequência cardíaca

O álcool ainda pode interferir na pressão arterial e na frequência cardíaca, já que sob efeitos do cortisol, o batimento cardíaco estará maior em repouso, o que diminui a capacidade para se exercitar naquele período em que o álcool ainda estiver agindo no organismo ou tiver deixado seus efeitos. Isso pode ainda causar taquicardia e arritmia cardíaca durante o exercício.

O álcool também pode aumentar da pressão arterial. Como esse aumento também acontece naturalmente durante o exercício, treinar com a pressão já elevada pode ocasionar um pico de hipertensão.

O álcool pode interferir na pressão arterial e na frequência cardíaca, causando taquicardia e arritmia cardíaca durante o exercício — Foto: Istock Getty Images

O que fazer no dia da ressaca?

A ressaca, como vimos, não é curada com exercícios físicos. Na verdade, são necessárias três coisinhas simples e fundamentais:

  1. Repouso
  2. Alimentação adequada
  3. Hidratação

Portanto, no dia da ressaca, para dar uma ajudinha na recuperação do fígado e também atenuar os efeitos do álcool na mucosa estomacal, é muito importante beber água ou água de coco (que é rica em sais minerais) e comer frutas ao longo do dia.

E também é recomendado fazer repouso e dar um tempo para que o corpo se recupere dos sintomas e você possa retornar a sua rotina de exercícios. Se em algum momento do dia você se sentir mais disposto, pode até arriscar uma caminhada leve, um alongamento ou até mesmo uma atividade de baixo gasto calórico, mas nada de forçar muito seu corpo!

Fonte: Pablius Staduto Braga (@pablius_medsport) é médico especialista em Medicina do Esporte pela SBMEE/AMB, Reumatologia pela UNIFESP e Clínica Médica pela PUC (São Paulo). Foi Vice-Presidente da Sociedade Paulista de Medicina do Exercício e do Esporte (SPAMDE) e editor associado da Revista Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte. Diretor do laboratório de ergoespirometria e calorimetria indireta do Hospital Nove de Julho.

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