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Por Turibio Barros e Gerseli Angeli

Mestres e doutores em Fisiologia do Exercício pela UNIFESP-EPM

Campos do Jordão, SP


Cãibras, por incrível que possa parecer, ainda se constituem em um problema de difícil entendimento, apesar de inúmeros estudos e diferentes abordagens já realizados por cientistas no mundo todo.

O que já se sabe, há algum tempo, é que não existe uma única causa para as cãibras, como também que existem diferentes manifestações desse quadro.

Cãibra na perna EU Atleta — Foto: iStock

Apesar de as cãibras se manifestarem em diferentes circunstâncias, o quadro que sempre teve maior visibilidade é o das cãibras induzidas por exercícios físicos, que acometem tanto os praticantes de exercícios de natureza recreacional, quanto os atletas de alto rendimento, os quais muitas vezes têm a atividade competitiva interrompida precocemente pelo problema.

Cãibras durante ou após o exercício são as que têm sido mais estudadas nas ciências do esporte. Um dos estudos mais recentes e completos sobre o tema foi publicado recentemente por um grupo de pesquisadores de diferentes universidades americanas.

Cãibra: causas

Cãibra induzida pelo exercício é abordada por diferentes teorias:

1. Teoria da desidratação e da perda de sais minerais pelo suor

Esta é a hipótese mais antiga e está baseada na explicação de que a perda de líquidos e sais minerais pelo suor, principalmente o sódio, provoque estímulos químicos e mecânicos nas terminações nervosas dos músculos solicitados e cause aquele espasmo contráctil doloroso e incapacitante.

Apesar de ser a mais abordada, a teoria é contestada por cientistas que relatam estudos com resultados contraditórios, nos levando a crer que esta explicação pode justificar as cãibras em alguns praticantes de exercícios, enquanto outros, apesar de sofrerem quadro severos de desidratação e perda de eletrólitos, não são suscetíveis às cãibras durante ou após exercícios.

2. Teoria da alteração do controle neuromuscular

Foi inicialmente proposta em 1997 e revisada em 2009, sendo, portanto, muito mais recente e, podemos dizer um pouco, mais complexa. Ela seria a comprovação científica do que sempre ouvimos falar a respeito da fadiga muscular provocando cãibras.

O mecanismo seria a existência de um "descontrole" de coordenação motora induzido pela fadiga e, portanto, de causa essencialmente neurológica. Mesmo essa teoria é suscetível a críticas e contestações.

3. Teoria multifatorial

Essa proposta é bem mais recente e data de uma publicação de 2020 e aborda a possível causa das cãibras como uma reação em cadeia decorrente de inúmeros fatores de risco, intrínsecos e extrínsecos. Cita-se o exemplo de um atleta que sofre uma lesão. Essa lesão causa descondicionamento, dor e inabilidade de sustentar a mesma intensidade e duração de exercício de antes da lesão. Estes fatores de risco interagem e alteram o controle motor provocando caibras.

Cãibra: o que fazer

1. Repouso e agentes analgésicos

O indivíduo deve ser posto em uma posição de conforto e serem utilizados procedimentos de analgesia, como aplicação de gelo, massagens e estimulação elétrica dos músculos

2. Alongamento

A forma mais rápida e eficaz de tratar as cãibras é o alongamento estático, que ajuda a equilibrar o descontrole motor entre músculos antagônicos, promovendo o relaxamento.

3. Reidratação

Mesmo com as contestações da teoria da causa por desidratação, é fortemente recomendada a reidratação com soluções eletrolíticas isotônicas.

Cãibra: prevenção

A mesma falta de consenso absoluto no que diz respeito às causas, há a falta de consenso sobre a prevenção, mas algumas conclusões podemos dizer que são bastante respeitadas. São elas:

  • Bananas não têm efeito;
  • Alongamento profilático não funciona;
  • Bom condicionamento físico previne;
  • Boa hidratação previne;
  • Fortalecimento e equilíbrio muscular previne.

Concluindo, podemos dizer que tudo leva a crer que as cãibras são mesmo um quadro multifatorial e que existem grandes diferenças de suscetibilidade individual, decorrentes da importância e da prevalência desses diferentes fatores entre diferentes indivíduos.

* As informações e opiniões emitidas neste texto são de inteira responsabilidade do autor, não correspondendo, necessariamente, ao ponto de vista do ge / Eu Atleta.

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