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Por Adriano Leonardi

Médico do esporte e ortopedista especialista em traumatologia do esporte e cirurgia do joelho. Membro da Sociedade Paulista de Medicina Desportiva

São Paulo


O tornozelo é formado pelos dois ossos da perna (tíbia e fíbula) e pelo tálus, o grande osso do pé que conecta a tíbia e a fíbula. O tálus é um osso único em forma de cúpula, não possui inserções musculares e é mais coberto por cartilagem articular de qualquer osso do corpo, representando aproximadamente 60% de sua área de superfície.

As superfícies articulares do tornozelo são cobertas por uma camada lisa e branca de cartilagem. Este tecido fino, mas muito durável, ajuda a amortecer o tornozelo e permite que ele se mova suavemente. Esta é a "lacuna" que aparece entre os ossos nos raios-x.

Cartilagem tornozelo — Foto: Istock Getty Images

Estatisticamente, os entorses de tornozelo continuam sendo as lesões mais frequentes em atividades esportivas. Algumas décadas atrás, as entorses de tornozelo eram consideradas lesões que não estavam associadas a nenhum dano substancial. Em consideradas banais e autorresolutivas por ortopedistas.

No entanto, os últimos 20 anos mostraram que elas não são tão inofensivas quanto se pensava. O desenvolvimento de lesões de cartilagem após uma entorse de tornozelo certamente é motivo de reflexão. O processo de degradação da cartilagem do tornozelo após uma lesão no tornozelo se assemelha a uma cascata. Cada estágio configura ou “desce” para o próximo estágio de dano à cartilagem na articulação do tornozelo.

Quais são os estágios de lesão de cartilagem do tornozelo?

  • Estágio 1 - A cartilagem articular está intacta. Pode haver presença de fratura por compressão subcondral (abaixo da articulação);
  • Estágio 2 - A lesão é parcialmente destacada de sua origem;
  • Estágio 3 - A lesão é completamente destacada, mas permanece na mesma posição aproximada;
  • Estágio 4 - A lesão está completamente descolada e se moveu para outra parte da articulação do tornozelo.

Como ocorrem as lesões da cartilagem do tornozelo?

— Foto: infoesporte

Em uma lesão no tornozelo causada por um entorse grave durante uma partida de tenis ou futebol, por exemplo, a cartilagem pode ser danificada e isso geralmente ocorre no osso denomindo de tálus, em dois pontos distintos:

  • Lesão cartilaginosa anterolateral

Essa lesão está localizada na região frontal lateral da cúpula do tálus. Isso geralmente ocorre devido a lesões em com o peso do atleta caindo para fora. Essa área da cartilagem do tálus “esbarra” na fíbula, danificando a cartilagem.

  • Lesão cartilaginosa talar posteromedial

Esta lesão está localizada na região de dentro do tálus. Embora este seja o local mais comum do TOC, sua associação com lesões é menos consistente.

Sintomas de lesões da cartilagem do tornozelo

Os sintomas cartilaginosos costumam demorar para aparecer. Geralmente ocorrem depois de meses ou anos de um ou mais entroses de tornozelo, muitas vezes considerados como banais, e podem incluir o seguinte:

  1. Dor e inchaço durando mais de 2 meses após entorse de tornozelo. A dor geralmente é sentida “no fundo do tornozelo”;
  2. Clique, estalo ou bloqueio do tornozelo.

Como é diagnosticada a lesão da cartilagem do tornozelo?

O diagnóstico de lesão da cartilagem do tornozelo inclui:

  • Histórico médico completo
  • Exame físico
  • Exames complementares de imagem, entre eles: raio-x do tornozelo; tomografia computadorizada; e ressonância magnética.

Como são tratadas as lesões da cartilagem do tornozelo?

O tratamento vai depender do estágio da lesão. Para os estágios 1 e 2, o não cirúrgico certamente será a melhor opção.

Recursos condroprotetores (que protegem a cartilagem) como a infiltração guiada por ultrassom com ácido hialurônico e outros ortobiologicos associados a fisioterapia e melhoria da qualidade do movimento são a chave para o tratamento bem sucedido e retorno ao esporte. Durante o tratamento, é importante reduzir as atividades de impacto. Isso significa optar por exercícios de ciclismo e piscina em vez de corrida, por exemplo.

A cirurgia é indicada quando fragmentos soltos migram ao redor do tornozelo ou quando tratamentos não cirúrgicos não aliviam a dor e o inchaço no tornozelo. Envolve artroscopia do tornozelo e tratamento da cartilagem. Dependendo do tamanho e da profundidade do dano da cartilagem, as opções incluem:

  • Desbridamento e perfuração (microfratura) da cartilagem e microfratura para estimular a cicatrização;
  • Fixação com parafuso de grandes fragmentos osteocondrais (incomum);
  • Transplante de cartilagem do joelho para o tornozelo;
  • Enxerto ósseo;
  • Cirurgia aberta para técnicas regenerativas como a membrana de colágeno (técnica AMIC).

Se houver instabilidade do tornozelo associada, isso geralmente é tratado ao mesmo tempo através da reconstrução ligamentar.

Na maioria dos casos, a recuperação requer duas semanas de descanso, exercícios leves, muletas, seguidas de dois meses de baixo impacto. A recuperação final ocorre após seis meses. Mais de 80% dos pacientes se recuperam com esta cirurgia, mas a recidiva é possível.

Até a próxima! @dr.adrianoleonardi

Referência:

* As informações e opiniões emitidas neste texto são de inteira responsabilidade do autor, não correspondendo, necessariamente, ao ponto de vista do Ge / Eu Atleta.

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