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Por Gabriel Oliveira — São Paulo


Miguel Pereira dos Santos, de 17 anos, se considera campeão antes mesmo de entrar nas competições de corrida e tiro com arco para as quais passou a se dedicar desde que terminou o tratamento para uma grave infecção na coluna vertebral. No auge da pandemia de Covid-19, o adolescente de São Gonçalo (RJ) teve osteomielite lombar e sacroileíte, passou seis meses internado, chegou a sofrer sepse e correu o risco de morrer e, sobrevivendo, de nunca mais andar. Terminado o tratamento de dois anos, o jovem tem se destacado no esporte.

— Além de poder andar normalmente e voltar a ter uma vida relativamente normal, é motivo de felicidade ser campeão antes de entrar na competição por ter vencido um momento tão complicado como esse — celebra Miguel, que tem 11 pódios em 21 corridas e é o 1º colocado no ranking brasileiro sub-18 de tiro com arco.

Miguel Pereira dos Santos com medalha em prova de corrida — Foto: Reprodução/Instagram

Depois de dois anos de tratamento, sendo seis meses hospitalizado, o jovem recebeu o aval do médico para praticar atividades físicas, algo que era do gosto dele antes da doença, mas que se tornou ainda mais importante depois dela.

— Para uma pessoa que poderia ter morrido ou estar na cadeira de rodas, era para fazer tudo que pudesse e aproveitar a vida da melhor maneira — conta a mãe de Miguel, a técnica de radiologia Eliane Pereira da Silva, de 35 anos.

Doença e risco de vida

Miguel começou a reclamar de dores pelo corpo e na coluna e a ter dificuldades para andar no início de 2020, aos 13 anos. Quando fez os exames no Hospital Estadual Alberto Torres, recebeu o diagnóstico de osteomielite - uma inflamação do osso, no caso dele, causada por bactéria. A infecção era grave: a bactéria destruiu partes de três vértebras, discos e músculos da coluna.

Durante a internação, o adolescente ainda desenvolveu sacroileíte - uma condição inflamatória da articulação sacro-ilíaca - e chegou a ter sepse - uma inflamação generalizada causada por uma resposta exagerada do organismo a uma infecção. Segundo a mãe, havia risco de vida.

— Na época, eu não entendia muito bem o que estava acontecendo, mas eu estava sentindo o que estava acontecendo por não conseguir andar direito e estar deitado direto. Eu não entendia que as pessoas estavam se despedindo de mim quando faziam as minhas vontades. Eu só achava que eu estava melhorando e que eu iria sair logo dali, só que, na verdade, eu não estava — relembra Miguel.

— Foi um período bem assustador, porque eu não sabia o que iria acontecer, se iria estar bem no dia seguinte, se iria piorar no dia seguinte, se iria estar vivo no dia seguinte.

Miguel na época da internação no hospital — Foto: Arquivo pessoal

Além da luta pela sobrevivência, Miguel tinha a preocupação de como seria a vida dele dali em diante. Ele corria o risco de não conseguir voltar a andar, segundo a mãe.

— Era uma das preocupações diárias, se eu poderia voltar a viver como vivia antigamente e a andar normalmente. Na época do leito, eu não conseguia nem me mexer direito. Qualquer mínimo movimento já doía. Até para rir doía — conta Miguel.

Depois de seis meses de internação, com a aplicação venosa de três antibióticos fortíssimos, Miguel pôde continuar o tratamento em casa, já que, como ele é asmático, havia o risco de complicações em caso de infecção por Covid-19 no hospital.

Mesmo em casa, Miguel passava a maioria do tempo deitado e precisava ir uma vez por semana ao hospital para fazer exames e ser examinado pelo médico.

Miguel na época da internação no hospital — Foto: Arquivo pessoal

Recuperação cuidadosa

Nesse longo período, a fisioterapia a que Miguel era submetido, no hospital e em casa, tinha de ser cuidadosa. Nem pouco, para não deixar as vértebras calcificarem juntas, nem muito, para não correr o risco de elas deslocarem. Nos dois cenários, o resultado seria a limitação dos movimentos, o que provavelmente o impediria de andar de novo.

— Tinha que fazer o movimento, mas não podia ser muito, porque, se fizesse muito, como estavam faltando pedaços, a vértebra poderia escorregar e deslocar. Se fizesse pouco, como estava no processo de calcificação, a vértebra poderia calcificar uma com a outra, uma vez que o disco que fica entre as vértebras tinha sido "comido" também — relata Eliane.

Ele melhorou e, aos poucos, recuperou os movimentos, saindo da cama para a cadeira de rodas e depois para o andador antes de caminhar sem o aparelho. No total, até o jovem receber alta em definitivo, o tratamento e a reabilitação para restabelecimento da mobilidade duraram dois anos.

— A coluna não se regenera. Falta pedaço até hoje, mas calcificou direitinho o que tinha de calcificar. A mobilidade dele está preservada — conta a mãe.

Miguel pratica tiro com arco — Foto: Arquivo pessoal

Dedicação ao esporte

Foi por incentivo dela que Miguel começou a correr, primeiro a acompanhando em treinos e depois competindo. Na prova de estreia, de 5 km, em abril de 2022, o adolescente, com 15 anos, já conseguiu o 1º lugar na faixa etária dele. De lá para cá, são 21 corridas disputadas, com pódio em 11 delas, sendo três 1º lugar, segundo contagem da mãe.

Em maio de 2022, Miguel começou a treinar tiro com arco por se encantar pela modalidade em razão dos arcos e flechas que recebia de presente do avô. Assim como na corrida, logo se destacou, chegou ao topo do ranking do sub-18 e entrou para a seleção brasileira de base.

Assim, o esporte se tornou parte essencial da vida do adolescente.

— Eu comecei a fazer pensando em saúde e experiência. Só que, com o tempo, passei a ver como uma veia competitiva, porque eu gostava bastante daquilo. Fui querendo mais e subindo de nível. Comecei a querer competir de verdade. Hoje, o esporte é o que eu quero para a minha vida — diz Miguel.

O próximo desafio dele será a prova de 5 km da Maratona do Rio de Janeiro, evento do qual participa pela segunda vez.

— Todo atleta quando vai para uma prova, quer o 1º lugar, né. Nem sempre consegue. Quero fazer o meu melhor nesta prova dentro das minhas possibilidades — almeja Miguel, esperançoso com o seu futuro no esporte.

Miguel fazendo alongamento em dia de corrida — Foto: Arquivo pessoal

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