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Por Isabella Pilegis, para o EU Atleta — Guarulhos, SP


Depressão é uma das principais causas de incapacidade no mundo e provoca graves efeitos na alimentação, no padrão de sono e em outros muitos aspectos do cotidiano. Embora a Medicina reconheça diversos tipos de tratamentos eficazes no combate à depressão, menos da metade das pessoas doentes é tratada adequadamente, segundo a Organização Panamericana de Saúde (OPAS). Nesse sentido, a prática de exercícios é complemento importante aos tratamentos medicamentosos e à psicoterapia.

Yoga é uma das práticas que podem colaborar para o tratamento de depressão — Foto: iStock

Países como Estados Unidos, Reino Unido e Austrália têm, em suas diretrizes de prática clínica, a recomendação de atividade física como parte do tratamento para a depressão. Elas não dão, porém, recomendações claras e consistentes sobre a dose ou a modalidade de exercício.

Para preencher essa lacuna, uma equipe de pesquisadores de quatro países comparou a prática de diferentes modalidades de exercícios físicos com outros tratamentos, como a psicoterapia, antidepressivos e cuidados habituais.

Exercícios para tratar depressão

O estudo, realizado com 14.170 participantes e publicado no British Medical Journal (BJM), concluiu que os exercícios físicos são tratamento eficaz para a depressão, sendo caminhada, corrida, yoga e treinamento de força mais eficazes do que outras modalidades, e que os efeitos do exercício são proporcionais à intensidade prescrita.

O endocrinologista e médico do esporte Guilherme Renke explica que a ação da atividade física para a melhora da saúde mental dos praticantes tem relação com o aumento da produção de substâncias no corpo.

— O exercício físico produz substâncias, inclusive aumento da serotonina e da dopamina. A serotonina e a dopamina estão intimamente relacionadas com o sistema nervoso central e melhoram a sensação de bem-estar. Isso sem falar das endorfinas que são produzidas no exercício e que também dão a sensação de relaxamento.

Os pesquisadores responsáveis pelo estudo ainda encontraram evidências de que o exercício aumenta os efeitos de medicamentos antidepressivos do tipo Inibidores Seletivos de Recaptação de Serotonina (ISRS), sendo, portanto, poderoso aliado de tratamentos convencionais como a farmacoterapia.

Isso acontece porque "o exercício aumenta a oxigenação cerebral e a chegada do aporte de nutrientes, e isso eleva o metabolismo celular e, consequentemente, potencializa a ação dos medicamentos", explica o médico do esporte.

Os resultados da pesquisa pareceram igualmente eficazes para pessoas com diferentes níveis iniciais de depressão. No entanto, os efeitos pareceram diferir de acordo com o sexo e a idade dos participantes.

Diferenças entre gêneros e idades

Dentre as mulheres, os treinos de força e ciclismo aparentaram ter maior efeito, enquanto que, para os homens, os efeitos pareceram ser maiores quando prescritas modalidades como yoga, tai chi e exercícios aeróbicos juntamente com psicoterapia.

Além disso, a prática de yoga e exercícios aeróbicos, juntamente com a psicoterapia, pareceram mais eficazes para os participantes mais velhos do que para os mais jovens, para os quais o treinamento de força aparentou ter maior eficácia.

Posturas de yoga que trabalham com a base e a força

Posturas de yoga que trabalham com a base e a força

Qualquer exercício é bem-vindo

O estudo fornece caminhos para a prática de exercícios, mas, segundo o psiquiatra Higor Caldato, no tratamento da depressão, o exercício mais indicado é aquele "possível para o momento".

— Ainda temos pouco consenso de qual o melhor exercício. Estudos recentes alegam que exercícios mais vigorosos como o de força podem ser mais interessantes por apresentarem maior liberação de endorfinas, mas outros mostram que os exercícios aeróbicos são excelentes por permitirem melhor irrigação sanguínea do cérebro e, com isso, mais oxigênio e nutrientes chegam em áreas afetadas pela depressão, promovendo nessas regiões maior potencial na formação de novos neurônios e restabelecimento de conexões neuronais existentes, além de influenciar positivamente em áreas cerebrais responsáveis pelo planejamento, tomada de decisões e aprendizagem, fazendo com que o paciente deprimido consiga se sentir mais funcional — detalha o profissional.

A recomendação do especialista é para que o paciente deprimido mantenha-se ativo, pois mesmo exercícios menos intensos podem ser uma oportunidade de saída do isolamento social.

— Ele [o exercício] ajuda no desenvolvimento da autoestima, no controle do estresse ao reduzir níveis de cortisol no corpo. Pde servir como uma distração positiva para aliviar os pensamentos negativos próprios da depressão — aponta Higor.

No momento de decidir sobre a modalidade, a intensidade e a frequência da prática a ser realizada, é fundamental consultar um especialista.

— Mais importante que a frequência, é a pessoa realizar o exercício com acompanhamento de um profissional ou educador físico ou fisioterapeuta — destaca Guilherme.

Uma vez que a depressão possui diversas causas - genéticas, bioquímicas, psicológicas, familiares e ambientais -, também conta com diversas possibilidades de tratamento, sendo o exercício físico um importante aliado na melhora da saúde mental e de uma série de resultados físicos e cognitivos.

Fonte:

Guilherme Renke (@endocrinorenke), sócio fundador do Instituto Nutrindo Ideais (@nutrindoideais), é médico formado pela Universidade Estácio de Sá, emembro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM). É médico do esporte com título de especialista pela Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte e possui aprimoramento em Endocrinologia pela Harvard Medical School.

Higor Caldato (@drhigorcaldato) é médico psiquiatra formado pelo Instituto Tocantinense Presidente Antônio Carlos (ITPAC/FAHESA) e sócio do Instituto Nutrindo Ideais (@nutrindoideais), especialista em psicoterapias e transtornos alimentares.

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