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Por Luis Fernando Correia

Clínico e intensivista com certificado em Inovação pelo MIT, ex-chefe da emergência do Samaritano, o Doc hoje se dedica à divulgação de temas ligados à saúde

Washington, D.C.


Pesquisadores da Universidade de Vrije, de Amsterdã, apresentaram o primeiro estudo que compara os efeitos dos medicamentos antidepressivos com exercícios de corrida para o combate da ansiedade, depressão e saúde geral. O resultado revela que medicamentos e corrida têm aproximadamente os mesmos benefícios para a saúde mental, e que um treinamento de corrida de 16 semanas tem pontuações mais altas em termos de melhoria da saúde física, enquanto os antidepressivos levam a uma condição física ligeiramente pior, como sugerido por estudos anteriores. No entanto, a taxa de abandono foi muito maior no grupo que inicialmente optou pelo exercício.

Este trabalho foi apresentado no 36º Congresso Colégio Europeu de Neuropsicofarmacologia, que termina neste dia 10 de outubro de 2023 em Barcelona, na Espanha.

Segundo estudo, medicamentos antidepressivos e corrida têm aproximadamente os mesmos benefícios para a saúde mental — Foto: Istock Getty Images

Os pesquisadores queriam comparar como o exercício ou os antidepressivos afetam a saúde geral, não apenas mental. Por isso, acompanharam 141 pacientes com depressão e/ou ansiedade. O grupo pôde escolher entre antidepressivos ou terapia de corrida em grupo, ambos por 16 semanas: 45 optaram pelos medicamentos e 96 pelas corridas. Os membros do grupo que escolheram os antidepressivos estavam um pouco mais deprimidos do que os do grupo que optaram por correr.

Segundo os cientistas foi oferecido às pessoas ansiosas e deprimidas uma escolha de “vida real”: medicação ou exercício. E, curiosamente, a maioria optou pelo exercício, o que fez com que os números no grupo de corrida fossem maiores do que os de medicação.

  • O tratamento com antidepressivos exigiu que os pacientes aderissem à ingestão de medicamentos prescritos, mas isso geralmente não tem impacto direto nos comportamentos diários. O grupo antidepressivo usou Escitalopram ISRS por 16 semanas.
  • Em contraste, o exercício aborda diretamente o estilo de vida sedentário frequentemente encontrado em pacientes com transtornos depressivos e de ansiedade, incentivando as pessoas a sairem de casa, estabelecerem metas pessoais, melhorarem a condição física e participarem em atividades de grupo. A meta do time de corrida era fazer duas a três sessões supervisionadas, de 45 minutos por semana (durante 16 semanas). A adesão ao protocolo foi menor no grupo de corrida (52%) do que no de antidepressivos (82%), apesar da preferência inicial.

No fim do ensaio, cerca de 44%% dos participantes de ambos os grupos apresentaram melhora na depressão e na ansiedade, no entanto o grupo de corrida também melhorou o peso, circunferência da cintura, pressão arterial e função cardíaca, enquanto o grupo antidepressivo mostrou uma tendência para uma ligeira deterioração nos marcadores metabólicos.

As intervenções ajudaram no tratamento da depressão na mesma medida. Já é conhecido que, de modo geral, os antidepressivos têm um impacto pior no peso corporal, na variabilidade da frequência cardíaca e na pressão arterial, enquanto a corrida leva à melhora no condicionamento físico geral e na frequência cardíaca, por exemplo.

Segundo os pesquisadores, é importante ressaltar que há espaço para ambas as terapias no cuidado da depressão. O estudo mostra que muitas pessoas gostam da ideia de fazer exercício, mas pode ser difícil realizar a tarefa, embora os benefícios sejam significativos. Além disso, os antidepressivos são geralmente seguros e eficazes e funcionam para a maioria das pessoas. Mas é preciso aumentar as possibilidades de tratamento, uma vez que nem todos os pacientes respondem às medicações ou estão dispostos a usar. Os resultados desse estudo sugerem que a implementação da terapia com exercícios é algo que deve ser levado a sério, pois pode ser uma boa escolha para alguns dos nossos pacientes.

*As informações e opiniões emitidas neste texto são de inteira responsabilidade do autor, não correspondendo, necessariamente, ao ponto de vista do ge / Eu Atleta.

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