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Por Rebeca Letieri, para o Eu Atleta — Rio de Janeiro


Pandemia de Covid-19, crise política e econômica, múltiplas funções e sobrecarga de demandas são alguns dos motivos descritos por especialistas para explicar o aumento de casos de pessoas com depressão. O cenário mundial pós advento da pandemia gera uma série de consequências para a saúde mental que ainda precisarão ser muito estudadas e investigadas por especialistas. Resultados da Pesquisa Vigitel 2021, realizada pelo Ministério da Saúde e publicada no fim de abril, apontam que o número de brasileiros com depressão (11,3%) já é maior que o número de portadores de diabetes (9,1%). O estudo revela ainda que esse número já ultrapassa o estimado pela Organização Mundial da Saúde (5,3% da população brasileira).

Depressão eu atleta — Foto: Istock Getty Images

De acordo com o médico endocrinologista Rodrigo Mendes, os transtornos depressivos apresentam múltiplas causas, como genéticos, ambientais, psicossociais, alteração dos níveis de neurotransmissores, desregulação neuroendócrina, bem como o uso de alguns medicamentos, abuso de drogas recreativas ou abstinência das mesmas. A psicóloga Cecilia Guimarães reforça que é difícil apontar apenas uma causa.

– A saúde é conceituada pela OMS não apenas como ausência de doenças e sim como um estado de completo bem-estar biopsicossocial. A pandemia do covid-19, por exemplo, assolou o mundo inteiro, mas cada um estava em um barco diferente, embora estivesse na mesma maré. O excesso de mortes de entes queridos, o desemprego, a falta de perspectiva, a visão pessimista de futuro, a incerteza, a vivência de uma vida que não tem significado para além de sobrevivência, excesso de estresse laboral e familiar, a falta de informação e de recursos para minimizar e tratar os episódios depressivos, que de leve podem se tornar moderado e grave, cronificando os casos – acrescenta a psicóloga.

Causas:

A depressão deve ser avaliada por um médico e ou psicólogo. Baseada em características clínicas e no diagnóstico diferencial entre depressão e transtorno de ansiedade, a depressão pode ser, por exemplo:

  1. Associada a afecções clínicas, como, por exemplo, o diabete;
  2. Como sintoma de doenças físicas que podem mascarar a depressão, tais como doenças cardiovasculares, câncer e depressões secundárias devido à hospitalização ou tratamentos prolongados;
  3. Como efeito colateral de medicações e outros tratamentos especializados, como, por exemplo, radioterapia;
  4. Como transtorno psiquiátrico, como, por exemplo, o transtorno bipolar.

– Os episódios de depressão alteram o humor vital que interfere na vida cotidiana, levando a um quadro disfuncional que acarreta prejuízos na saúde e na vida afetiva, familiar, cognitiva e laboral do indivíduo. Os episódios depressivos podem ser de nível leve, moderado ou grave. Em todos os casos podem apresentar sintomas, como, por exemplo, humor deprimido, perda de interesse e prazer, energia reduzida levando ao aumento de fadiga, visões desoladas e pessimistas sobre o futuro, ideias de culpa e inutilidade, ideias e atos autolesivos ou suicídio, sono perturbado e apetite diminuído – explica Cecília.

Pesquisas indicam ainda que a taxa de depressão nas mulheres é 30% mais elevada do que nos homens. Cecília explica que o transtorno de humor pode aparecer quatro semanas após o parto, no puerpério, na chamada depressão pós-parto. Além disso, há outras causas, como questões sociais que estigmatizam e inferiorizam as mulheres, desde salários mais baixos, quando comparados aos homens que ocupam o mesmo cargo; acúmulo de papéis sociais (mãe, esposa, dona de casa, profissional); até assédio moral e sexual no ambiente laboral e familiar.

– É importante cultivar relacionamentos saudáveis, ter rede de apoio, uma vida significativa, qualidade de vida, prática de exercício físico, alimentação saudável e dormir bem. Tudo isso pode ajudar na prevenção – acrescenta.

O endocrinologista e professor da Unigranrio Rodrigo Mendes ressalta que o tratamento da depressão deve ser multidisciplinar, com acompanhamento psicoterápico e farmacológico, como estratégias convencionais para se obter o controle dos sintomas depressivos.

– A combinação de ambas terapias fornece uma resposta mais rápida e sustentada, devendo, no entanto, ser individualizada. Terapias interativas que envolvem meditação, tratamento das emoções e a prática regular de atividade física contribuem positivamente com o tratamento da depressão – completa.

De que forma podemos prevenir?

  • Alimentação baseada principalmente em alimentos naturais (grãos integrais, vegetais, frutas, azeite…), evitando uma dieta hipercalórica, rica em frituras e gorduras saturadas;
  • Dormir bem. O sono é extremamente importante para saúde física e mental e a sua irregularidade pode contribuir com transtornos depressivos;
  • Praticar atividade física regularmente;
  • Reservar momentos para fazer o que lhe dá prazer e buscar atividades que tragam bem-estar e tranquilidade;
  • Cultivar bons relacionamentos e estar perto de pessoas que ajudem a manter uma boa rede de apoio.

Como o exercício físico pode ajudar?

A atividade física libera hormônios que mexem com a química do cérebro, conferindo bem-estar eu atleta — Foto: Istock Getty Images

Na depressão

O organismo libera dois hormônios essenciais durante o exercício, que ajudam no tratamento da depressão: a endorfina e a dopamina. Rodrigo destaca que ambos têm interferência positiva sobre o humor e as emoções. Outro efeito comum atribuído ao exercício físico é a produção de serotonina, um neurotransmissor de grande importância, que tem a capacidade de auxiliar a regulação do humor. Com isso, a atividade física regular:

  1. Aumenta a sensação de bem-estar físico;
  2. Aumenta a sensação de bem-estar mental e emocional;
  3. Reduz os sintomas de estresse;
  4. Libera dopamina e serotonina, que contribuem para a redução dos sintomas de depressão;
  5. Melhora a autoestima e auxilia no controle do estresse;
  6. Promove sociabilização.

Na diabetes

O exercício físico é indicado tanto para pessoas com depressão quanto para diabéticos — Foto: Pixabay

O exercício físico melhora a sensibilidade de ação da insulina, auxilia a sua captação pelos tecidos e consequentemente melhora o controle da glicose no sangue. Além disso, tem o potencial de trazer benefícios para o controle do excesso de peso corporal, da pressão arterial e saúde cardiovascular, sendo muito importante no controle do diabetes e no combate a algumas de suas complicações.

Vantagens dos exercícios físicos:

  • Melhora do controle glicêmico;
  • Prevenção de doenças cardiovasculares;
  • Redução de pressão arterial;
  • Melhora do perfil lipídico (níveis de colesterol);
  • Ajuda no controle de peso.

Relação entre diabetes e depressão

Estudos clínicos demonstram que portadores de diabetes têm um risco maior de depressão. Quando o paciente não consegue obter o controle glicêmico, ou quando enfrenta as complicações do diabetes, ele “se convence” de que perdeu o controle sobre a doença. Rodrigo afirma que este pensamento é frequente na prática clínica, mas ressalta que é importante mostrar ao paciente saídas possíveis para que ele se cuide, aprenda e evolua com a sua doença, obtendo melhores resultados.

– Primeiro, é importante entender os porquês da não obtenção do controle glicêmico e o contexto das complicações agudas e crônicas do diabetes. Ainda que elas existam e mesmo que o diabetes seja uma doença crônica e progressiva, intervenções bem direcionadas e sustentadas de mudanças de estilo de vida, em combinação a um esquema terapêutico bem ajustado, sob supervisão multidisciplinar, são capazes de promover novos e bons resultados do controle glicêmico, podendo melhorar a qualidade de vida do paciente - ensina o médico.

Segundo o especialista, pessoas que são diagnosticadas com uma doença crônica, como o diabetes, apresentam três vezes mais chance de serem diagnosticadas com depressão quando comparadas com pessoas que não sofrem de nenhum problema de saúde crônico. Estima-se que pelo menos um terço das pessoas com diabetes sofrem de transtornos depressivos. Por outro lado, pessoas com transtornos depressivos também têm um risco aumentado de desenvolver diabetes.

– Mudanças neuroquímicas induzidas pelo diabetes podem contribuir para o desenvolvimento da depressão. Além disso, a rotina intensa de cuidados exigidos no tratamento do diabetes, envolvendo alimentação, medicamentos, manejo das complicações da doença junto a monitorização glicêmica quando necessário, podem influenciar no estabelecimento do quadro depressivo – explica.

O diabetes também é uma síndrome de múltiplas causas, decorrente da falta de insulina e/ou da incapacidade da insulina de exercer adequadamente seus efeitos, caracterizando-se por aumento dos níveis de glicose no sangue cronicamente. Pode ser classificado de acordo com a sua causa, compreendendo o diabetes tipo 1 (DM1), o diabetes tipo 2 (DM2), o diabetes gestacional (DMG) e outros tipos.

O endocrinologista lembra que, independente do tipo de diabetes, a base do tratamento deve ser focada em um estilo de vida saudável, através de uma alimentação equilibrada, atividade física regular e combate ao excesso de peso.

Fontes:
Rodrigo Mendes é especialista em Endocrinologia e Metabologia, e professor de Endocrinologia da Unigranrio Barra.
Cecilia Guimarães Lopez é doutoranda em Psicologia Social na Universidade Estadual do Rio de Janeiro – UERJ. Mestre em comunicação acessível no Politécnico de Leiria- Portugal / Diversidade e Inclusão -UFF; pós-graduada em Educação Híbrida, Metodologias ativas e Gestão da aprendizagem, pela Uni-américa. Master Coach pela SLAC - SP e Professora de Psicologia e Medicina na UNIGRANRIO. @ceciliamiranbn.

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