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Por Zíngara Lofrano — Rio de Janeiro


Perda de memória e falta de foco são reclamações recorrentes em pacientes pós-covid no consultório da nutricionista Julia Marques. A covid-19 é uma infecção bastante nova, com estudos limitados em relação ao tempo de análise e à amostra. Mas Julia lembra que deficiências nutricionais podem gerar prejuízos à saúde cognitiva. Para garantir a qualidade das capacidades intelectuais para quem pegou e para quem não pegou o SARS-CoV-2, a nutricionista estimula o consumo de gorduras boas, selênio e zinco, nutrientes que podem ser encontrados no abacate, azeite extravirgem e nozes.

Uma refeição com variedade nutritiva é fundamental para estabelecer uma relação saudável com a alimentação — Foto: Istock Getty Images

Um processo infeccioso, como o gerado pela covid, provoca um excessivo estresse oxidativo. Na prática, isso significa que radicais livres, que aceleram o envelhecimento das células, são liberados em maior quantidade no organismo. Com uma alimentação saudável e natural, é possível ajudar a prevenir esse quadro.

Só que Julia alerta sobre a importância de tratar os sintomas de maneira individual. Para ela, é importante acolher o paciente, entender seu contexto e rotina para, a partir dessas respostas, traçar estratégias. Após a covid, dependendo da queixa do paciente e dos resultados dos exames, pode ser necessário suplementar com nutrientes antioxidantes, mas isso não é regra. Julia inclusive alerta para a importância do uso consciente de vitaminas. Com a pandemia, a nutricionista ouviu relatos de pessoas comprando vitaminas C e D, por exemplo, sem necessidade e prescrição médica.

- A suplementação pode ser algo negativo, se não houver necessidade. É importante ter orientação, senão a gente não sabe nem se esses minerais e vitaminas estão sendo absorvidos. Com ela, você evita o estresse oxidativo, que é importante para o corpo se adaptar a mudanças. A atividade física, por exemplo, gera um estresse oxidativo nos tecidos e nas células que é positivo - explica a nutricionista.

E como funciona essa dieta? É uma alimentação colorida e natural, que evita ultraprocessados. Tem, na sua base, vegetais, cereais, legumes, arroz e feijão. As proteínas consumidas têm, nesse tipo de alimentação, origem vegetal ou de ovos e peixes. Na rotina alimentar, há consumo inteligente de oleaginosas, gordura boa e carboidratos nutritivos.

Nutrientes e alimentos amigos da memória

Para potencializar a memória, a nutricionista recomenda uma estratégia antioxidante.

Gorduras boas

  1. Abacate
  2. Azeite extravirgem

Selênio e zinco

  1. Leguminosas
  2. Oleaginosas (Castanhas de Caju e do Pará)
  3. Nozes
  4. Semente de abóbora
  5. Semente de girassol
  6. Semente de gergelim
  7. Vitamina C
  8. Frutas cítricas (laranja, tangerina, kiwi, morango, maracujá, limão, carambola, acerola, caju e goiaba)
  9. vegetais verdes escuros

Vitamina E

  1. Azeite extravirgem
  2. Castanhas do Pará e de caju
  3. Avelã
  4. Pistache
  5. Amendoim
  6. Amêndoa

Vitamina D

A nutricionista recomenda pegar sol diariamente - 15 minutos entre 10h e 16h - e avaliar, com exame médico, a necessidade de suplementação.

Ômegas 3 e 6

  1. Semente de linhaça
  2. Semente de chia

Ferro

  1. Vegetais verdes escuros
  2. Leguminosas

Fibras

  1. Legumes
  2. Frutas
  3. Vegetais
  4. Sementes e leguminosas.

Vitamina A

  1. Lácteos
  2. Azeite
  3. Frutas
  4. Legumes de cor laranja (abóbora e cenoura, damasco, tangerina, laranja)
  5. Ovos

O fator psicológico em jogo

Julia ainda aponta outra peça importante desse quebra-cabeça: com a pandemia, as pessoas vivem um momento de muito estresse, e muitos dos sintomas cognitivos também podem ser causados por ansiedade e nervosismo. Para entender esses sinais do corpo, a nutricionista recomenda observar há quanto tempo o desconforto aparece e se questionar se começou antes ou durante a pandemia.

- É preciso entender de onde vêm os sintomas. Na alimentação, a gente também fala disso. Se questione: da onde vem sua fome? É por medo de não conseguir pagar as contas por causa da pandemia? É excesso de trabalho? E a sua enxaqueca? É de estresse, de se cobrar demais, é por conta de dor de coluna, por algum alimento ingerido? Todos os sintomas precisam ser rastreados - conclui a nutricionista.

Como fortalecer a imunidade?

A alimentação plant based também fortalece a imunidade e reduz a incidência de doenças cardiovasculares. A nutricionista acrescenta que o intestino é um órgão fundamental nesse processo por ser responsável pela nossa primeira resposta imunológica.

O intestino tem relação direta com a imunidade — Foto: iStock

O intestino conta com bactérias positivas e negativas. Quando a pessoa começa um tratamento antibiótico, a barreira imunológica fica frágil e, com isso, há baixa na imunidade. Da mesma forma, quando a alimentação não está saudável, as células que ficam unidas na parede intestinal se abrem, deixando lacunas que permitem a absorção substâncias ruins, que antes seriam descartadas, pelo nosso organismo.

A base do intestino saudável é o consumo adequado de fibras (legumes, verduras, cereais, grãos, frutas e leguminosas), água (30 a 35 ml diários por quilo de peso), mínima quantidade possível de ultraprocessados. Os componentes químicos presentes nos ultraprocessados são desconhecidos pelo nosso organismo. Esses são os fatores fisiológicos possíveis de controlar. A nutricionista explica que existem ainda variáveis externas, como estresse, ansiedade e poluição do meio ambiente. Vale reforçar que uma imunidade alta não vai impedir necessariamente o contágio de doençaa como a Covid-19, mas pode promover mais saúde para enfrentar os sintomas da infecção.

Fonte: Julia Marques é nutricionista graduada pela UFRJ, pós-graduada em nutrição esportiva funcional e pós-graduanda em nutrição comportamental.

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