Quando levantou a camiseta e mostrou a cicatriz no peito, os olhos do zelador José Osmar, de 45 anos, se encheram de lágrimas. Mas o choro era de alegria por tudo que ele passou nos últimos quatro anos. Com o coração afetado pela doença de Chagas e um tratamento que não fazia mais efeito, José sofria de cansaço extremo e falta de ar. Morador da Rocinha, no Rio de Janeiro, ele ficou na fila do transplante por três meses até surgir um coração compatível para abençoá-lo com uma nova chance.
- Depois do transplante, ganhei uma vida nova. Passei a fazer tudo que não conseguia fazer antes, como uma simples caminhada ou até mesmo subir para minha casa, que tem muitos degraus e era um sufoco. Parava várias vezes e desabava no sofá quando chegava. No dia que recebi alta, subi as escadas de casa caminhando e me senti um vitorioso - afirmou.
José Osmar vai encarar a Meia Maratona do Rio no domingo — Foto: Igor Christ
Com um novo coração batendo no peito, José passou por um processo de reabilitação no hospital, que incluía leves caminhadas na esteira. Mas isso foi apenas no início. O zelador tomou gosto pela coisa e passou a arriscar umas corridinhas. O sorriso no rosto voltou com essa segunda chance.
- Perguntei ao médico se podia correr na rua e ele falou que era para eu ir com calma e no meu limite, sem exagerar. Comecei a treinar na ciclovia e me inscrevi numa prova de 5km. Depois passou para 10km e assim para 21km. Hoje, consigo correr um quilômetro em cinco minutos - destacou.
No ano passado, José encarou a Meia Maratona do Rio, que larga em São Conrado, passa por toda orla da zona sul e chega no Aterro do Flamengo. Ele aguentou bem o desafio e neste domingo vai correr a prova outra vez.
Com coração novo, José esbanja disposição e corre sempre com a camiseta de atleta transplantado — Foto: Igor Christ
- Foi demais, todos do lado de fora me aplaudindo bastante, até porque corro sempre com a minha camisa de atleta transplantado. Mostro com orgulho para que todos vejam o que sou agora. Levar essa vida saudável depois de tudo que passei é estimulante. As pessoas me elogiam durante a corrida, tiram fotos como lembrança e isso é muito gratificante - disse.
Para ter mais fôlego e energia nos treinos e provas, José não abre mão de uma alimentação saudável, com muitos legumes cozidos e frutas. Comida salgada e doces estão fora da dieta. Em casa, o atleta conta com apoio da esposa e dos filhos para seguir no ritmo certo.
- Ela vai preparar um bolo em formato de coração para comemorar na chegada da Meia os meus cincos anos de vida com o coração novo. O maior desejo é fazer a São Silvestre no fim do ano, pois correr é uma grande realização e sensação maravilhosa. Quanto mais eu corro, me sinto bem e a cabeça fica livre dos pensamentos ruins - encerrou.
José está empolgado para buscar o melhor resultado na Meia do Rio — Foto: Arquivo Pessoal
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