maratona do rio

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Por Renata Domingues — Rio de Janeiro

Uma história contada de 42 em 42km. As maratonas entraram na vida de Nilson Lima até um pouco tarde. Com 45 anos, o consultor financeiro de Uberlândia que hoje tem 65 fez sua primeira prova longa. Não curtiu a experiência. Jurou nunca mais fazer aquilo. Não cumpriu. No mesmo ano, 1998, já estava cravando o excelente tempo de 3h para os 42km, em Curitiba. Daí em diante, não parou mais. A Maratona do Rio, dia 3 de junho, será a de número 197 no seu extenso currículo. Até o fim do ano, vão ser nada menos do que 200 maratonas na conta do corredor.

- A corrida entrou na minha vida para controlar o peso, ganhar qualidade de vida. Mas a adrenalina de você acreditar que é possível fazer aquilo é o que te impulsiona. Depois que você descansa do sacrifício de terminar a maratona, vem a autoestima de acreditar que é possível. Aí comecei a engrenar uma atrás da outra - contou ele, que guarda todas as medalhas conquistadas em sua casa.

É muito mais do que correr. A paixão de Nilson pelas maratonas o levou a conhecer o mundo. Tanto que a sua 200ª maratona será nos Estados Unidos, em um desafio à parte. Em dezembro, no Havaí, ele vai fechar 50 maratonas nos 50 estados americanos. Além disso, sabe as seis mais famosas maratonas do mundo, as Majors (Chicago, Londres, Boston, Nova York, Berlim e Tóquio)? Nilson já está na segunda rodada.

- Esses desafios me empurram para frente. Seja a pessoa que está nos 5km, se inscrever na prova, conseguir fazer, isso não te deixa ficar acomodado. Se eu pudesse dar um conselho para a pessoa que está começando, é se colocar em um objetivo, se juntar com um amigo, um puxa o outro, essas coisas fazem você não parar. Correr por correr, sem objetivo, pode te fazer perder a motivação para continuar.

Nilson percorre o mundo fazendo maratonas — Foto: Arquivo pessoal

E parar não faz parte de seus planos. Enquanto as pernas ajudarem, o mineiro de 65 anos vai continuar correndo mundo afora.

- Enquanto eu estiver com saúde e em condições, vou continuar. Conhecer o país fazendo o que gosta, todas as peculiaridades de cada lugar, é uma coisa que me dá muito prazer. Você conhece lugares que não conheceria fazendo turismo. E tem a interação com pessoas que pensam da mesma forma. Fiz muitos amigos que têm os mesmos objetivos. Vai muito além do hábto de correr.

Mas como manter a saúde dos músculos e articulações com um volume tão grande de treinos e provas? Para se ter uma ideia, pela programação dele, somente este ano serão 43 maratonas, uma média de 3,5 por mês, algo muitíssimo além do recomendado. Mas Nilson é um privilegiado. Ele alterna treinos de corrida com fortalecimento muscular, mas garante não fazer nada de diferente para aguentar esse ritmo frenético.

- Tem que estar bem preparado fisicamente e com a cabeça em dia. Quando estou focado na maratona, faço quatro treinos de corrida por semana e dois de fortalecimento, musculação ou pilates. Não faço nada de diferente do habitual que todo mundo faz no dia a dia. Correr não é só correr, você tem que fazer atividades complementares de fortalecimento, educativos. Não gosto de fazer, mas acho que isso me dá equilíbrio. Sou disciplinado com essas coisas, e acho que de alguma forma existe um privilégio genético, não tenho lesão. Acho que essa questão genética me privilegia de alguma maneira - admitiu.

Coleção de respeito: as medalhas das quase 200 maratonas de Nilson — Foto: Arquivo pessoal

Conciliar a rotina de trabalho com a vida de maratonista também é outro ponto que demanda habilidade. Nilson garante que tira de letra. O fato de ser casado com uma triatleta facilita, com certeza. Mas, curiosamente, nenhuma das três filhas segue o exemplo do casal.

- Concilio meu trabalho com minhas viagens para as maratonas. Nada disso atrapalha. Sou casado e tenho três filhas. Pior é que nenhuma corre. Mas a minha esposa, sim, ela faz Ironman e já correu várias maratonas comigo - contou ele, revelando que sua maior frustração é nunca ter aprendido a nadar.

Nilson é quase uma celebridade em Uberlândia, onde tem até uma prova criada em sua homenagem, a Maratona Nilson Lima de Uberlândia, que teve sua terceira edição em abril. Mas você não precisa ser um “viciado” em maratonas para se divertir com a corrida. O próprio Nilson ressalta que a principal vantagem do esporte é justamente o fato de ele ser democrático, ou seja, pode ser praticado por qualquer pessoa, de qualquer idade e tipo físico.

- Esse é o lado bom da corrida. Você abre a porta da sua casa e já pode treinar.

Nilson Lima tem prova com o próprio nome em sua cidade — Foto: Arquivo pessoal

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