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Por Gabriel Oliveira — São Paulo


Depois do sucesso em eventos recentes, Gustavo "Baiano" adotou de vez a defesa pública de um novo modelo de transmissões para os campeonatos de League of Legends promovidos pela Riot Games. Streamer mais assistido do mundo no Mid-Season Invitational (MSI), em maio, o brasileiro sustenta que é preciso descentralizar as transmissões e ser criativo para monetizar as lives divididas com os criadores de conteúdo e revela que tem caixa para aceitar pagar pelos direitos de exibição dos torneios. Para o influenciador, as co-streams serão capazes reacender e aumentar o interesse do público no competitivo.

Baiano defende novo modelo de transmissão no LoL e diz que pagaria por direitos

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— O recado foi dado — disse Baiano por três vezes ao longo de uma entrevista ao ge, referindo-se ao sucesso no MSI 2023, na primeira vez em que a Riot liberou co-stream em campeonatos internacionais de LoL.

O canal de Baiano na Twitch teve pico de 154,5 mil espectadores simultâneos e acumulou 3 milhões de horas assistidas. Foi a personalidade com maiores números dentre os que fizeram watch parties, no MSI que bateu recorde de audiência em comparação com as edições anteriores.

De acordo com o Esports Charts, site que contabiliza estatísticas de esportes eletrônicos, as streams de comunidade responderam por cerca de um terço do total de 61,5 milhões de horas assistidas do evento. Os dados não incluem números das plataformas chinesas de streaming.

— Os resultados foram excelentes, superando qualquer expectativa, mas não as minhas, porque eu, que estou ali imerso na comunidade, sempre tive a certeza. Eu sentia a galera pedindo sempre: 'Quando o Baiano vai ter imagem?' Por dois ou três anos ouvindo o tanto de gente que queria, eu já tinha uma ideia dos números, e tem muita coisa para se fazer ainda — disse Baiano.

— Dá para reconquistar o público de LoL dos últimos dez anos, pessoas que acompanharam em um momento ou outro, reconquistar todo mundo junto de uma vez e crescer a comunidade para ela ficar forte de novo.

Baiano, streamer de League of Legends, durante o evento CBOLÃO — Foto: Divulgação/CBOLÃO

Baiano se diferencia de Gaules, mas se diz honrado com comparação e espera furar a bolha

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Ele contou que pretende se reunir em breve com a Riot para discutir a possibilidade de fazer co-streams em outros eventos, incluindo o Campeonato Brasileiro (CBLOL).

Baiano disse que a conversa sobre o CBLOL pós-MSI não ocorreu ainda porque estava focado na realização do CBOLÃO, o campeonato de LoL recreativo e beneficente do qual é criador. O evento aconteceu no fim de semana passado, também tendo sido considerado um sucesso em audiência, repercussão e estrutura.

Preocupação financeira

Um dos principais receios da desenvolvedora, que controla o cenário competitivo, é financeiro. Liberar o sinal de transmissão para outros streamers significa pulverizar a audiência em diferentes canais que não o oficial, onde os patrocinadores são exibidos.

Por isso, Baiano defende que haja um novo modelo de negócio com as transmissões.

— Tem que ter um interesse mútuo de se criar um modelo novo. Com certeza a co-stream, como provado no MSI através de números, aumenta o ecossistema e o número de visualizações geral do negócio. É óbvio, não é o jeito mais simples de monetizar, que é só pegar visualizações, vender para a marca e você já ter os números. Vai ter que ter uma criatividade. Mas, de qualquer forma, a marca é exposta para mais gente — sustentou Baiano, lembrando que, durante o MSI, deixou as propagandas da stream oficial passando na live dele.

— [Se] bem explicado, tem interesse da marca, do streamer e da comunidade. Só falta criar o modelo que vai fazer tudo isso vai funcionar, porque é interessante para todo mundo e para o ecossistema. Mais importante do que o número de visualizações em um evento, é o ecossistema crescendo. São mais pessoas falando sobre o jogo e o competitivo e acompanhando cada vez mais.

Baiano revelou que, nos últimos anos, juntou dinheiro para ter poder de comprar direitos de transmissão do LoL, se isso passar a ser possibilitado pela Riot.

— Eu sou um cara muito pé no chão em relação a tudo que eu construí até aqui. Minhas prioridades foram ajudar minha família. Eu não sou um cara que gosta muito de luxo e ostentação, eu vim me preparando nos últimos anos para ter esse capital de poder comprar direito de transmissão, quando tivesse opção, ou até de montar minha organização e pegar time no CBLOL, quem sabe. Eu vou sentindo o que vai acontecendo dessa relação com a Riot para entender até onde eu posso ir e o que eu posso fazer. Mas as opções estão na mesa.

O streamer contou que até já ofereceu à Riot arcar com o valor que a empresa estima que perderia ao dividir a transmissão com os streamers, mas que, no caso do MSI, a desenvolvedora disponibilizou o sinal gratuitamente.

Co-stream no CBLOL

Ele acredita que, no CBLOL, o impacto de uma co-stream seria ainda maior do que nos campeonatos internacionais, mas ressalta que a Riot do Brasil sempre responde que não crê neste modelo.

— Essa conversa [com a Riot sobre ter co-stream no CBLOL] já existe há dois anos. Até agora a resposta é sempre não, que não tem como e que o CBLOL não acredita muito nesse modelo, mas foi dado o recado. Eu devo sentar com a Riot em breve, para entender as necessidades e os receios deles para a gente criar esse modelo que seja benéfico para todo mundo.

— Eu tenho muita confiança de que, em um CBLOL, teria um resultado maior ainda [do que no MSI], porque, no CBLOL, para se criar conteúdo e histórias dentro do nosso próprio cenário, é até mais simples.

Críticas a jogadores

Outro pé atrás da Riot tem relação com o conteúdo da co-stream, sobre o qual a empresa não teria controle editorial direto. Já houve, no passado, muitas críticas às falas depreciativas a jogadores nas lives de Baiano, desaguando, inclusive, em discussões públicas nas redes sociais.

O streamer admite que deu "uma amaciada" em certas questões, mas ressalta que mantém a posição de que os jogadores profissionais, quando jogam mal, possam ser criticados pela comunidade.

— Ao mesmo tempo que eu sei que, às vezes, se passa um pouco de ponto, eu entendo que não existe um jogador profissional, não de LoL, de qualquer esporte, não aceitar falarem que ele jogou mal ou que foi o pior da partida. Não tem nada a ver com ataque pessoal ao cara. Tanto é que eu tenho vários amigos jogadores no cenário, praticamente todos são meus amigos, mas eles já entendem naturalmente.

— No programa ali estou ali para analisar. Se ele foi o pior, eu posso amar o cara e jantar com o cara depois, mas lá eu vou falar: 'Esse cara foi um bagre hoje, ele ficou 0/10, ele jogou mal demais'. É importante o jogador entender, e eu acho que já estão entendendo, que no salário, que hoje é bem alto, está incluso isso. Ele é uma pessoa pública. Está incluso alguém analisar o jogo dele, falar que, naquela partida, ele jogou mal e poderia ter feito isso e aquilo de diferente. São coisas inegociáveis para mim. Eu tenho que ter essa liberdade, até porque eu acho que é justo e é o correto a se fazer.

— A vida de atleta é isso, são altos e baixos, e ele tem que entender que é uma pessoa pública. Isso é um pouco de criar esses extremos, porque o pessoal se engaja mais nesses momentos. Quando um cara está jogando mal, a gente chama de bagre e deixa claro que está jogando mal. Quando o cara está jogando bem, o cara é um deus, a gente o coloca lá no topo. Todo mundo no cenário já está entendendo bem melhor isso, e espero que a Riot também possa entender que não são críticas pessoais.

"Competitivo do LoL, como está estruturado, não é mais interessante", critica Baiano

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"Salvar o cenário"

Se a Riot superar as questões financeiras e de conteúdo e adotar o modelo de compartilhamento da transmissão com os streamers, como faz no Valorant, por exemplo, Baiano acredita que será possível, nas palavras dele, "salvar o cenário", trazendo espectadores para o LoL e reativando o interesse do público.

— Não é nem eu acho, eu tenho certeza absoluta! Como eu falo, de sentir o termômetro da comunidade, eu sinto que muita gente acompanha o cenário pela "Ilha das Lendas", talvez o cara nem estivesse mais assistindo competitivo e ainda está por nossa causa. Tendo esse modelo de imagem, a gente poderia ir muito além, trazer muito mais esse cara para o nosso lado.

Ele vê a situação da LCS, a liga norte-americana de LoL, como um alerta. Lá, a competição enfrenta, dentre diversas crises, uma queda na audiência. Isso, na visão do streamer, é consequência da formatação do cenário competitivo que faz com que todo mundo saiba que uma equipe da China ou da Coreia do Sul irá vencer os campeonatos internacionais. Por isso, defende Baiano, o caminho é produzir conteúdo e prover entretenimento, ao invés de apostar tudo na competitividade.

— Todas as regiões estão completamente travadas nas suas posições e nada mais se move ali. Todo mundo sabe: o Brasil vai perder, não tem jogo contra Coreia, China ou qualquer outra liga que é melhor do que nós. A gente vai, perde os nossos jogos e volta para casa. Sempre a mesma coisa. Mas, ao mesmo tempo, tem uma comunidade muito apaixonada e que quer ver o jogo, só que quer ver de outras formas, de uma forma mais descontraída. Quer que seja o jogo, a diversão e o entretenimento dele ao mesmo tempo.

— Às vezes eu falo brincando, e o pessoal fala de salvar o cenário, mas salvar o cenário é isso. É você ver que muita gente está perdendo o interesse. Você vai acompanhando em redes sociais e comentários de vídeos, é o pessoal dizendo que não está mais tão animado para assistir ao CBLOL. Nosso trabalho é criar esse ânimo e esse interesse em acompanhar a liga. Obviamente, com imagem, isso seria potencializado em várias vezes.

O streamer entende que seria preciso um alinhamento entre as partes, mas bate na tecla de que não há malefícios para o competitivo em dividir a transmissão.

— Não é algo de nenhuma forma que pode ser negativo. Eu sei que a Riot tem os receios, porque sempre teve o monopólio de tudo, mas eu não consigo ver. Óbvio que tem que ter alinhamento das partes, expectativas, até onde dá para ir, o que dá para forçar ou não dá para forçar, mas o resultado deixou claro, em números. Tem muitas pessoas que podem não ser atingidas pela Riot. A Riot não consegue chegar a um cara que jogou o jogo em 2016, não joga mais e não assiste mais. Só que, através do conteúdo e de streamers engajados, a gente chega naquele cara e o traz de volta para o competitivo. Isso é o mais importante.

Baiano comenta CBOLÃO 2023 e projeta presenças internacionais

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Reestruturação do circuito

Baiano, inclusive, vai além e defende uma reestruturação no circuito competitivo do LoL, mais semelhante ao Valorant, em que haja uma liga das Américas, envolvendo Brasil, América Latina e América do Norte e que os campeonatos sejam separados entre Oriente e Ocidente.

— Não é defender a ideia. Essa ideia é necessária. É uma palavra até mais grave, porque, ali no tato com a comunidade, eu vejo que ninguém mais tem expectativa ou esperança nenhuma. Os jogadores estão perdendo a esperança. Quando um jogador competitivo, que está disposto a dar a vida para continuar jogando e melhorando, já sente que não dá mais e que a distância é tão grande que não dá para chegar em uma China ou Coreia, é porque acabou essa competitividade.

Nesse modelo, haveria poucos e rápidos contatos entre todas as regiões em uma competição mundial.

— Seria como um Mundial de Clubes, que é coisa de uma semana, enfrenta só para ter a competição. O Mundial mesmo, que às vezes dura um mês, 45 dias, teria que ser mais nas regiões separadas, porque aí sim tem competição. A gente consegue, contra uma América do Norte, chegar neles e bater um jogo honesto, talvez contra a Europa a gente consegue chegar. Mas a Ásia está de um jeito que, para a gente do nosso lado, jogar contra os caras chega a ser triste. É o momento que tem que ir para a piada, porque jogo não tem mais, competitividade não tem mais. A gente está na live ali na "Ilha das Lendas" fazendo piada e resenha sobre o jogo, porque competitividade de campeonato não existe.

Dentro desse contexto é que as co-streams, mais ligadas ao entretenimento do que à competitividade, se tornam importante para manter o interesse do público.

— Se é um jogo que a gente tem chance e a competição é muito forte, vai pegar na competitividade. Mas, se o Brasil vai jogar contra a China, a gente não precisa fingir que vai ter jogo. Aí é o momento que a gente vai trazer o cara com piada, contando uma história e criando algum tipo de rivalidade diferente, para o cara ter interesse em assistir à partida, porque, se for pelo competitivo mesmo, todo mundo já entra sabendo como vai acabar, não tem nem para que assistir — finaliza Baiano.

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