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Por Redação do Ge — São Paulo


O Comitê Olímpico Internacional (COI) anunciou nesta quinta-feira uma inédita exclusão de uma federação internacional. A Associação Internacional de Boxe (IBA) foi banida por falhas recorrentes em integridade e transparência na governança, acusada de manipulação de resultados e corrupção. Apesar da punição sem precedentes, a modalidade vai continuar no programa dos Jogos Olímpicos de Paris 2024 e de Los Angeles 2028.

- Não temos problemas com o boxe. Não temos problemas com os boxeadores. Apreciamos o boxe como um dos esportes mais globais. Se tivéssemos um problema com os boxeadores, não haveria uma competição olímpica em Tóquio, não haveria competição em Paris. Infelizmente, como você deve ter visto no arquivo, você pode ver que temos um problema extremamente sério com a IBA por causa de sua governança. Como valorizamos tanto o boxe esportivo, acreditamos que os boxeadores merecem ser governados por uma federação internacional com integridade e transparência - disse Thomas Bach, presidente do COI.

Sessão do Conselho Executivo do COI — Foto: Greg Martin/IOC

A decisão foi tomada em sessão extraordinária do Conselho Executivo do COI, que se reuniu de forma remota. A exclusão, proposta pela diretoria do COI, foi aprovada por 69 votos. Apenas um membro do conselho votou contra a decisão, e dez se abstiveram. As informações são do "Inside The Games".

A IBA estava suspensa pelo COI desde 26 de junho de 2019 e não pôde organizar o torneio de boxe dos Jogos de Tóquio, administrado por uma força-tarefa do COI, que chegou a ameaçar tirar a modalidade de Paris 2024. A IBA entregou um documento de 400 páginas para se defender, mas não conseguiu comprovar boa governança no relatório aos membros do Conselho Executivo do COI.

- A IBA não implementou efetivamente em suas práticas e atividades o princípio da boa governança. Em particular, a mudança drástica solicitada na cultura de governança não ocorreu. Portanto, a evolução da IBA ainda não é suficiente para considerar que a atual governança da IBA é efetiva em suas práticas e atividades conforme definido no relatório - disse Christophe De Kepper, diretor geral do COI.

Boxe pode ficar fora de Paris 2024 — Foto: REUTERS/Ueslei Marcelino TPX

Presidida pelo russo Umar Kremlev, a IBA enfrente problemas financeiros, de gestão e de credibilidade da modalidade. A entidade ainda pode - e deve - recorrer da decisão à Corte Arbitral do Esporte (CAS).

Posição da IBA

Em resposta à desfiliação imposta pelo COI, a IBA divulgou uma nota oficial nesta quinta-feira. A IBA afirma que o COI cometeu "um grande erro, revelando sua verdadeira natureza politizada". A IBA fez uma série de questionamentos e exigiu resposta em 10 dias do COI, especialmente de Thomas Bach. Entre as questões está por que o COI não responsabilizou Wu Ching-kuo (ex-presidente da AIBA, antecessora da IBA, e ex-membro do COI) pela corrupção na entidade. Kremlev culpa o ex-mandatário pelas falhas de integridade na governança da entidade.

- Não podemos esconder o fato de que a decisão de hoje é catastrófica para o boxe global e contradiz flagrantemente as alegações do COI de agir no melhor interesse do boxe e dos atletas - afirmou a nota da IBA.

Posição da CBBoxe

Filiada à IBA, a Confederação Brasileira de Boxe (CBBoxe) também publicou um posicionamento sobre a punição imposta pelo COI. A nota assinada pelo presidente Marcos Brito fala sobre a relação cordial com a IBA - Kremlev esteve no Brasil na última semana -, mas ressalta a vocação da entidade para o Olimpismo.

- Temos a responsabilidade de buscarmos o caminho para viabilizar aos nossos atletas a conquista olímpica e que isso retrate cada cidadão brasileiro. Nosso torcedor merece a participação nos Jogos Olímpicos, como também merece que os resultados sejam expressivos. (...) Por isso, vamos continuar a trabalhar para ter bons resultados em Paris e nos Jogos Olímpicos que virão. Destarte, caso haja uma nova entidade que vá ser a responsável por liderar a jornada olímpica do boxe, nós vamos aderir. É isso que importa para nosso caminhar: obter o rumo necessário para o boxe seguir olímpico e para que nós continuemos obtendo bons resultados e orgulhando nosso povo - afirmou o presidente da CBBoxe.

Entenda o impasse entre as entidades

O último capítulo da briga aconteceu no início de dezembro, quando a IBA renovou o contrato multimilionário com o fornecedor de energia estatal da Rússia, Gazprom. Em um momento que a Rússia está punida em praticamente todas as modalidades olímpicas por conta da guerra, a IBA mantém o russo Umar Kremlev como mandatário.

- O recente Congresso da IBA mostrou mais uma vez que a IBA não tem interesse real no esporte do boxe e dos boxeadores, mas apenas em seu próprio poder. Não há vontade de entender as questões reais, pelo contrário: a extensão do contrato de patrocínio com a Gazprom como único patrocinador principal reforça as preocupações, que o COI tem manifestado desde 2019.Este anúncio confirma que o IBA continuará a depender de uma empresa que é amplamente controlada pelo governo russo - disse o COI em comunicado.

IOC- Paris2024- IBA — Foto: Divulgações

Antes, em setembro, a IBA realizou um congresso e impediu que o holandês Boris van der Vorst concorresse à presidência, mesmo com o Tribunal Superior do Esporte(CAS) ter determinado a liberação da eleição.

- As preocupações também incluem o recente tratamento da decisão do CAS, que não levou a uma nova eleição presidencial, mas apenas a um voto para não realizar uma eleição. O COI terá que levar tudo isso em consideração quando tomar novas decisões, que podem - após esses últimos desenvolvimentos - incluir o cancelamento do boxe para os Jogos Olímpicos de Paris 2024 - concluiu o documento.

O histórico é ainda anterior. Em 2017 e 2019, os então presidentes da entidade, Wu Ching-Kuo, de Taiwan, e seu sucessor, Gafur Rakhimov, do Uzbequistão, tiveram que renunciar pressionados pelas investigações e pelo COI, incluindo suspeita de envolvimento com o tráfico de heroína, no caso do dirigente uzbeque.

O boxe é um dos esportes mais tradicionais das Olimpíadas, disputado há mais de um século no evento.

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