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Por Leonardo Miranda

Jornalista, formado em análise de desempenho pela CBF e especialista em tática e estudo do futebol


Seleção Brasileira enfrenta a do Paraguai nesta sexta-feira, pela Copa América

Seleção Brasileira enfrenta a do Paraguai nesta sexta-feira, pela Copa América

Um time que faz tudo certo. Ou melhor, quase tudo. É assim que a Seleção volta a campo nesta sexta-feira, em confronto contra o Paraguai, no Allegiant Stadium, em Las Vegas, às 22h (de Brasília), pela segunda rodada do torneio.

Após empatar sem gols com a Costa Rica na estreia, o Brasil precisa acabar com o jejum de cinco jogos e melhorar um dos pontos críticos do começo de trabalho de Dorival Júnior: a falta de precisão na cara do gol. Nos amistosos recentes e na estreia, a equipe foi criativa, teve bastante movimentação e chegou várias vezes na cara do gol. Faltou apenas concluir melhor.

A formação tática de Dorival Júnior buscou acomodar os jovens da atual geração nas mesmas posições de seus clubes. O Brasil jogou num 4-4-2, com Vinícius Jr e Rodrygo na frente, exatamente como no Real Madrid. Raphinha fechava o corredor direito como faz no Barcelona, e Paquetá jogou como um "falso-ponta" pela esquerda: tinha liberdade de movimentação por todo o campo.

Brasil jogou num 4-4-2 simples, sem referência no ataque — Foto: Reprodução

Com a posse de bola, a organização ofensiva tinha Danilo um pouco mais próximo dos zagueiros. Raphinha e Vini Jr buscavam mais os lados. Fato é que ninguém tinha posição fixa, muito menos precisava guardar um lugar em campo. A grande orientação de Dorival era para que a bola girasse em triangulações: quem estava perto da bola se aproximava, tocava e depois corria num espaço próximo do gol para receber.

As triangulações funcionavam mais pela direita, com Danilo-Paquetá-Raphinha. Na esquerda, Vini Jr, pela característica, segurava e tentava conduzir e driblar, como faz tão bem no Real Madrid.

Seleção se organizava para tocar e infiltrar, com Danilo mais próximo dos zagueiros — Foto: Reprodução

Dessa forma, a Seleção encurralou a Costa Rica. Teve mais de 70% de posse, muito volume de jogo, fez gol anulado e sofreu pouco (menos do que comparado com outros amistosos). Então o que deu errado?

O que são "desmarques" e como eles explicam a falta de gol

É melhor não separar a parte técnica da parte tática. As duas coisas são interligadas. A falta de pontaria do Brasil com a bola foi também fruto de uma movimentação errada na área do adversário. Faltou aquele movimento no qual normalmente um centroavante procura a bola, ou um espaço vazio, para finalizar. No tatiquês, esse passo se chama "desmarque".

Veja no exemplo abaixo: o Brasil tocou a bola, triangulou, Danilo tocou para Raphinha e ultrapassou...Raphinha tem a bola nos pés, pronto para o cruzamento mortal.

Paquetá e Rodrygo estão muito próximos do gol. São marcados muito de perto, o que facilita ao zagueiro adversário uma retomada de bola. Há um espaço imenso na entrada da área (pontuado de vermelho) que nem os volantes, nem Arana aproveitam. É nesse espaço que Paquetá e Vini poderiam estar para receber a bola e cravar ao gol.

Raphinha faz a jogada individual: quem aproveita a entrada da área? — Foto: Reprodução

Quando a bola era tocada no meio-campo, o inverso acontecia: todo mundo se aproximava curto. Mas ninguém dava opção lá na frente, de quebrar a defesa adversária e arrumar espaço entre os cinco defensores da Costa Rica.

No lance abaixo, Paquetá sai do lado e circula por dentro e Arana ultrapassa por dentro. A movimentação livre que Dorival tanto gosta acontece. Mas quem dá profundidade a esse time, de modo a tirar os defensores de lugar? Num comparativo distante, o Real Madrid joga quase que da mesma forma, mas Bellingham e até Valverde fazem esse papel para Vini e Rodrygo brilharem.

Brasil tinha muitos jogadores próximos da bola, mas ninguém na frente — Foto: Reprodução

Em suma, o Brasil precisa ocupar de forma mais inteligente a área do adversário. Não é com mais jogadores, mas sim com uma movimentação mais precisa e que quebre essa defesa tão fechada. A chegada de João Gomes e Bruno Guimarães, a infiltração de Arana como elemento surpresa e o movimento de desmaque de Rodyrgo e Vini podem ajudar. Assim como a entrada de um jogador mais fixo no ataque.

Coletiva de Dorival antes da estreia na Copa America — Foto: Photo by Buda Mendes/Getty Images

Não existem respostas fáceis. Apenas o jogo contra o Paraguai, conhecido também por sua defesa fechada e que certamente dará trabalho, pode indicar o futuro de um trabalho que ainda vive suas fases iniciais.

O Brasil deve ir a campo com: Alisson, Danilo, Éder Militão, Marquinhos e Guilherme Arana; João Gomes, Bruno Guimarães, Lucas Paquetá; Raphinha, Rodrygo e Vinicius Junior.

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