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Por Leonardo Miranda

Jornalista, formado em análise de desempenho pela CBF e especialista em tática e estudo do futebol


Quando você pensa no Real Madrid, que decide a Liga dos Campeões contra o Borussia Dortmund nesse sábado (01), a partir das 16h, o que vem na ponta da língua são os Galáticos como Vini Jr, Bellingham, Kroos e muitos outros. Para todos os craques funcionarem em campo, existe um esquema tático pensado nos mínimos detalhes pelo treinador Carlo Ancelotti.

Não basta apenas juntar os talentos em campo e deixá-los jogarem. A experiência do PSG com Mbappé, Messi e Neymar, como tantas outrs no futebol, mostram que um time de craques precisa de um sistema tático que acomode esses talentos da mesma forma que dá funções para abrir espaços em campo e garantir segurança defensiva.

Carlo Ancelotti vai em busca de seu sexto título da Champions League — Foto: Getty Images

O Real Madrid dessa temporada joga num esquema versátil. Em alguns jogos, é um 4-4-2 com Rodrygo e Vini na frente e Bellingham e Valverde (ou Nacho) fechando os lados como meias. Em outros jogos, o sistema é um losango no meio-campo, com Kroos um pouco mais adiantado e Bellingham como ponta-de-lança.

Construção com Kroos como "quarterback"

Quando o time tem a bola e se organiza para atacar, Ancelotti deixa Kroos mais preso na defesa. O alemão, que anunciou a aposentadoria após a Eurocopa 202, joga próximo dos dois zagueiros e sempre por trás de todo o time. Ele vai de lado a lado, toca curto e organiza o time. Uma função bem parecida com a de um quarterback no futebol americano, regendo o time na frente.

Quando Kroos executa esse movimento, o resto do time se organiza de forma a bagunçar a defesa adversária. O meio precisa se aproximar e criar triangulações perto de Kroos: Valverde e Camavinga buscam a bola, Bellingham aparece e até Rodrygo pode sair da frente e buscar a bola no pé. É uma "liberdade condicionada": todo mundo se movimenta no ataque desde que estejam próximos da bola.

Kroos faz a saída junto dos zagueiros e meio se movimenta — Foto: Reprodução

Bellingham como centroavante "surpresa"

Com a movimentação acontecendo na frente de Kroos, um jogador se destaca: Jude Bellingham, que chegou como grande promessa e assumiu protagonismo com a saída de Benzema. Ele pode ser volante, meia e no ataque é um verdadeiro camisa nove: as chegadas de surpresa na área garantiram vários gols e jogadas na área. Também servem para atrair a atenção de defensores e abrir espaço para o drible e velocidade de Vini e Rodrygo.

Bellingham é o elemento surpresa do Real no ataque — Foto: Reprodução

Vini e Rodrygo crescem sem posição fixa

O ataque móvel do Real fez Vini Jr assumir de vez o protagonismo do clube. Se antes tinha que esperar a jogada chegar nele, agora ele buscava se movimentar nos espaços vazios junto com Rodrygo. A ordem é colar na defesa e ir bagunçando a zaga com movimentos curtos, no centro do campo, alternando entre driblar e finalizar. Com as chegadas de Bellingham e os meias, o Real preenche o meio e ganha opções ao lado com os laterais mais fixos pelos lados, porém com liberdade de inverter posição. O segredo é se mover sempre.

Vini Jr e Rodrygo não guardam posição: movimentação toda hora na defesa — Foto: Reprodução

Marcação mais à frente com Bellingham avançado

Com tantos craques em campo, quem marca? Ancelotti mata no peito: todo mundo! O sistema tático do Real Madrid sem a bola funciona de modo simples: a marcação avança para pressionar a defesa e o meio fica sufocando a saída de bola até conseguir afastar o perigo. Nesses momentos, Bellingham pode jogar tanto fechando o lado esquerdo ou mais avançado, como na vitória de virada sobre o Real Madrid. A estratégia varia conforme o adversário.

Marcação avançada do Real com Bellingham como centroavante — Foto: Reprodução

E se não dá certo e o adversário sai da teia? Todo mundo, sem exceção, volta para a defesa e fecha o campo num 4-4-2 bem compacto e certinho. Talvez a velocidade desse retorno não seja a melhor de todas, e o Real Madrid ainda sofre com alguns contra-ataques, como os épicos duelos contra o City deixaram à mostra.

Pode ser uma arma para o valente Borussia Dortmund machucar na final. Fato é que o Real chega como favorito não só por ter o melhor elenco do planeta: o craque também está no banco.

É boa a estratégia de Ancelotti, ao mudar posição de Rodrygo e Vini Jr.? Central do ge debate

É boa a estratégia de Ancelotti, ao mudar posição de Rodrygo e Vini Jr.? Central do ge debate

Recordista de títulos da Liga dos Campeões e já de finais, com seis na carreira, Carlo Ancelotti mais uma vez prova que é sim um dos melhores treinadores de todos os tempos ao acomodar tantos craques num sistema tão encaixado.

O Real Madrid enfrenta o Borussia Dortmund, no sábado, dia 1 de julho, às 16h (horário de Brasília), em Wembley, pela final da Liga dos Campeões 2023/2024.

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