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Por Dou, ge.globo — Porto Alegre

Rafael Ribeiro / CBF

No último amistoso antes da Copa América, um empate em 1 a 1 pouco iluminado diante dos Estados Unidos, a seleção brasileira deixou aquela sensação de que ninguém sabe muito bem o que vai acontecer daqui um punhado de dias, em termos de desempenho. Se teve bons momentos, especialmente devido às suas individualidades, também mostrou um sistema defensivo precário, que deixou os norte-americanos por algumas vezes debaixo das barbas bem aparadas de Alisson. Em comum, pelo menos em relação aos últimos jogos, o fato de Endrick começar na reserva e entrar apenas no decorrer do jogo, espremido em trinta minutos para tentar impor a Dorival a máxima histórica que ainda deveria valer, pois atravessa séculos: o campo manda; quem pede passagem, tem preferência.

Nos minutos em que esteve em campo, Endrick não viu a costumeira estrela brilhar, mas mostrou o ímpeto característico que fez respingar algum tempero em uma seleção que estava insossa demais, apesar da boa atuação e do gol de Rodrygo e da incansável insistência de Vinicius Júnior. Mas o jovem atacante também se afobou em conclusões precipitadas que indicavam a sua situação: há muito a ser feito e provado em muito pouco tempo disponível. Apesar de toda a preparação de carreira, do discurso elaborado, um fenômeno adolescente que se vê fardado com a camisa da seleção brasileira sempre será assim: vontade, coragem, destemor e fogo no boné do guarda.

Sobre a escalação de Endrick como titular, depois do jogo contra o México o técnico Dorival Jr. afirmou que "um erro pode ser fatal", adotando uma dramaticidade que não condiz com a situação. Não é como se ele fosse alheio às exigências da seleção brasileira e da sua torcida, tendo passado a vida nos Pelicans Raptors de Bucareste. Com onze anos, Endrick já estava em um dos maiores clubes do país, então sabe como a banda toca (ou atravessa o samba) neste país de continentais proporções e urgências futebolísticas inadiáveis. Há um par de anos, é promessa de craque e desde então enfrenta os cenários mais exigentes do Brasil e da América do Sul. Ano passado, com cátedra e fúria desenterrou um campeonato brasileiro que parecia perdido.

Entre tantos erros e acertos que construíram a história e a identidade do futebol brasileiro, a prudência nunca foi exatamente uma aliada. Endrick não apenas está pronto: ele está somente aguardando autorização para decolar. Abdicar de um talento na plenitude de seu potencial, vivendo todo seu esplendor físico e técnico e, sobretudo, demonstrando uma confiança que chega a ser quase palpável: isso sim pode ser um erro fatal.

Footer blog Meia Encarnada Douglas Ceconello — Foto: Arte

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