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Por Douglas Ceconello

Jornalista, um dos fundadores do Impedimento.org, dedicado ao futebol sul-americano

ge.globo — Porto Alegre

Lucas Uebel/Divulgação

Não é apenas em um cenário extremamente polarizado como o futebol gaúcho que sete anos equivale a uma eternidade (e mais duzentos quilos de flauta). Pois voltamos ao longínquo ano do primeiro título desta sequência tricolor. No caso, 2018. Desde então, tivemos duas Copas do Mundo. Palmeiras e Flamengo não haviam vencido nenhuma das suas últimas Libertadores. Golpe de Estado nos remetia apenas às aulas de História. Pandemia era um conceito com o qual a gente se deparava somente em filmes que pareciam exagerar no catastrofismo. 

Uma sequência de sete títulos tem o poder de uma bigorna moral que desaba sobre o rival desde o cume do morro de Sapucaia, quando a superioridade de conquistas já se transforma em trauma. É, sobretudo, raríssima, tanto que o Grêmio a alcança pela segunda vez em sua mais que centenária trajetória. Para lembrar da primeira, pesquisamos recorrer aos periódicos de priscas eras, como faziam os fenícios. Aconteceu em 1968, com todos os ventos da revolução cultural empurrando Everaldo, Joãozinho e Alcindo (todos nomes icônicos da história tricolor). Everaldo seria tricampeão do mundo dois anos depois e viraria estrela na bandeira. Alcindo é o maior artilheiro gremista.

Na época, o Grêmio sacramentou seu 12º título estadual em treze temporadas. Por ironia e enviesada crueldade, o técnico colorado no ano da chegada do hepta era ninguém menos que Oswaldo Rolla, o Foguinho, umas das maiores lendas gremistas. A partir do ano seguinte, a brisa da história passaria a soprar para o lado do Guaíba, e o rival vermelho começaria a sequência que culminou com o octa gaúcho, marca que o Grêmio nunca esteve tão próximo de igualar. Na próxima temporada, portanto, o campeonato gaúcho vai ganhar um papel central na geopolítica internacional e assumir contornos delirantes e desesperados.

Sete é a conta do Mentiroso, é o que diz o ditado. E o mentiroso aqui pode ser metáfora para aquele que ludibria, engambela e ilude (a si e aos outros). Porque, nesta eternidade de sete temporadas, o Grêmio venceu o campeonato nas mais antagônicas circunstâncias: quando era amplo favorito e quando era indiscutivelmente inferior; quando defendia o título da América e quando voltava da Série B; quando passeou em campo e quando precisou comer a grama pela raiz. Com Luan, ELIAS MANOEL, Suárez e Diego Costa. Todas elas conectadas pela inoxidável presença de Geromel e Kannemann, os tabeliães da história tricolor contemporânea.

Também é verdade incontornável que o sete remete à lendária camisa que atravessa a jornada gremista desde 1903. Camisa que vestiu Tarciso Flecha Negra, o homem que mais entrou em campo pelo Grêmio, e varou noites uruguaias e manhãs orientais com o próprio Renato Portaluppi, que continua a vestindo à margem do campo -- o técnico esteve na casamata em cinco dos sete títulos conquistados. Ano que vem a conta pode evoluir. E o número oito, em todo seu esplendor simétrico, além de ter sido vestido por Osvaldo e Paulo Izidoro, remete a uma eternidade e mais e mais setenta e sete hectares.

Footer blog Meia Encarnada Douglas Ceconello — Foto: Arte

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