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Por Tiago Bontempo

Ryota Hashimoto

"Não tinha tanta gente assim para um jogo de meio de semana desde a época em que a J.League foi criada." Esse comentário que ouvi enquanto andava pela loja oficial do Sanfrecce Hiroshima dentro do seu novo estádio me chamou a atenção porque dá um pouco da noção do quanto esse estádio é importante e o quanto ele pode influenciar para mudar a história do clube.

Para começar, ter um estádio assim, exclusivo para futebol e no centro da cidade, era algo que o clube sonhava há muito tempo. Desde que começou a J.League, em 1993, a casa do Sanfrecce era o Big Arch (chamado de Edion Stadium por causa dos naming rights de 2012 a 2024 e que a partir de março deste ano adotou o nome Hot Staff Field Hiroshima), que como o nome dizia, realmente era grande, e cabia 50 mil pessoas, apesar de que nos últimos anos a capacidade para jogos de futebol havia diminuído para 35 mil. O problema é que o Big Arch fica longe, na região das montanhas a noroeste do centro da cidade. Leva cerca de uma hora para chegar de transporte público a partir da estação Hiroshima, além de ser inconveniente para ir de carro por ter poucos lugares para estacionar. E também tem o fato de ser um estádio de atletismo, com os assentos longe do gramado e a maior parte deles não cobertos - vale lembrar que no Japão chove bastante.

Meia hora antes de começar o jogo, a torcida do Sanfrecce Hiroshima já cantava a plenos pulmões — Foto: Tiago Bontempo

Por causa disso, o Sanfrecce nunca teve grandes públicos. Sua média histórica em três décadas de J.League fica na casa dos 12 mil, com a melhor média em 2012 (17.721), ano em que foi campeão nacional pela primeira vez, e números parecidos nos dois primeiros anos da liga profissional (16.644 em 1993 e 17.191 em 1994, ano em que chegou à final e foi derrotado pelo Tokyo Verdy com aquele lendário gol por cobertura de Ruy Ramos).

O estádio também tem um museu — Foto: Tiago Bontempo

Ainda tem o fator Carp. O Hiroshima Toyo Carp, time de beisebol da cidade, é extremamente popular e sempre deixou o Sanfrecce na sua sombra. Quando desembarquei na estação Hiroshima, a impressão que eu tinha de uma "cidade do beisebol" logo se confirmou. Em todo lugar que eu ia tinha alguma coisa do Carp. Nas lojas sempre tinha um cantinho vendendo produtos do Carp. Nas ruas, as tampas de bueiro eram personalizadas com o logo do Carp. Em restaurantes, frequentemente tinha bandeiras do Carp. Até o folheto de turismo que estava no hotel tinha o Carp em destaque na capa, explicando como chegar até o estádio de beisebol, e nenhuma menção ao Sanfrecce. Do antigo Edion Stadium só aparecia o nome em uma parte bem escondida do guia. Fui pesquisar no site do Carp e os próximos jogos estavam com ingressos praticamente esgotados.

Panorama do Edion Peace Wing no jogo entre Sanfrecce Hiroshima e Kashima Antlers — Foto: Tiago Bontempo

O Carp é um grande orgulho da cidade de Hiroshima e, de certa forma, tem servido de exemplo para o desenvolvimento do Sanfrecce. Afinal, no início, lá pela década de 1950, o Carp era um dos piores times de beisebol do país, mas sua história começou a mudar depois que eles passaram a jogar no antigo Estádio Municipal de Hiroshima e, com o passar dos anos, se tornaram um dos maiores times do país e têm disputado títulos constantemente. Espera-se que a história do beisebol se repita com o futebol porque esse antigo estádio fica bem ao lado de onde foi construído o novo Edion Peace Wing.

Foto tirada do Parque Memoria. da Paz, onde se vê do lado direito o Genbaku Dome, um monumento da bomba atômica, e ao fundo do lado esquerdo o Edion Peace Wing — Foto: Tiago Bontempo

Do Castelo de Hiroshima é possível ver o Edion Peace Wing — Foto: Tiago Bontempo

Localizado bem no centro da cidade, ao lado do Parque Memorial da Paz e do Castelo de Hiroshima, o acesso não poderia ser melhor. Eu estava perto da estação Hiroshima, que é a principal estação da cidade e onde para o shinkansen (trem-bala), e nem precisei usar o transporte público, cheguei com apenas 30 minutos de caminhada.

Obras no entorno do estádio: ainda tem muita novidade por vir na nova casa do Sanfrecce Hiroshima — Foto: Tiago Bontempo

Cheguei duas horas antes de começar o jogo e já tinha bastante movimentação por lá. Ainda não há muitas atrações fora do estádio, mas toda a área do entorno está em obras, então ainda tem muita novidade por vir. De qualquer forma, dentro do estádio tem um museu e a fila para entrar na loja oficial estava grande.

Um painel de Captain Tsubasa com mensagens para promover a paz fica na entrada do estádio. A palavra "tsubasa" em japonês significa "asa", que é "wing" em inglês, daí a relação com o nome do estádio — Foto: Tiago Bontempo

Quando finalmente entrei, a torcida da casa já estava aquecendo e cantando principalmente o nome de Sho Sasaki, capitão e um símbolo do Sanfrecce. Dei uma volta pelo estádio e achei a visão do campo muito boa de todos os setores. Esse foi o primeiro jogo noturno da história do estádio. Apesar de que na hora do pontapé inicial, às 19h, ainda estava claro, quando terminou o primeiro tempo já estava escuro. Teve um show de pirotecnia antes da partida e um show de luzes no intervalo.

Pirotecnia antes do jogo no Edion Peace Wing — Foto: Tiago Bontempo

A média de público do Sanfrecce aumentou de 16.128 em 2023 (que já era um número alto para os padrões do time, pois muito torcedor fez um esforço para ir se despedir do antigo estádio) para, neste momento, 25.827 em 2024. A quarta maior média da J1 e um aumento de quase 10 mil torcedores por jogo. A taxa de ocupação (91%) é a maior da J.League. Como os ingressos sempre esgotam, podemos deduzir que esse número não está mais próximo dos 100% porque sempre tem os que compram ingresso e não comparecem, principalmente quem tem o "season pass" que vale para toda a temporada, além das cotas para convidados e patrocinadores que podem não ser totalmente preenchidas.

Tem até um bonde personalizado com as cores do Sanfrecce Hiroshima que passa pelas ruas da cidade — Foto: Tiago Bontempo

Na coletiva pós-jogo, perguntei ao técnico Michael Skibbe e ao atacante Marcos Júnior sobre a importância do estádio para o futuro do clube e ambos enfatizaram essa ambição do Sanfrecce de se tornar um time grande no Japão e a facilidade que os torcedores têm agora para ir aos jogos.

A expectativa criada no início da campanha, com atuações fortes principalmente em casa, começa a se esvair agora que o Sanfrecce perdeu a invencibilidade como mandante e, neste jogo contra o Kashima Antlers, sofreu a segunda derrota consecutiva, mas o plano a médio e longo prazo segue firme nos trilhos. No tricampeonato da J.League sob o comando de Hajime Moriyasu (2012, 2013 e 2015), o Sanfrecce não era favorito em nenhum desses anos, tanto que sempre perdia jogadores importantes por não ter tanto poder financeiro. Mas quem sabe em poucos anos a cidade poderá se orgulhar de ter times grandes não só no beisebol, mas também no futebol.

A torcida do Kashima Antlers marcou presença lotando o setor visitante — Foto: Tiago Bontempo

Resultados da 14ª rodada da J1:
(19º) Hokkaido Consadole Sapporo 1x0 Júbilo Iwata (16º) (7.702)
(12º) Kashiwa Reysol 2x1 Shonan Bellmare (18º) (7.530)
(11º) Tokyo Verdy 0x0 Gamba Osaka (6º) (13.445)
(2º) Machida Zelvia 2x1 Cerezo Osaka (8º) (6.546)
(15º) Albirex Niigata 3x1 Yokohama F-Marinos (14º) (15.065)
(7º) Nagoya Grampus 3x1 FC Tokyo (5º) (14.553)
(1º) Vissel Kobe 1x0 Avispa Fukuoka (10º) (10.961)
(9ª) Sanfrecce Hiroshima 1x3 Kashima Antlers (3º) (25.302)
(17º) Sagan Tosu 5x2 Kawasaki Frontale (13º) (6.222)
(4º) Urawa Reds 3x0 Kyoto Sanga (20º) (20.737)

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