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André Durão / ge

Lamentar o empate sem gols com o Junior Barranquilla e questionar o fato de um time misto ter sido escalado é natural. Afinal de contas o Botafogo não conseguiu terminar em primeiro lugar no Grupo D da Libertadores. Independente disso, porém, foi mais uma vez perceptível como o Glorioso possui uma identidade de jogo em pouco menos de 60 dias de trabalho de Artur Jorge.

Isso não significa dizer que a equipe atuou bem ou executou a proposta do treinador de forma satisfatória em todos os 13 jogos deste período. As oscilações são naturais pelo tempo de trabalho. Elas provavelmente não acabarão num futuro breve, mas é consenso que o time gera expectativas que não chegava perto de provocar há dois meses.

É necessário reconhecer o feito do interino Fábio Matias. Recuperou a parte anímica do elenco em confrontos fundamentais diante do Bragantino na Pré-Libertadores. Fez o time crescer, reorganizou os setores, e preparou um bom cenário para a chegada de Artur Jorge. Mesmo que o pior resultado do Botafogo na fase de grupos tenha ocorrido com Fábio no comando, o balanço dele foi positivo.

Fabio Matias em Botafogo x Bragantino — Foto: Vitor Silva / Botafogo

A questão é que a troca de treinador trouxe novos fundamentos coletivos para o time se organizar nos diferentes momentos do jogo. E detalhá-los é conveniente para situar o torcedor alvinegro:

Marcação encaixada no campo de ataque

Pressionar o adversário desde a saída de bola tem sido uma constante alvinegra nos últimos jogos. O gatilho de pressão é, como em muitas equipes, um passe para trás do oponente. A partir deste momento os quatro jogadores mais avançados do Glorioso passam a inibir o avanço rival, e geralmente contam com o auxílio de um dos volantes se desgarrando da linha de meio.

A coordenação entre os setores tem funcionado, permitindo poucas condições de saída com passes curtos. Erros são forçados e boas jogadas criadas na sequência. Gols foram gerados assim. Diante do Vitória, do Juventude, e do Universitário, temos os exemplos mais nítidos da eficiência desta pressão.

Quando não há a possibilidade estratégica desta postura, a compactação entre defesa, meio e ataque tem seguido. Era um dos grandes problemas da equipe nos primeiros jogos de Artur Jorge, mas houve evolução. São dez gols sofridos em 13 jogos. Um dado que pode melhorar, mas representa crescimento em relação a tempos recentes.

Análise tática do ge: Botafogo adianta a marcação e surpreende o Vitória

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Variação de jogadas em bolas paradas ofensivas

João Cardoso é o nome do profissional da comissão técnica alvinegra responsável por pensar e organizar a equipe nas bolas paradas. O momento, tão importante no futebol de hoje, tem contado com personagens específicos para cuidar nas principais equipes do mundo. E no Glorioso tem funcionado muito bem.

Foram raros os jogos que o time não criou ao menos dois lances de perigo desta maneira desde que o novo trabalho começou. Iniciou a vitória contra o Flamengo em um lance totalmente inesperado e inteligente. Marcou contra o Juventude e o Fortaleza também em lances pensados de forma meticulosa.

De quebra, melhorou o desempenho defensivo também em escanteios e faltas laterais dos adversários.

Análise tática do ge: Botafogo usa bola parada como principal arma ofensiva contra o Fortaleza

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Saída de três, laterais ''espetados'' e ''pontas'' pelo centro

O torcedor alvinegro já se habituou a enxergar a ocupação de espaços da equipe em organização ofensiva. Quando o adversário marca em bloco baixo ou médio, um dos volantes do Botafogo se alinha aos zagueiros, e os laterais são liberados para avançar bem abertos no campo de ataque.

O outro volante, geralmente Marlon Freitas, se posta à frente do trio inicial para distribuir os passes e escolher o melhor lado da jogada. Os dois jogadores que partem dos lados do campo, flutuam dos flancos para o centro, buscam ocupar as costas dos volantes adversários, e encostam nos laterais quando eles recebem a bola mais adiantados.

A estratégia é utilizada por muitas equipes, mas tem chamado a atenção como é repetida de forma coordenada pelo Glorioso. Até mesmo Luiz Henrique, jogador que sempre atuou mais preso ao lado direito, tem feito esse movimento central. Savarino, Jeffinho, Óscar Romero, Diego Hernández e até Tchê Tchê foram outros atletas utilizados assim por Artur Jorge.

Como o Botafogo ocupa os espaços ao atacar com Artur Jorge — Foto: Rodrigo Coutinho

A proposta é ter todos os espaços de circulação de bola bem ocupados. Com os laterais, há amplitude nos dois lados. Com a flutuação dos homens de lado para o centro, há opções de passe entrelinhas e a busca por superioridade central.

Mobilidade no quarteto ofensivo

Este conceito sucede o anterior. Após a flutuação dos homens de lado para o centro, quando o time se aproxima da área rival, chama a atenção a liberdade de movimentos que eles têm em conjunto a dupla de ataque. É provável que Tiquinho e Junior Santos ganhem sequência com a recuperação do camisa 9.

O paraibano gosta de recuar para receber nas costas do meio-campo. Normalmente se aproximará de Savarino e Luiz Henrique neste setor. Já Junior Santos tem traçado diagonais inteligentes entre os defensores rivais. Busca atacar a profundidade, dar opção desta forma aos laterais.

Savarino é outro que se mostra bem móvel. Recebe e conduz na direção da área, tenta tabelas rápidas por dentro, ataca a área na sequência. Luiz Henrique tem se adaptado a levar seu futebol de dribles curtos e imprevisibilidade para outras faixas além do lado direito. Pode aumentar sua capacidade goleadora com esta função.

Como Júnior Santos consegue se desvencilhar da marcação para seguir com fase artilheira

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Rodízio na equipe titular

Dentro do calendário do futebol brasileiro é quase impossível definir um time titular único e repetí-lo por várias partidas. Há suspensões, lesões e oscilações individuais. Artur Jorge tem adotado o rodízio para evitar perdas e fomentar disputas por determinadas posições.

Ponte, Cuiabano, Gatito, Barboza, Gregore, Tchê Tchê e Óscar Romero não são exatamente titulares quando todos os jogadores do elenco estão a disposição, mas possuem minutagem relevante com o técnico português. Até mesmo os garotos Yarlen e Fabiano têm sido mais utilizados, além do uruguaio Diego Hernández, que demorou a ganhar sequência no clube.

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