TIMES

Por Rodrigo Coutinho — Rio de Janeiro


O Juventude chega para sua terceira participação nas últimas quatro edições de Série A cercado de expectativas positivas. O bom Gauchão que fez, voltando à decisão depois de oito anos, e os jogos competitivos contra Grêmio e Internacional foram um bom parâmetro daquilo que a equipe pode fazer. Logicamente que a permanência é a meta na Primeira Divisão.

Em virtude do orçamento baixo, não é possível que o time de Caxias do Sul tenha um elenco farto de opções de qualidade. Isso certamente pode pesar negativamente nos momentos de lesões simultâneas ou suspensões, mas a equipe vai entregar jogo duro e competitividade sob o comando de Roger Machado.

Jogadores do Juventude comemoram gol na final do Campeonato Gaúcho — Foto: João Victor Teixeira

A força e a imposição para vencer duelos no meio-campo, principalmente após ligações diretas, e acelerar em ataques velozes na sequência é a característica mais forte da equipe. A intensidade está alinhada ao que se pede para encarar rivais de maior qualidade.

Em diversos jogos do estadual, o Juventude conseguiu simular cenários que deve ter na maioria das partidas do Brasileirão. Jogo mais reativo, não necessariamente com a marcação sempre recuada, mas uma atitude pautada em recuperar a bola e chegar à meta rival sem posses tão longas, algo mais objetivo e vertical.

Time-base do Juventude durante o Campeonato Estadual — Foto: Rodrigo Coutinho

O volante Caíque, cobiçado no mercado, é ferramenta importante para isso. Sustenta bem ao ser pressionado na saída de bola do Juventude, costuma romper esse primeiro combate e dá verticalidade aos ataques. Também desarma muito à frente da área, ganha duelos de ligação direta. Impõe-se fisicamente. Jadson, com perfil menos físico e mais móvel, é um excelente complemento.

A equipe faz bons movimentos de subida de marcação. Quase sempre com setores coordenados e agressividade ao combater o homem da bola adversário. Marcou alguns gols na temporada ao roubar no campo rival ou perto da linha média e acionar os atacantes em profundidade na sequência.

Dois nomes se beneficiam disso. Jean Carlos, meia de 32 anos e ótimas participações na Série B nas últimas temporadas, enfim terá uma Série A e sequência para atuar. E Gilberto! O experiente atacante vem fazendo gols e recuperando a confiança após o 2023 péssimo que teve. Jean Carlos o aciona bastante em profundidade.

Não que seja a única proposta da equipe, mas os contragolpes são arma importante. O time consegue imprimir velocidade em passes que buscam os ataques aos espaços que os adversários deixam. Além de Gilberto, Edson Carioca e Lucas Barbosa são requisitados. Rildo e Erick Farias são bons atacantes reservas.

Opção de time do Juventude com Rodrigo Sam e Rildo titulares — Foto: Rodrigo Coutinho

Faltam peças mais confiáveis em determinados setores, mas o banco tem jogadores como Nenê e Mandaca. O experiente meia costuma entrar a partir da metade do segundo tempo e é influente nos minutos em que fica em campo. Principalmente na estabilização mental da equipe. Acrescenta em bolas paradas e finalizações de fora da área.

Mandaca pode ser, inclusive, titular. Perdeu espaço em virtude de uma lesão, mas faz muitas infiltrações de qualidade. Tem perfil físico, de se impor em duelos no meio-campo e na área rival. Vai bem em bolas paradas. Os escanteios e faltas laterais têm gerado gols e momentos de perigo aos adversários do Juventude.

Jean Carlos encaixa ótimas e rápidas batidas na primeira trave. Lucas Barbosa, do alto de seus 1,94m, é letal neste tipo de lance. O atacante vem encontrando regularidade no Jaconi. Está empatado com Jean Carlos em participações diretas em gols. Outro que se destaca nesse ponto é o atacante Erick Farias, que foi titular no início do ano.

Jean Carlos e Villasanti em Juventude x Grêmio — Foto: Gabriel Tadiotto/E.C.Juventude

O cenário que mais causa problemas ao Juventude é encarar equipes que marcam bem perto da própria meta. Roger costuma dar liberdade de avanço simultâneo aos laterais em fase ofensiva. Caíque se infiltra entre os zagueiros para fazer a ‘’saída de três’’, e os pontas buscam se posicionar entre zagueiros e laterais rivais, mais próximos de Gilberto.

A dificuldade vem ao tentar gerar as interações com regularidade e iludir a defesa neste cenário de espaços mais escassos. O lado direito acaba sendo um pouco mais eficiente. Pela maior agressividade de João Lucas em relação a Alan Rusche e pela retenção de bola de Lucas Barbosa, quase sempre de costas para o gol rival. Jadson oferece bons apoios para triangular.

Simulação da ocupação de espaços do Juventude ao encarar adversários que marcam em bloco baixo. Laterais projetados no campo de ataque, pontas se aproximando de Gilberto, Caíque entre os zagueiros — Foto: Rodrigo Coutinho

Ainda dentro desse contexto de jogo, o Juventude precisa melhorar suas transições defensivas. Nem sempre o encaixe do ‘’perde, pressiona’’ acontece, e a última linha sofre para proteger a profundidade, sobretudo no setor de Zé Marcos. Zagueiro firme, mas que precisa evoluir neste sentido.

Outro fator frágil do sistema defensivo do Ju é a bola parada aérea. Não foram poucos os gols e as jogadas de perigo dos adversários. Parece faltar concentração para isso em determinados momentos dos jogos. Detalhe crucial em partidas decididas em detalhes tão específicos, como costuma acontecer na Série A.

A 16ª colocação ao término do Brasileirão é o título mais almejado pelo Juventude. Ficar na Série A significará melhores receitas pelo segundo ano consecutivo, e isso vai gerar condições de montar um plantel mais qualificado para lutar por coisas maiores.

Veja também