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Por Rodrigo Coutinho — Rio de Janeiro


Eduardo Coudet já deixou dois clubes no Brasil alegando, entre outros motivos, a ausência de reforços solicitados. Um deles é o próprio Internacional, que inicia o Brasileirão com o argentino novamente no comando, e agora sem o mesmo álibi. O Colorado tem um dos quatro melhores elencos do país para tentar acabar com o maior jejum de títulos brasileiros entre os grandes clubes.

O Inter tem vivido uma era de poucos troféus, e isso certamente afeta a equipe em momentos decisivos. Nas últimas temporadas já foi possível perceber. Seja no estadual ou numa semifinal de Libertadores, por exemplo, o Colorado fraquejou quando o cenário lhe era favorável. A má notícia é que o fato já se repetiu em 2024. Foi eliminado pelo Juventude nas semifinais do Gauchão.

Borré é o principal reforço do Inter — Foto: Ricardo Duarte/Inter

A equipe do Beira-Rio não chega a uma final local desde 2021 e não ganha o estadual há oito anos. O último título relevante foi a Recopa Sul-Americana em 2011. O Brasileirão conquistado mais recentemente pode completar 45 anos em dezembro. É necessário retomar o caminho das conquistas.

Exatamente para isso a diretoria colorada encheu o elenco de ótimas opções para Coudet. Apesar da decepção diante de uma equipe de menor poderio técnico e financeiro, não dá para dizer que o Inter tem um trabalho de campo questionável. Pelo contrário, vinha mostrando evolução e dominando os adversários.

Provável time-base do Inter para as primeiras rodadas de Brasileirão. Fernando na zaga e Thiago Maia ganhando espaço no meio. Borré deve brigar forte por vaga na frente — Foto: Rodrigo Coutinho

O Inter, inclusive, foi melhor do que o desfalcado Grêmio no confronto direto entre eles há quase dois meses. O fato de não estar na Libertadores e poder priorizar o Brasileirão, enquanto muitas equipes deverão mesclar titulares e reservas, é um ponto favorável ao time, que vai buscar o controle sobre os adversários com a posse de bola.

O centro do campo é o terreno que o time utiliza para aproximar seus principais talentos. A ordem é ter superioridade em relação ao adversário neste setor. Bustos e Wanderson atacam abertos por direita e esquerda respectivamente, mas o restante dos jogadores de meio-campo e ataque se procura o tempo inteiro pela faixa central.

Renê é quem faz a saída de bola alinhado aos zagueiros mais vezes. Fernando, ótimo reforço, tem atuado como zagueiro. Thiago Maia é o jogador que sempre estará antes da linha de meio-campo rival, tentando acionar Aránguiz – que circula por trás da linha da bola e também infiltra -, Alan Patrick e Maurício. Os dois últimos quase sempre nas costas do meio adversário.

Até mesmo Enner Valência, peça mais aguda da equipe, faz alguns movimentos de recuo para ajudar na articulação. Mas o seu forte são os deslocamentos atacando as costas da defesa oponente e as diagonais entre os zagueiros. Em vários jogos o Colorado teve um bom funcionamento assim. Criou gols e jogadas de perigo a partir desta aproximação central.

Alan Patrick, Enner Valencia e Wanderson comemoram gol do Inter — Foto: Ricardo Duarte/Inter

Em duelos diante de adversários que souberam congestionar o setor e marcaram com firmeza, a equipe sentiu falta de uma variação maior no raio de definição dos lances. O lado direito é mais utilizado que o esquerdo. Há uma tendência maior de aproximação no setor de Bustos, que é agudo e toma ótimas decisões ao atacar a linha de fundo.

Já pela esquerda, o time fica mais restrito a ações individuais de Wanderson. Quando há espaço nas costas da defesa rival, Renê costuma arriscar lançamentos em profundidade para o camisa 11. Mas seria saudável ao funcionamento do time desenvolver mais mecanismos de tabelas e aproximações pelos dois flancos. Diante do Juventude faltou isso.

Como basicamente todas as equipes de Coudet, o Colorado tem bem desenvolvido o ‘’perde, pressiona’’ no campo de ataque. Reage rápido quando o adversário faz um desarme ou intercepta um passe. Tem faltado, entretanto, reocupar os espaços mais rapidamente quando essa primeira pressão é vencida.

Essa energia também precisa ser maior e mais regular ao se ver obrigado a marcar dentro do próprio campo. Por vezes o Inter é permissivo a trocas de passe rivais. Aprimorar esse ponto vai fortalecer ainda mais algo que o time já faz muito bem. Assim como muda rapidamente o comportamento entre defender e atacar, o mesmo é visto no sentido inverso.

Se a opção for por Mercado na defesa e Fernando no meio, aqui em detalhes a ocupação de espaços colorada no campo rival. Se a opção for por Thiago Maia, Fernando faz a função de Mercado — Foto: Rodrigo Coutinho

Se roubar mais bolas dentro do próprio campo, o Colorado aproveitará melhor as boas transições ofensivas que faz em velocidade, Wanderson e Enner Valencia são ótimos neste cenário. Maurício não é um velocista, mas também entrega boas ações, e há grandes passadores em profundidade. O maestro Alan Patrick, que segue como destaque maior do time, Aránguiz, Bruno Henrique, Bustos.

Outro detalhe positivo é a variação de jogadas em bolas paradas ofensivas. Quase sempre utiliza a cobrança com um primeiro passe curto, seja em escanteios ou faltas laterais, trabalha a bola entre dois ou três jogadores para ‘’mexer’’ o bloco defensivo adversário, e cruza na área buscando Enner Valencia ou um dos zagueiros.

Alario é uma peça que fortalece o jogo aéreo colorado. O argentino é utilizado nas partidas em que a equipe precisa de volume dentro da área e mais gente empurrando a última linha defensiva oponente para trás. Tem recuperado bem o ritmo de jogo. Mostra-se útil e eleva o nível da disputa no ataque.

A linha de frente é ainda o setor da principal contratação da temporada. O colombiano Rafael Borré, que certamente brigará para ser titular com a dinâmica e a intensidade que oferece em seus movimentos. Muito afeito àquilo que Coudet pede a seus homens de frente. O elenco ainda encorpou com Bernabei na lateral-esquerda. Pode tirar a posição de Renê.

Quando recua o bloco de marcação, o Inter marca em um 4-4-2 — Foto: Rodrigo Coutinho

Largar bem no Brasileirão é fundamental para controlar a desconfiança da machucada torcida vermelha e fazer o time ter tranquilidade. Há qualidade técnica e potencial de crescimento tático. Talvez o Inter não tenha iniciado recentemente um campeonato nacional com tantas condições de quebrar o tabu.

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