TIMES

Por Rodrigo Coutinho — Rio de Janeiro


Depois de conseguir um vice-campeonato no ano de retorno para a Série A, fato inédito na história da competição, o Grêmio poderia chegar ao Brasileirão 2024 com a expectativa da busca pelo título. Apesar de não ser exatamente esta a ‘’prateleira’’ do Tricolor na competição, muito em virtude de um detalhe específico, não dá para descartar a equipe da briga por vaga direta na Libertadores.

Diego Costa e Pavón comemoram gol do Grêmio — Foto: Lucas Uebel/Grêmio FBPA

O detalhe citado no parágrafo anterior se chama Luis Suárez. É inegável a influência que ele teve na 2ª posição do clube em 2023, principalmente se considerarmos a série de problemas coletivos – a maioria na parte defensiva – com que o Imortal precisou lidar. Equilibrar a equipe será um primeiro passo importante caso Renato Portaluppi consiga.

O maior ídolo da história gremista mais uma vez monta um time com os conceitos em que acredita no futebol. Muito ofensivo, com variações interessantes e liberdade aos jogadores nos últimos metros do campo. Mas com algumas inconsistências a serem corrigidas nos diferentes momentos de uma partida.

Os reforços que fizeram o time mais forte demoraram a chegar. Diego Costa assumiu a posição de centroavante e começou muito bem. Gerou impacto até acima do esperado e, se conseguir alcançar um estágio físico não visto em seus últimos anos de carreira, pode fazer a diferença. Entrega algo que combina com o funcionamento ofensivo do time.

Time-base do Grêmio com Soteldo ao invés de Gustavo Nunes na ponta-esquerda. Era a ideia inicial de Renato, mas o garoto pode botar o venezuelano no banco, ao menos no início da competição — Foto: Rodrigo Coutinho

Além da imposição física em duelos com os zagueiros e do excelente posicionamento dentro da área, Diego é ótimo atuando de costas para o gol rival. Prepara jogadas no pivô, sustenta cargas. Aciona Cristaldo na entrada da área e cria situações para os pontas infiltrarem nas costas da zaga oponente. Há encaixe de características entre as peças ofensivas.

Outro que elevou o nível da equipe é o ponta argentino Pavón. Mostra-se influente nas participações diretas em gols e é agressivo pela direita. Entendeu rapidamente como Renato gosta que seus atacantes de lado de campo atuem. Pela esquerda, Soteldo teve uma lesão muscular séria no início da temporada e tenta se recolocar em forma. Possui potencial de desequilíbrio absurdo no setor.

Na ausência do venezuelano, o Grêmio viu aflorar o talento de Gustavo Nunes. Aos 18 anos, é um dos líderes de assistências da equipe. Muito habilidoso e corajoso. Vai o tempo todo pra cima da defesa rival com dribles e boas conduções em velocidade. Certamente receberá muitos minutos na competição, principalmente durante a Copa América, com Soteldo indisponível.

É fundamental citar Villasanti para falar do funcionamento do Grêmio. Marca e inicia as jogadas com qualidade e ainda chega à região de finalização das jogadas. Pepê também tem ótimo nível, mas o paraguaio é a alma do meio-campo. Carballo, com lesão crônica no púbis, é o desfalque sentido. Du Queiroz e Dodi, afeitos a um jogo mais pautado em transições rápidas, são os suplentes.

Simulação dos movimentos ofensivos que o Grêmio faz para gerar interações perto da área. Pontas revezando com os laterais. Se um fica aberto, o outro ataca no ''meio-espaço'', entre o zagueiro e o lateral rival — Foto: Rodrigo Coutinho

A participação dos laterais é mais um item de destaque. Renato dá total liberdade de avanço a eles. Reinaldo - hoje lesionado - e João Pedro têm revezado a ocupação de espaços com os pontas. Na maioria das vezes atacarão mais abertos, mas também será possível vê-los trabalhando entre o lateral e o zagueiro adversário, deixando a amplitude a cargo de Soteldo, Gustavo Nunes ou Pavón.

No entanto, nem só de pontos positivos tem vivido o Grêmio em 2024. Há dificuldade de sair jogando com passes curtos quando o adversário marca bem a saída do time. Aí a solução é a ligação direta para Diego Costa lutar pela ‘’primeira bola’’ no campo de ataque. Ele ganha a maioria, mas o perfil dos meio-campistas não é tão físico para controlar as ‘’segundas bolas’’.

A questão é prejudicial a um time que quer ter a posse, principalmente nos jogos dentro de casa. Os espaços entre os setores, grande defeito defensivo da equipe no ano passado, seguem surgindo em duelos de maior exigência. Não há tanta preocupação do Grêmio em proteger as zonas, mas sim de trabalhar os encaixes de marcação e as perseguições. Quando perde os duelos, as lacunas vêm.

Elas acabaram sendo a realidade em algumas partidas do Gauchão, quase sempre às costas da linha de meio-campo, expondo zagueiros que estão longe da melhor fase física. O mesmo padrão negativo se vê nas transições defensivas. Se a pressão pós-perda é rompida, a demora a reocupar os espaços no campo de defesa é grande. O início péssimo na Libertadores tem relação com esses problemas.

Alternativa de um meio mais forte na marcação em jogos fora de casa. Renato usou bastante essas variações no Brasileirão passado — Foto: Rodrigo Coutinho

A rotatividade no gol também é uma herança de 2023. Marchesín foi contratado para tomar conta da posição, foi titular na Libertadores, mas ainda não convenceu. Caíque é capaz de boas defesas, mas comete falhas imprevisíveis. Gabriel Grando tem recebido poucas chances. O miolo de zaga merece atenção especial. É outra ‘’ponta solta’’ gremista. Kannemann melhorou em relação ao ano passado.

As jogadas de ataque da equipe são quase sempre terminadas pelos flancos, após aproximações pelo centro e a capacidade de trocar passes curtos. Por isso, o volume dentro da área rival é mais uma característica marcante e positiva. Sempre é possível ver dois meio-campistas atacando a área para arrematar. Muitas vezes o lateral e o ponta do lado contrário também.

Esse comportamento se repete nas bolas paradas aéreas. O time tem encaixado uma variação interessante em escanteios e faltas laterais, seja na primeira ou na segunda trave. Em batidas iniciadas com um passe curto, ou cruzadas diretamente. O aproveitamento de rebotes ofensivos é alto, e geralmente a bola é alçada novamente para a área com rapidez.

Renato Portaluppi em derrota do Grêmio para o Huachipato — Foto: Lucas Uebel/Grêmio

Repetir a campanha do ano passado é improvável, mas, se os problemas defensivos forem resolvidos e Diego Costa jogar a maioria das partidas, a tendência do Imortal é crescer na hierarquia da competição.

Veja também