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Por Rodrigo Coutinho — Rio de Janeiro


Disposto a retomar o caminho de crescimento que teve até o fim de 2022, o Atlético Goianiense está de volta à Série A com um rendimento animador no contexto de temporada que disputou. Perdeu dois dos quatro primeiros jogos do Campeonato Estadual, mas depois engatou uma série de 15 vitórias seguidas. Atropelou no mata-mata da competição e nas duas primeiras fases da Copa do Brasil.

Jogadores do Atlético-GO comemoram gol na final do Goiano — Foto: Heber Gomes/AGIF

Jair Ventura é o técnico da equipe naquele que certamente é o seu melhor trabalho no âmbito ofensivo. Desde que apareceu muito bem no Botafogo em 2016, o treinador montou times de poder de marcação e contra-ataques perigosos na maioria das vezes. Quando se via inserido em campeonatos em que suas equipes precisariam criar mais espaços, as respostas não eram tão boas.

Desta vez isso não tem acontecido no Dragão. É claro que os desafios do Brasileirão são em média muito mais difíceis que os encarados nos 19 jogos até aqui. Também é verdade que a postura reativa será fundamental para sobreviver em determinadas partidas. A estreia contra o Flamengo talvez já seja o primeiro exemplo.

De um jeito ou de outro, o fato é que o Atletico Goianiense conseguiu desenvolver padrões bem organizados e efetivos ao passar mais tempo com a bola nos pés. O lateral mais ofensivo é, na realidade, um atacante de origem. Bruno Tubarão vem jogando na função desde a Série B do ano passado, competição em que o Dragão fez um brilhante segundo turno para conseguir o acesso.

O time-base do Atlético Goianiense para o início da Série A — Foto: Rodrigo Coutinho

Jair assumiu na 20ª rodada da Série B passada, e o time perdeu só quatro dos 18 jogos seguintes. Ao todo, nesta passagem, são apenas seis revezes em 37 partidas. Há uma boa margem de remanescentes do ano passado, grande parte deles titulares. O goleiro Ronaldo, Bruno Tubarão, o bom zagueiro Álix, os volantes Rhaldney e Baralhas, o meia Shaylon e o atacante Luiz Fernando.

Shaylon, ex-São Paulo, tem atuado a partir do lado direito no 4-4-2 da equipe. No momento defensivo, auxilia Bruno Tubarão a fechar o setor. Quando o time tem a bola, circula para a faixa central e abre o corredor para os avanços do lateral-direito. Passa a trabalhar na articulação central ao lado de Baralhas e de Roni, dupla de volantes mais vezes escalada.

Guilherme Romão, o lateral-esquerdo, não avança tanto quanto Tubarão. Trabalha mais por trás da linha da bola e no suporte às transições defensivas. Adriano Martins e Álix formam uma dupla de zaga de boas participações em saídas de bola. O Dragão evita ao máximo as ligações diretas, tenta trabalhar da defesa ao ataque com aproximações e passes curtos.

Shaylon transita bastante nas costas dos volantes adversários. Ganha a companhia de Luiz Fernando no setor. Acostumado a aparecer como ponta em outros clubes brasileiros, o atacante ex-Botafogo e Grêmio vem atuando em dupla com o uruguaio Emiliano Rodríguez na frente. Luiz tem liberdade para se mexer pela intermediária, e o centroavante guarda mais a posição entre os zagueiros.

Simulação de posicionamentos e movimentos do Dragão ao se instalar noi campo de ataque — Foto: Rodrigo Coutinho

Quem dá amplitude ao time pela esquerda é o também uruguaio Alejo Cruz. Com perfil de ponta de velocidade e driblador, ele trabalha mais perto da linha lateral, acelerando as jogadas por ali e tentando o 1x1 diante do lateral-direito rival. A engrenagem ofensiva rubro-negra tem funcionado. São 50 gols em 19 jogos, média de 2,63 por partida, e vários destaques individuais potencializados pelo coletivo.

Luiz Fernando já tinha feito 19 gols no ano passado, e agora tem 11 em 18 jogos. É o artilheiro da equipe. Ataca bem os espaços e melhorou o potencial de finalização. Shaylon já alcançou impressionantes 12 assistências em 18 partidas. Ainda fez oito gols. São 20 participações diretas em tentos do Dragão. Mais de uma a cada 90 minutos.

O camisa 10 é determinante também em outro aspecto forte do time: a bola parada aérea. Vários dos seus passes para gols acontecem nestas jogadas. Há repertório variado em escanteios e faltas laterais. Os zagueiros Álix e Adriano Martins têm se aproveitado. O primeiro já marcou cinco gols nos 17 jogos que fez em 2024. O segundo fez dois a menos com a mesma quantidade de partidas.

No lado negativo da equipe, está a dificuldade para ser mais competitivo pelo setor direito da defesa. Falta mais intensidade na abordagem ao homem da bola com Shaylon e Bruno Tubarão ‘’dobrando marcação’’. Não são jogadores especialistas neste momento do jogo. Roni e Baralhas tentam auxiliar, mas nem sempre conseguem.

Posicionamento defensivo do time em um 4-4-2. Shaylon e Alejo Cruz auxiliando os laterais pelos flancos — Foto: Rodrigo Coutinho

O elenco também é enxuto e aquém do nível da Série A em alguns setores. Alguns reforços sem tanta expressão chegaram. Campanharo e Gabriel Barros foram emprestados pelo Inter. O ponta Max fez um bom Carioca pelo Sampaio Corrêa, e o centroavante Derek veio do Guarani.

O lateral-direito Maguinho, o zagueiro Luiz Felipe, o volante Lucas Kal, o meia Danielzinho e o atacante Yony González, são reservas com experiência em Primeira Divisão, mas desempenhos bem oscilantes na elite do futebol brasileiro. O colombiano Zuleta e o volante Rhaldney também são bastante utilizados.

O maior nome oriundo do banco, no entanto, é o experiente Vagner Love. Aos 39 anos, ele entra em quase todos os jogos no segundo tempo e já balançou as redes seis vezes, além de somar duas assistências. Estratégia interessante para enfrentar defensores mais cansados nas retas finais dos jogos. Mantém a precisão na hora de definir os lances.

Atlético-GO x Goiás - Vagner Love — Foto: Ingryd Oliveira/ACG

A 18ª posição no Brasileirão 2022 parece ter sido um acidente de percurso ocasionado pelas três frentes disputadas pelo Dragão na época. Vale frisar, que ao mesmo em que lutava para não cair, conseguiu chegar às semifinais da Copa Sul-Americana e às quartas de final da Copa do Brasil. Tinha ficado em 9º no campeonato de 2021. Há estrutura para se manter na Série A.

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