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Por Rodrigo Coutinho — Rio de Janeiro/RJ


O Athletico Paranaense é temido na condição de mandante e consagrou um jeito de se comportar em campo desde que mudou seu patamar no futebol brasileiro. A escolha de Cuca para treinar a equipe talvez una de forma precisa aquilo que o clube tem como DNA e o que o treinador costuma oferecer de principal às suas equipes.

Jogadores do Athletico-PR comemoram gol de Fernandinho — Foto: Gabriel Rosa Machado/AGIF

O desempenho inicial é muito bom! São sete vitórias em sete jogos, três goleadas. Média de gols marcados superior a três a cada 90 minutos, e a meta vazada em apenas duas ocasiões. É verdade que o nível da Série A oferecerá mais exigência do que Londrina, Operário, Sportivo Ameliano e Rayo Zuliano, mas o time melhorou em relação ao que apresentava diante de adversários de potencial parecido.

Ser vertical, rápido e agressivo é a marca do Furacão dentro de casa. Em vários dos importantes títulos conquistados nos últimos anos isso se fez presente. Cuca cobra exatamente isso de forma prioritária em suas equipes. Nos melhores trabalhos que fez na carreira, comandou times que sufocavam os rivais em diferentes momentos das partidas.

O clube resolveu apostar no retorno dele ao futebol após a curta e conturbada passagem pelo Corinthians em 2023. Condenado por estupro coletivo a uma menor de idade na Suíça – a condenação foi anulada posteriormente –, Cuca demonstrou arrependimento da forma como tratou o episódio desde que passou a ser novamente questionado há alguns anos.

Cuca em discurso depois da coletiva de imprensa — Foto: Reprodução/ RPC

Leu uma carta após o primeiro jogo. No conteúdo da mensagem, prometeu se envolver em políticas de conscientização a violência de gênero e disse estar ‘’buscando melhorar’’ enquanto homem e cidadão. Por mais que o Athletico seja um clube muito fechado ao trabalho da imprensa, sabe-se que no Brasileirão o treinador será questionado sobre isso, principalmente fora de Curitiba.

Observar as reações de Cuca e a repercussão perante esses questionamentos pode atrapalhar ou não o ambiente do clube na competição. A ver. Fato é que o time tem evoluído de forma rápida, mesmo com os muitos testes e variações feitos nas escalações até aqui. Há boas disputas por posições abertas, evidenciando o bom elenco rubro-negro.

A principal delas talvez esteja no comando de ataque. Mastriani foi contratado para ser o titular e já fez sete gols em 11 jogos, mas Pablo tem recebido minutos de Cuca. Balançou as redes cinco vezes nos últimos seis jogos em que foi utilizado. Consegue entregar mais participação fora da área e faz movimentos que criam espaços de infiltração, algo muito trabalhado pelo treinador.

No meio-campo, também há uma vaga em aberto. Fernandinho e Erick são titulares, e Christian é o terceiro elemento mais utilizado. Há, porém, a presença de Zapelli, que entrega características mais criativas ao setor. Cuca já chegou a escalar os dois, com Christian partindo de uma das pontas, mas o rápido Julimar é outro que vem crescendo sob nova direção.

Um possível time-base do Athletico para iniciar o Brasileirão — Foto: Rodrigo Coutinho

Ainda há Cuello e Alex Santana ‘’correndo por fora’’ na disputa. Canobbio é outro com vaga certa. Foi usado de maneiras diferentes por Cuca. Pelos lados ou pelo centro. Na lateral-direita, Léo Godoy e Madson têm se alternado e protagonizam mais um duelo por um posto na equipe. O mesmo se aplica a Pedro Henrique e Kaique Rocha para compor a zaga com o capitão Thiago Heleno.

Numa possível escalação com três zagueiros, algo já testado por Cuca, o paraguaio Gamarra ganha espaço por ser canhoto. Seja qual for a plataforma tática adotada, o Athletico vai trabalhar com muitos passes em profundidade e inversões para os laterais em progressão. Não terá trocas de passe durante muito tempo até chegar à área rival

Acelerar a construção no gramado sintético da Arena é algo que costuma funcionar. Outra arma é a intensidade dos encaixes de marcação. Cuca tem implementado na equipe esse modelo. Cada jogador tem um alvo inicial a cada jogada e persegue esse adversário até o término dela. Isso faz com que os adversários sejam vigiados mais de perto, mas por outro lado abre lacunas em determinados setores.

Uma variação de time com as entradas de Madson, Pedro Henrique, Zapelli e Mastriani. Christian pode partir de um dos lados. — Foto: Rodrigo Coutinho

Caso algum jogador perca um duelo individual, um efeito ‘’cascata’’ pode se formar aproveitando esses espaços. Fernandinho tem sido importante ao orientar os companheiros neste sentido e no que tem acrescentado até mesmo fisicamente. Com a gestão de minutos correta, entrega intensidade nas disputas de primeira e segunda bola, além dos tradicionais ótimos passes.

Outro destaque individual é o goleiro Bento. Em alta após duas boas atuações como titular da Seleção, é certeza de segurança. Há a expectativa que uma proposta milionária o tire do Athletico na janela de meio do ano. Mas o reserva dele, Léo Linck, sempre tem grandes rendimentos quando o substitui. Parece pronto para assumir a posição aos 23 anos. Muita velocidade de reação e envergadura.

A equipe tem se fortalecido nas últimas semanas nas bolas paradas. Tanto na área rival quanto na própria, levou vantagens. Erick, Thiago Heleno, Kaique Rocha, Pedro Henrique, Mastriani e Pablo são os principais cabeceadores. Na parte defensiva, a marcação na bola aérea é predominantemente individual. Um dos zagueiros ‘’marca’’ a bola, e dois outros homens vigiam zonas na primeira trave.

Com três zagueiros, Gamarra ganha espaço na equipe. O único zagueiro canhoto do elenco. — Foto: Rodrigo Coutinho

Inserido em um grupo frágil na Copa Sul-Americana, o Athletico tem tudo para mesclar jogadores e ter força máxima nas primeiras rodadas de Campeonato Brasileiro. Projetando as cinco primeiras jornadas, é bem possível que faça dez pontos, por exemplo, e inicie bem a caminhada rumo a uma vaga direta na Libertadores. Tem condições de buscar isso.

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