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Por Clara Casé — Dallas, EUA


O Dallas Mavericks não chegou nas finais da NBA como o favorito ao título, mas os fãs da NBA não esperavam que a equipe comandada por Kyrie Irving e Luka Doncic terminaria a temporada perdendo por 4 a 1 nas finais. O Boston Celtics sagrou-se campeão da NBA pela 18ª vez. A vitória por 106 a 88 no jogo 5, em Boston, encerrou o sonho da cidade texana de conquistar seu segundo título da história. Mas o que faltou para o Dallas ser mais competitivo nas finais da NBA? Simples: a coletividade.

Luka Doncic Dallas Mavericks — Foto: Stacy Revere/Getty Images

Desde que Luka Doncic foi draftado para ser a grande estrela dos Mavericks, o time elevou seu patamar na Conferência Oeste. Selecionado para a NBA em 2018, Doncic teve sua primeira aparição nos palyoffs em 2020 e, desde então, só ficou de fora da pós-temporada em 2022/23. Dallas dependia muito do jogo do esloveno e via sua estrela ter desempenhos brilhantes mas, mesmo assim, não conseguir resultados. Para o torcedor da NBA, era comum ver jogos que os Mavs perdiam com Doncic marcando 40 pontos.

Entendendo que Luka precisava de um parceiro de alto nível no time, Dallas tentou achar isso no letão Kristaps Porzingis. No entanto, a dupla de europeus não funcionou no Texas. As temporadas com lesões atrapalharam o desenvolvimento e entrosamento entre os jogadores, que estilos de jogo muito diferentes. Nos dois anos e meio que Porzings esteve em Dallas, foram 120 vitórias e 85 derrotas da equipe do Texas.

Boston Celtics 106 x 88 Dallas Mavericks | Melhores momentos | Final da NBA

Boston Celtics 106 x 88 Dallas Mavericks | Melhores momentos | Final da NBA

Há rumores de que a dupla não se dava bem fora das quadras e que isso teria sido um dos motivos para que Porzingis fosse trocado para o Washington Wizards em fevereiro de 2022. Os dois negam. Luka afirma que tem uma boa relação com o colega até hoje. Já Porzingis, quando questionado, afirmou que "simplesmente não deu certo". Ironia do destino, ou não, é que os dois estiveram frente a frente nessa série de finais, com o letão garantindo o título ao lado dos Celtics.

Um ano depois da saída de Porzingis, Doncic ganhou um novo companheiro de quadra: Kyrie Irving. O australiano parecia ser a peça perfeita para dividir a responsabilidade com Doncic. Uma estrela de grande nome, já campeão da NBA ao lado de LeBron James, experiente. E é possível dizer que foi muito positivo para os Mavericks. Luka e Kyrie entraram em uma boa sincronia. E, não por acaso, na primeira temporada completa dos dois jogando juntos, Dallas chegou nas finais da NBA.

Kyrie e Doncic nas finais da NBA — Foto: Nathaniel S. Butler/NBAE via Getty Images

Doncic jogou a maior parte dos playoffs lesionado. O esloveno torceu o joelho direito no jogo 3 contra os Clippers e seguiu jogando independentemente da dor. Durante a reta final dos playoffs, era possível ver Doncic constantemente colocando gelo no joelho e inclusive apresentando sangramentos durante as partidas. O camisa 77 também reportou dores no tornozelo esquerdo e, durante as finais, sofreu uma lesão no tórax.

Durante todo os playoffs, Luka e Kyrie formaram uma dupla matadora. Em nove partidas da pós temporada eles somaram mais de 50 pontos. A maior atuação, no entanto, foi na derrota para o Los Angeles Clippers no jogo 4 da primeira fase dos Playoffs, quando a dupla marcou 69 dos 111 pontos de Dallas no jogo. Só que a ausência dessa parceria nas finais custou a Dallas os dois primeiros jogos.

Todos esperavam que Kyrie Irving se vingasse de Boston quando pisasse de novo no TD Garden, mas não foi o que aconteceu. O camisa 11 teve duas atuação extremamente apagadas na casa dos Celtics, somando apenas 28 pontos nas duas partidas. A média de 14 pontos por jogo é muito inferior ao que Kyrie apresentou durante os playoffs, de 22,6 pontos.

Elenco do Dallas Mavericks no Jogo 5 contra Boston — Foto: Tim Heitman/Getty Images

Enquanto isso, Doncic teve 30 pontos no jogo 1 e uma atuação de gala com 32 pontos, 11 rebotes e 11 assistências no jogo 2. O esloveno de 25 anos se tornou o mais novo da história a conseguir um triplo duplo de pelo menos 30 pontos em finais de NBA. Em ambas as partidas, Luka representou, praticamente, um terço dos pontos da equipe do Texas.

Quando a série foi para Dallas, Kyrie voltou ao seu jogo ideal. Ele e Doncic combinaram para 62 dos 99 pontos da equipe dos Mavs no jogo 3. Só que outro empecilho custou a vitória: a atuação abaixo do resto do time. Tirando a dupla de estrelas, o resto da equipe teve apenas 37 pontos na partida. Um número inferior às atuações anteriores onde teve 50 pontos no jogo 2 e 47 no jogo 1. Vale destacar também outro ponto determinante: muito exigido na marcação, Doncic foi expulso pela primeira vez na carreira ao cometer seis faltas. O esloveno se ausentou pelos dois minutos finais, onde Boston vencia por apenas três pontos. Apenas o brilho de Kyrie não foi o suficiente para a virada.

O jogo 4 foi a prova que a coletividade é a maior arma dos Mavericks. Com toda a equipe dos Mavs atuando bem, o time conseguiu seu único resultado positivo das finais. Doncic e Kyrie combinaram para 60 pontos. Além disso, os coadjuvantes se destacaram, Tim Hardaway Jr., Derrick Lively e Dante Exum ficaram na casa dos dígitos duplos. Mas, acima de tudo, a equipe de Dallas fluiu. A vantagem foi tão grande que Doncic e Kyrie não precisaram entrar em quadra no quarto final.

A vitória de Boston veio no jogo 5. O time da casa entrou em quadra determinado a selar a série e encontrou um Dallas cansado que não conseguiu repetir a atuação da partida anterior. Doncic estava visivelmente abatido e frustrado durante todo o jogo. Ainda assim, o esloveno anotou 28 pontos e 12 rebotes na partida. Kyrie Irving voltou a suas péssimas atuações em Boston e marcou apenas 15. O resultado foi uma partida decidida ainda no 3º quarto com uma diferença que chegou a 26 pontos no último período.

Doncic jogou as finais lesionado — Foto: Maddie Meyer/Getty Images

É claro que um prêmio de MVP das finais não é dado ao jogador que marcou mais pontos. Diversos fatores, além das estatísticas, foram levados em consideração para premiar Jaylen Brown como o melhor jogador da série. Mas, para uma comparação entre o estilo de jogo coletivo de Boston e o individualismo forçado a Doncic em Dallas, podemos analisar a pontuação de Luka e Brown. O astro do Dallas teve 146 pontos na série, sendo o jogo três como sua menor pontuação com 27. Brown teve justamente sua melhor atuação no 3º jogo, com 30 pontos. Esse foi o único duelo em que ele marcou mais pontos que Doncic. No todo Jaylen somou 104 pontos, 42 a menos que o esloveno.

A verdade é que quando Dallas parecia ter aprendido sua lição de que Luka Doncic não pode jogar sozinho, as finais fazem os argumentos cariem por terra. O time não foi o mesmo que se apresentou durante todos os playoffs e boa parte da temporada regular. A mudança de comportamento pode ter custado o título a Dallas. Agora, a equipe precisa reavaliar suas escolhas de estilo de jogo e pensar em como voltar ao topo na próxima temporada sem repetir, mais uma vez, o erro de temporadas anteriores.

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