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Namorada de Miles McBride, do New York Knicks, Ana Zortea já manifestou seu lado combativo algumas vezes em sua vida. Seja na infância, quando perdeu o pai em um acidente de avião e criou um blog para cobrar punição para a companhia aérea, ou nas redes sociais para defender seu jogador preferido na NBA.

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A associação criada por Ana, em parceria com o atleta de cross country Silas Griffith, segue na ativa na universidade. A brasileira chegou a ser porta-voz inclusive de uma batalha contra a Federação Internacional, que chegou a proibir uma touca especial para cabelos de pessoas pretas.

- Foi quando o George Floyd foi assassinado e deu início a todos os protestos aqui nos EUA, especialmente da Black Lives Matter, e a faculdade não tinha colocado nenhum comunicado oficial ainda, especialmente na parte atlética, os técnicos do meu time não tinham falado nadinha, e eu era a única atleta negra no time na época e quis criar um espaço para outros atletas negros compartilharem suas histórias e ter um espaço para fazer eventos e ter um centro de apoio - disse Ana.

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Hoje, a brasileira usa seu estilo combativo para torcer pelo namorado na NBA. Na arquibancada, ela se transforma e faz questão de incorporar o espírito da torcida do New York Knicks, em busca de disputar uma final da NBA, o que não acontece desde 1999.

- Preciso que alguém venha me filmar durante o jogo para alguém ver como estou reagindo. Desde o início, virei fã. Nunca havia prestado muita atenção no basquete, comecei por causa dele. Como sou atleta e muito competitiva, virei a maior fã dos Knicks. Fico lá gritando, sei todas as regras, brigando com os árbitros. Nas arenas fora de casa, tem que ficar um pouco quietinha, pois não sei como vão reagir. Quando o Miles entra, todo mundo ao meu redor já fica sabendo que sou namorada dele de tanto que eu grito - contou Ana.

Depois de assistir às duas derrotas na arena em Indianápolis, Ana ficou muito satisfeita com a volta do time ao Madison Square Garden e a vitória no jogo 5, assumindo novamente a liderança da série por 3 a 2. Nesta sexta-feira, às 21h30 (de Brasília), novamente fora de casa, os Knicks vão tentar fechar o confronto. Em caso derrota, domingo será disputado o sétimo e último jogo em Nova York para definir um dos finalista da Conferência Leste.

- Os fãs de Nova York são maravilhosos. Viajam para tudo que é lugar para fazer o time se sentir em casa. Mas os fãs de Indiana lotaram a arena de um jeito que nunca tinha passado por aquilo. Os fãs também são apaixonadíssimos. Em um jogo da temporada regular em Nova York, teve até briga na minha frente. Mas eu sabia que seria uma energia diferente. Agora, foi ótimo, maravilhoso. Os Knicks sempre deixam todo jogo a gente com um miniataque cardíaco. Desta vez, deu para respirar, com uma certa vantagem no placar - brincou.

Ana conheceu Miles durante sua passagem pela universidade de West Virginia, onde fez um ano de mestrado depois de se formar em Florida State. Na época, o jogador estava se preparando para o Draft de 2021, quando foi selecionado em 36º pelo Oklahoma City Thunder e trocado com os Knicks. Um ano depois desse primeiro encontro, voltaram a ter contato até que iniciaram o relacionamento. Hoje, eles moram juntos em Nova York, de onde a brasileira trabalha remotamente com marketing para uma empresa da Flórida, além da vida de influencer.

- Sempre gostei de compartilhar minha vida, nas redes mostrando tudo, nos stories e tal, minha meta era ser atleta olímpica, não tinha planos para quando parar. Tentei voltar a nadar, mas queria treinar com meus técnicos do Brasil. Até dois meses atrás, eles queriam que eu fosse fazer a seletiva, mas disse que não dava, pois fazia um ano que não treinava sério. Assim que me formei entrei no Tik Tok, comecei a fazer vídeos, de maquiagem, de cabelo. Então, aproveitei que várias meninas faziam vídeos se arrumando para sair e fiz um "arrume-se comigo para ir a um jogo da NBA". Pegou - explicou.

Foi também assim que ela criou o apelido para o namorado. No Brasil, Miles ficou conhecido como "Abençoado". Até mesmo o Flamengo usou a alcunha ao se despedir do jogador que usou as instalações do clube para treinar durante as férias que passou no Brasil.

- Ele adora, já expliquei para ele o que significa. Quando eu chamava, ele não entendia nada. Eu falava dele assim com a minha mãe e repeti em vídeos que eu fazia. Agora, virou bordãozinho mesmo. Chamam a gente de "os abençoados" - brincou.

Nos vídeos que Ana costumam postar em suas redes sociais, os aquecimentos de LeBron James, do Los Angeles Lakers, e Stephen Curry, do Golden State Warriors, foram alguns dos momentos preferidos da brasileira. Ela percebeu ali que sua vida como influencer e namorada de jogador da NBA havia naturalizado certas situações.

- Amo estar perto de jogadores. Postei no aquecimento bem debaixo da cesta, uma enterrada doida do LeBron bem na minha frente. Estava com uma amiga do meu lado que o conhecia. Ele veio, conversou com a gente, e eu estava assim "caramba, é o LeBron aqui do meu lado". Na minha cabeça, não é normal, mas meu namorado joga contra ele. O pessoal vem comentar e diz "nenhum segurança ia me segurar". Eu esqueço isso. Ficou normalizado para mim. Foi uma das experiências mais doidas - comentou.

Se hoje Ana vive em Nova York, curtindo bons momentos, na infância sofreu um baque muito forte quando perdeu o pai Luigi Zortea, prefeito de Canal San Bovo, na Itália, em um acidente de avião em maio de 2009. O voo da 477 da Air France caiu no Oceano Atlântico, e houve uma batalha com a empresa. A brasileira, então com 10 anos, criou um blog justamente para denunciar o descaso da empresa e ainda foi além se envolvendo com questões políticas e sociais.

- Mudou muito a minha vida porque eu acho que me fez crescer muito mais rapidamente, me fez prestar muita atenção em política, cresci nesse meio. Comecei a compartilhar meus pensamentos na internet, sempre gostei disso, tinha um blog para escrever sobre meus sentimentos e injustiças, e falava de política também. Tive que parar, pois aprendi a lidar com hate muito cedo. Minha mãe nem sabia até ver certas ameaças que eu estava recebendo. Foi muito difícil e ainda é. Não é fácil para ninguém. Aprendi muito com essa situação. De um jeito ou de outro me ajudou a ser a pessoa que sou hoje - disse Ana.

Também criança, ela teve chance de realizar um de seus sonhos. Trabalhou na novela "Avenida Brasil" como uma das crianças que integravam o núcleo do lixão da mãe Lucinda. Ana, no entanto, percebeu que a rotina prejudicaria os treinamentos de natação e optou por não seguir com a carreira.

- Sempre foi meu sonho ser atriz. Queria ser modelo, médica, atriz e nadadora. Consegui bastante, só não consegui ser médica. Quando eu era criança tinha um programada de TV com meu irmão Gustavo ("Antenado", de uma TV regional de Criciúma), foram algumas temporadas. Fiz propaganda, teste, desfilava. Quando consegui a oportunidade, foi um sonho. Assim que terminou, escolhi a natação, percebi o quão difícil foi tentar equilibrar os dois e não conseguia. Eram muitas horas de gravação e não tinha tempo para treinar. Foram seis meses. Quando terminou, falei para a minha mãe que queria voltar a nadar e voltamos para o Sul. Então, peguei minha primeira seleção e depois fui para o Flamengo - disse Ana, que também nadou pelo Pinheiros, de São Paulo.

Nas últimas férias, Ana esteve no Brasil com Miles. Levou o jogador dos Knicks ao Maracanã para assistir a um Fla-Flu - ela torce para o Flamengo, e ele ficou encantado com o jogo. Agora, o casal já tem na agenda a volta ao país novamente.

- O Miles sempre amou futebol. Ele jogava videogame com times do Brasil. Ele achou uma loucura os fãs, o estádio e não vê a hora de voltar. A gente vai para ver o jogo de futebol americano no estádio do Corinthians. Vai ser o Philadelphia Eagles, que é o time para o qual ele torce, na semana do aniversário dele. Ele amou o Rio, Gramado, a comida, caipirinha. Trouxe até garrafa de cachaça. Já é um minibrasileirinho - disse Ana.

Depois de algum tempo sem treinamentos de uma nadadora em atividade, Ana ainda não sabe o que o futuro reserva para ela no esporte. Não descarta uma volta às piscinas, mas a vida em Nova York hoje em dia toma praticamente todo o seu tempo.

- Sempre falo que sim, ainda vou voltar. Não acabou do jeito que eu queria, mas minha vida foi pegando, o trabalho mudando, crescendo nessa vida da internet. A rotina mudou completamente. Queria terminar com meus técnicos do Brasil, mas não estava dando. Eu não sei. Ainda está no ar porque eu quero, mas não sei quando seria possível - afirmou Ana, que trabalhou com Fernando Pereira, no Flamengo, Gustavo Sabiá, no Sesi, além de Hugo Lobo e Anderson Silva no Sul.

O New York Knicks entra em quadra nesta sexta-feira, às 21h30 (de Brasília), para enfrentar o Indiana Pacers pelo jogo 6 da série semifinal da Conferência Leste, em Indianápolis. Os Knicks lideram por 3 a 2. Quem se classificar vai pegar o Boston Celtics, que eliminou o Cleveland Cavaliers, na final do Leste.