Sentado no conforto de seu lar, um fazendeiro pode monitorar por meio de um sistema informatizado na tela do PC desde quantos litros de leite suas vacas produziram de manhã até a média de engorda de seu rebanho durante a semana.

Tudo graças à BovControl, startup que vem chamando a atenção de gigantes da tecnologia e das telecomunicações como IBM e Telefônica e já entrou no radar até de varejistas como o Wal-Mart e de bancos como o Santander e o Bradesco.

A empresa desenvolveu um meio de captar dados de rebanhos bovinos por meio de smartphones e tratá-los de modo que a informação não só faça sentido para os pecuaristas mas também seja facilmente compreendida.

“O nosso negócio é vender informação consolidada. [O pecuarista] ele não quer saber de dados isolados, o número do animal, isso não tem valor nenhum”, diz Danilo Leão, um dos cofundadores da empresa.

Segundo ele, a BovControl surgiu há três anos, mas só ganhou tração com a explosão dos smartphones no Brasil. Foi pelo potencial que a startup foi selecionada para a segunda turma da incubadora Wayra, da Telefônica, no começo de 2013. O aplicativo para Android veio em julho e desde então mais de 1,3 mil fazendeiros já fizeram o download.

Do total, 30% são de fora do Brasil e, dos estrangeiros, 20% são dos Estados Unidos, computa Leão. Os norte-americanos utilizam a ferramenta dez vezes mais que os brasileiros.

Controle de bovinos
Isso porque o pecuarista escolhe quais dados vai colher como o número do animal, a raça, as características e informações relacionadas às atividades de cria (vacas que produzem bezerro), recria (compra de bezerros e engorda até a fase de boi magro) e engorda (compra de boi magro e abatimento do boi gordo).

Além dessas há as capturas de dados das atividades de produção de lei e de genética (controle dos ascendentes de parentesco, para que possam registrados em associações de raça).

A balança pende para os norte-americanos porque 95% dos pecuaristas de lá possuem smartphones, segundo pesquisas locais, enquanto por aqui, segundo a BovControl, apenas 10% detêm celulares inteligentes.

No campo, no supermercado e no banco
Na linha de frente das fazendas, os peões inserem os dados no app instalado no smartphone que são processados pela BovControl e apresentados na tela do fazendeiro, onde quer que ele esteja.

Quer façam uso intensivo da plataforma ou não, os pecuaristas pagam conforme o número do rebanho. Desembolsam R$ 0,30 por cabeça de gado analisada pelo sistema.

A aplicação direcionada ao pecuarista, no entanto, é só uma das possibilidades do BovControl.

Devido à necessidades de os grandes supermercados terem de informar aos clientes de onde vêm os produtos hortifrutigranjeiros e as carnes, segundo Leão, já há negociações com o Wal-Mart para transformar o sistema em uma das ferramentas que garantam a rastreabilidade dos alimentos à varejista.

Bancos também estão na mesa de negociações. Para as instituições financeiras, o intuito é avaliar a saúde do rebanho quando os pecuaristas querem abater as taxas de juros de um empréstimo dando como garantia suas cabeças de gado. Segundo Leão, há conversas com Bradesco e Santander.

Telefônica, IBM e Hackaton
O BovControl atingiu esse nível de maturidade antes mesmo de sair das asas da Wayra. Por ser uma das incubadas pela Telefônica, a BovControl engorda com os negócios da tele.

A startup é ligada estrategicamente à diretoria de "machine-to-machine" (informações que navegam pela internet enviadas de máquina para máquina, como os terminais de cartão de crédito).

A Startup já recebeu investimento da Telefônica e negocia outra rodada, dessa vez com um consórcio de fundos americanos e europeus –e possivelmente latino-americanos.

Já falamos aqui do desempenho da BovControl no evento da IBM, em que a startup foi uma das finalistas da etapa brasileira.

A multinacional da tecnologia tocou a boiada adiante e, em 2014, BovControl e IBM estrearão uma parceria em que desenvolverão um trabalho de inteligência artificial com painéis.

Ainda na Wayra, a empresa irá promover o primeiro hackaton (maratona hacker para desenvolvimento de aplicações) de dados alimentícios.

Segundo Leão, chamarão as áreas de tecnologia de grandes frigoríficos como JBS, Marfrig, Minerva e de grandes supermercados como Wal-Mart e Pão de Açúcar.

Abrirão o código da BovControl para criar aplicativos que “promovam a integração de toda a cadeia da carne”, desde a ponta (fazendeiros) até gôndola (varejistas), passando pelos intermediários (frigoríficos).