Viver Bem

Por Brenda Bento, g1 Santos


Luciano foi até o hospital acreditando que passaria por cirurgia para retirada de tumor, mas só a biópsia foi realizada — Foto: Arquivo Pessoal

Luciano Ferreira de Souza, o morador de Praia Grande (SP) que convive com um tumor gigante na coxa há 13 anos, sofreu uma nova decepção. A cirurgia para a retirada do lipoma [tumor benigno] marcada no Hospital Santa Casa de Santos não foi realizada, conforme estava previsto. A esposa, Sandra Lima, contou ao g1, nesta terça-feira (9), que o marido passou apenas por uma biópsia.

O homem teve o diagnóstico do tumor em 2011. De lá para cá, segundo Sandra, a massa cresceu passando do que parecia ser uma uva para o tamanho da cabeça de uma criança. Não só isso, o lipoma limitou os movimento de Luciano, que há anos convive com dores físicas e psicológicas, por ter parado de trabalhar.

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O paciente foi comunicado pelo hospital, na quinta-feira (4), que a cirurgia para a retirada do tumor ocorreria na segunda-feira (8). Ele chegou a entrar no centro cirúrgico, mas, na saída, a equipe médica informou à esposa que não realizou a remoção do lipoma.

"A saga continua. Não foi feita a cirurgia. Fizeram só uma biópsia. O médico disse que o lipoma está todo enraizado. Imagina a nossa frustração", disse a esposa.

Ao invés da cirurgia, segundo a mulher, Luciano foi anestesiado com raqui, que paralisa a parte inferior do corpo . "O médico disse que foi necessário tirar seis amostras, que é um processo doloroso e por isso a anestesia. Ele disse que não poderia cortar por conta dos vasos sanguíneos".

Nova abordagem

De acordo com Sandra, o marido precisará passar por um médico oncologista para avaliar uma estratégia para diminuir o tumor antes da operação. Além disso, Luciano terá que refazer os exames que já havia feito. "Ou seja, mais espera, mais tempo e o tumor crescendo. Estávamos esperançosos".

"Estou sem chão. Não sei nem o que falar para as pessoas. Não se brigo, xingo, choro ou me calo e espero. Estou angustiada", disse a mulher.

Em nota, a Prefeitura de Praia Grande informou que, de acordo com a Santa Casa de Santos, o atendimento agendado para segunda-feira (8) seria para uma biópsia, seguindo orientação da equipe médica do hospital, e que foi realizada de acordo com o previsto.

Abaixo, no entanto, é possível ver a mensagem enviada pela equipe do Hospital Santa Casa de Santos a Luciano. O texto diz: "Estamos entrando em contato referente à cirurgia do senhor (a) Luciano Ferreira de Souza agendada para 8/7/2024".

O g1 com o Hospital Santa Casa de Santos, mas não obteve retorno até a última atualização desta reportagem.

Hospital enviou mensagens para Luciano informando que a cirurgia havia sido agendada, mas, ao chegar na unidade passou por biópsia — Foto: Arquivo Pessoal

Cirurgia negada e médica afastada

A cirurgia havia sido marcada após Luciano ter vivido uma decepção em 1° de junho, quando esteve na Santa Casa de Santos para marcar a cirurgia da retirada do tumor e foi informado de que o convênio entre a unidade de saúde e a Prefeitura de Praia Grande havia terminado. A profissional acabou afastada (leia mais abaixo).

Segundo a esposa, Sandra Lima, a médica falou que sem o acordo entre o hospital e a administração municipal eles não poderiam fazer nada. Ao g1, a prefeitura disse manter o contrato vigente e que o atendimento seria garantido.

Luciano se desesperou ao ouvir que não seria atendido na Santa Casa de Santos. — Foto: Arquivo Pessoal

"Sai totalmente transtornado do consultório", disse Luciano, que ficou "radiante" com a data do procedimento marcado, complementou a esposa. "Mesmo com dor, mesmo com tudo que ele passou, todas as humilhações, está com um semblante mais alegre".

Sandra acrescentou: "A gente só queria nosso direito, que é um direito básico, que é a saúde. Agora a gente está feliz, aguardando ansiosamente as instruções e a segunda-feira. Acho que esse final de semana vai ser o mais aguardado nas nossas vidas nos últimos 10 anos".

Acompanhamento médico

Homem, de 43 anos, com tumor gigante chora de dor e luta por cirurgia, em Praia Grande (SP) — Foto: Reprodução

Em março, o g1 contou a luta de Luciano pela cirurgia para retirar o tumor, que media aproximadamente 13 cm x 12 cm x 19 cm. Na época, a Prefeitura de Praia Grande e a Santa Casa de Santos afirmaram que o paciente estava sendo acompanhado no hospital.

Segundo Luciano, ele realmente foi atendido por um médico da Santa Casa em abril. O cirurgião solicitou exames pré-operatórios e pediu para que o autônomo voltasse a agendar uma consulta quando estivesse com os resultados, pois seria marcada a data da entrevista com anestesista e da cirurgia.

Após realizar os exames, Luciano marcou consulta para segunda-feira (1). "Chegando lá com os exame, recebi a notícia que a Santa Casa não estava realizando procedimento com munícipes de Praia Grande por questões burocráticas, contratuais e políticas. Esses foram os termos usados pela médica", afirmou o homem, que ficou desolado com a informação.

Ao g1, ele contou que chegou a questionar a profissional se havia ao menos uma previsão de data para a cirurgia, mas ela respondeu que isso só poderia ser dito após a questão burocrática ser regulamentada.

Tumor na coxa de Luciano tem tamanho parecido com a cabeça de uma criança — Foto: Arquivo Pessoal

A médica também afirmou que, quando isso ocorresse, ela iria reavaliar o caso para ver o procedimento adequado.

Em nota, a Prefeitura de Praia Grande informou que o contrato com a Santa Casa de Santos está regular e em vigor. "A Secretaria de Saúde Pública praia-grandense foi informada pela Santa Casa de Santos que a médica em questão foi afastada para processo médico e administrativo para averiguar a situação".

Ainda segundo a administração municipal, o atendimento do paciente seguirá os fluxos já estabelecidos na parceria com o hospital. "O munícipe já está sendo contatado para o prosseguimento do atendimento".

Procurada pelo g1, a Santa Casa de Santos não se manifestou até a publicação desta matéria.

Descoberta

Luciano descobriu o tumor ainda em 2011, quando sentiu um caroço do tamanho de uma uva na parte posterior da coxa direita. Ele procurou orientação médica e descobriu que poderia se tratar de um lipoma. Por isso, passou a realizar exames com esse diagnóstico.

Segundo o autônomo, a orientação era voltar a procurar ajuda médica quando o caroço começasse a incomodar. Anos depois, ele passou a sentir dores e foi encaminhado ao Centro de Especialidades Médicas Ambulatoriais e Sociais (Cemas) de Praia Grande.

No entanto, o acompanhamento com consultas e exames foi interrompido por conta da pandemia da Covid-19. Quando as consultas retornaram, os exames já estavam vencidos e Luciano precisou refazê-los.

Com os novos exames em mãos, o autônomo passou por profissionais que o encaminharam para a Santa Casa de Santos.

Lipoma

Lipoma é um tumor benigno e não representa risco

Lipoma é um tumor benigno e não representa risco

O cirurgião plástico especialista em Cirurgia Geral e Cirurgia Plástica, Luís Maatz, explicou ao g1 que o lipoma é um tumor benigno que surge pelo crescimento desordenado das células de gordura.

"Geralmente são pequenos, mas podem chegar a massas de grande volume. Suas causas não são conhecidas, mas os estudos relatam que pode haver influência genética ou eventualmente surgirem após algum trauma local", afirmou.

O médico explicou que o tumor surge como um nódulo abaixo da pele, de consistência macia e normalmente móvel em relação aos tecidos ao redor. "Dependendo da localização e evolução, pode haver aderência aos planos profundos, ocasionando maior dificuldade na sua remoção".

Segundo Maatz, o tratamento é com intervenção cirúrgica. Em determinados casos, é possível realizar o procedimento somente com anestesia local. Porém, em caso de lipomas grandes, a anestesia geral pode ser necessária.

Apesar do médico informar que a maioria das queixas de lipoma ser por estética, o tumor pode causar sintomas de compressão sobre os tecidos aos redor conforme cresce.

"Ocasionando dor por compressão muscular ou de nervos. Uma pequena porção dos lipomas, em particular os de longa data, podem sofrer transformação maligna. Por isso, recomenda-se que sejam removidos após o diagnóstico", explicou o cirurgião.

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