Por Rafael Machado, g1 PR — Londrina


Professor explica como foi definida a divisa entre Paraná e Santa Catarina.

Professor explica como foi definida a divisa entre Paraná e Santa Catarina.

A perda de 490 hectares de área do Paraná para Santa Catarina a partir de 2025 é mais um capítulo na história da divisão territorial entre os dois estados. A região que deixará de ser paranaense corresponde a 30 Maracanãs.

Há mais de 100 anos, a mesma questão foi discutida no fim da Guerra do Contestado, conflito armado que durou de 1912 a 1916. A região entre o oeste catarinense e o sudoeste do Paraná virou palco de disputa pela riqueza da erva-mate, entre outros fatores.

O conflito armado eclodiu com a finalização das obras da estrada de ferro entre São Paulo e o Rio Grande do Sul. A construção atraiu diversos trabalhadores, que ficaram desempregados com a finalização da estrutura.

A área foi desocupada, e os posseiros acabaram sendo expulsos. A Guerra do Contestado faz referência à região reivindicada.

As terras eram contestadas por paranaenses, catarinenses e paulistas. Elas também seriam um caminho de uma estrada de ferro que seria construída de São Paulo até o Rio Grande do Sul.

Ao fim do conflito, que deixou milhares de mortos, houve um acordo que definiu os limites do Paraná com Santa Catarina, que pegou uma faixa maior de terras, como explica o professor Nilson César Fraga, do Departamento de Geografia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Veja a explicação no vídeo acima.

Mapa do Paraná em 1912, antes da definição da divisa com Santa Catarina — Foto: Reprodução/IAT Paraná

“A divisão proposta em 1916 não foi literalmente redonda, com a mesma quantidade para cada estado. Ficaram aproximadamente 20 mil quilômetros do território contestado para o Paraná, que engloba o sudoeste, e 28 mil quilômetros para Santa Catarina, que abrange a região oeste”, afirmou.

Segundo Fraga, o acordo não agradou todos os envolvidos.

“As bancadas políticas dos dois estados promoveram, na época, uma série de manifestações contrárias ao tipo de partilha do território. Todo mundo se achou prejudicado. Surgiu até um movimento separatista, que não ficaria nem para o Paraná ou Santa Catarina. Mas a mobilização foi fraca e não deu certo”, disse.

Em 1916, mapa já trazia a divisa entre Paraná e Santa Catarina — Foto: Reprodução/IAT

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Como foi a demarcação

De acordo com o professor de Geografia, o processo de demarcação entre os dois estados teve participação ativa do Exército brasileiro, com acompanhamento de políticos catarinenses e paranaenses.

“A delimitação foi feita com esses totens, o que, para a época, atendia a padrões internacionais. Esses marcos não ficam um do lado do outro. Foi justamente na possível imprecisão na instalação desses marcos que descobrimos agora uma falha na medição entre Paraná e Santa Catarina, como recentemente foi descoberto”, explicou.

Revisão da divisa

A divisa foi revista após um morador de Guaratuba (PR) descobrir que um trecho do terreno dele não estava no Paraná, mas em Santa Catarina, especificamente na cidade de Garuva.

Ele procurou o Instituto Água e Terra (IAT) do Paraná e apresentou o questionamento sobre a medição da área, equivalente e cerca de 500 campos de futebol, considerando as dimensões máximas estipuladas pela Fifa de 120 metros de comprimento e 90 metros de largura.

Técnicos do instituto vistoriaram o local e comprovaram as falhas na medição. Com isso, foi definido que 490 hectares pertencem, na verdade, a Santa Catarina.

Mapa mostra nova divisa entre os estados do Paraná e Santa Catarina. — Foto: Arte g1

A “devolução” do território será feita a partir do ano que vem.

A Prefeitura de Guaratuba disse que ainda vai fazer a análise da revisão da área para levantar os possíveis impactos. A Prefeitura de Garuva informou que vai receber toda a documentação para depois identificar os imóveis na região.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou que "acompanha atentamente as atualizações na divisão territorial do país, e que em caso de mudanças nos limites municipais, as devidas atualizações nos totais populacionais são implementadas em tempo hábil".

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