Tentei acordar para ver o Oscar, mas fracassei. Também não consegui ver o filme premiado na festa desta madrugada, pois aqui de onde escrevo ele ainda não está em cartaz - só estreia na quarta-feira. Falando assim, parece que tenho motivos para reclamar de estar em Paris - onde encerro minhas férias. Mas este não é o caso, claro. Sobretudo porque opções de filmes bons para assistir não faltam por aqui (esses dias, por exemplo, vi um dos melhores de 2014 que foi completamente esnobado pelo Oscar: "O ano mais violento", de J.C. Chandor).

E não tem como se sentir alienado culturalmente numa cidade em que você pode, num dia apenas, passear entre obras de Klimt (Pinacothèque) a Jeff Koons (Beaubourg) - fechando com a exposição mais interessante que já vi nos últimos anos, "Le bord du monde" (Palais de Tokyo), só com artistas que justamente não cabem na definição de artista.

Não, este não é um daqueles posts tipo diário de viagem que você - caro leitor, cara leitora - estava talvez acostumado a encontrar neste espaço. Este é um breve registro para dizer que este blog está sim vivo - talvez não chutando, mas se preparando para tal. Você pode imaginar os assuntos que tenho acumulado nessas últimas semanas, quando estive ausente. Já quis escrever sobre tanta coisa - de "Ida" (que merecidamente levou o Oscar de melhor filme estrangeiro) a "Felizes para sempre?" (cheguei a esboçar um texto que não citava sequer uma vez a derrière de Paola Oliveira, acredita?); de Edward St. Aubyn (o que acontece quando um autor favorito escreve um livro "menor") a Björk (sou só eu que escuto "Vulnicura" em loop há duas semanas?). Mas tudo tem seu tempo.

O tempo de falar dessas coisas talvez tenha passado - dificilmente eu as retomarei nos textos que virão daqui para frente. Mas outras coisas interessantes chegam com o porvir, tenho certeza. O ano novo chinês acaba de virar - e agora é o da cabra (às vezes interpretada como "carneiro"). Não sou dos mais supersticiosos, mas parece que, segundo a astrologia chinesa, 2015 promete ser uma ano de extrema criatividade - que, no entanto, tem que lutar contra uma extrema teimosia. Coisas de uma cabra que empaca... Estamos prontos para isso?

Espero que sim. Vou ver "Birdman" assim que puder - e quem sabe podemos então discutir sobre este filme aqui. Do que vi da festa do Oscar - retalhos daqui da internet-, só posso dizer que o melhor momento foi mesmo Lady Gaga fazendo aquela homenagem a Julie Andrews no filme "A noviça rebelde" - ou, como o Google Tradutor diria, "The rebel novice"... "That's entertainment"! Será que vou me divertir tanto com as ruminações semi-honestas de Michael Keaton e Alejandro Iñárritu? A saber...

Julie Andrews


Que venham as cabras!

O refrão nosso de cada dia: "The tide is high", The Paragons - Fica muito esquisito retomar este espaço com uma música de 1967? Bem, acho que você mesmo já vou coisas mais esquisitas por aqui, então vamos com essa versão original da música de Blondie - que todo mundo pensa que é original... Nas manhãs geladas que tenho encarado por aqui, enquanto corro pelas ruas ainda vazias de Paris, essa é a brisa tropical que me aquece. Uma obra-prima acidental. Aliás, como todas as obras-primas.