Blog da Cristiana Lôbo

Por Cristiana Lôbo

Jornalista, acompanha de perto os bastidores do governo e a política brasileira. Comentarista do 'Jornal das Dez', da GloboNews


A política econômica de austeridade fiscal do ministro Paulo Guedes foi derrotada pelo sucesso do auxílio emergencial de R$ 600 pago por cinco meses a mais de 61 milhões de brasileiros — o sucesso econômico que permitiu ao Brasil ter queda da economia menor que muitos outros países no mundo.

Mas sucesso, sobretudo, ao levar o presidente Jair Bolsonaro começar a conquistar o eleitor das camadas mais pobres da população que eram hostis a seu nome. A última pesquisa Datafolha, em agosto, mostrou queda de dez pontos percentuais na rejeição de Bolsonaro na região Nordeste, a única em que ele não venceu na eleição de 2018.

Bolsonaro ouviu os aplausos e gostou. E mudou de comportamento: ele mandou incluir em sua agenda não só uma viagem por semana aos estados, em regiões mais pobres, mas, principalmente, ampliou o leque de interlocutores.

Até aqui, economia era assunto exclusivo do ministro Paulo Guedes. Já não é mais.

Ele ouve também ministros militares, como os generais Braga Neto e Luis Eduardo Ramos, da Casa Civil e da Articulação Política, que têm gabinete no Palácio do Planalto.

E ainda os políticos que agora o apoiam, a começar pelo ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, que faz publicamente contraponto à política econômica de Guedes.

‘É assim mesmo. Ele é o presidente e é quem decide’, diz Guedes após críticas de Bolsonaro

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Os líderes de governo no Congresso também foram substituídos por parlamentares experientes que conhecem o que se chama de "caminho das pedras" em Brasília.

Agora, são pelo menos quatro com discurso muito afinado — Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), Eduardo Gomes (MDB-TO), ambos senadores; Ricardo Barros (PP-PR) e o primeiro a chegar ao núcleo palaciano, Arthur Lira (PP-AL), deputados.

Esse grupo, junto com os ministros militares e mais Rogério Marinho, sustentam embate com o ministro Paulo Guedes que reinou sozinho por mais de um ano de mandato.

Eles contestam a argumentação da área econômica de que não há dinheiro para gastos desejados pelo grupo.

"Os municípios receberam muitos recursos para enfrentar a pandemia, e a queda não foi tão grande quanto imaginada inicialmente", disse um líder do governo, para argumentar que deve sobrar recursos dos R$ 60 bilhões separados para Estados e municípios.

Paulo Guedes não perdeu só a exclusividade nas conversas sobre economia com o presidente Bolsonaro — é verdade que o presidente ouve também os presidentes da Caixa, Pedro Guimarães, e o do Banco Central, Roberto Campos Neto.

Os políticos começam a destacar que Guedes tem um poder que nenhum outro ministro da Economia já teve. E citam como exemplo o fato de estar sob o Ministério da Economia os antigos ministérios do Planejamento, do Desenvolvimento , todos os bancos oficiais e seus conselhos.

Essa observação quer dizer que os novos apoiadores do governo estão de olho em alguns cargos e logo mais vão começar a reivindicar postos da área econômica.

Esses parlamentares que agora são interlocutores de Bolsonaro sabem ler no detalhe o orçamento da União e identificar onde há o que eles chamam de "dinheiro parado".

Um líder diz que a arrecadação está sendo superior ao calculado no início da pandemia e existem alguns fundos — são quase 300 na mira do próprio Ministério da Economia — que têm recursos paralisados. E conseguiram convencer o presidente Bolsonaro de que existe dinheiro, sim, tanto para pagar o auxílio emergencial, quanto para a retomada de obras.

Um líder disse que o presidente gostou do que ouviu. Até porque, segundo ele, Bolsonaro já percebeu que nenhuma candidatura para 2022 conseguiu se consolidar até agora.

Portanto, é hora de ele próprio cuidar de sua reeleição. É só o que pensa o presidente Bolsonaro. Até porque, enquanto ele tiver poder, ele poderia conter os problemas dos filhos na Justiça.

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