Blog da Cristiana Lôbo

Por Cristiana Lôbo

Jornalista, acompanha de perto os bastidores do governo e a política brasileira. Comentarista do 'Jornal das Dez', da GloboNews


A afirmação do presidente Jair Bolsonaro não poderia ser mais clara: "Homem que decide a economia do Brasil é um só: Paulo Guedes". E teve o objetivo de conter interna e externamente qualquer avaliação no sentido de que a política liberal do ministro da Economia estaria com os dias contados - interpretação que havia ganhado força com a apresentação do programa Pró-Brasil, patrocinado pelo grupo militar do governo e apresentado pelo general Braga Netto, ministro-chefe da Casa Civil.

O presidente quis deixar claro para o mercado que não cogita fazer qualquer inflexão na política econômica comandada por Paulo Guedes; e, internamente, teve o objetivo de abortar movimentações de ministros que, em busca de dinheiro do orçamento para executar obras de suas pastas, passaram a fazer a defesa do fim do teto de gastos, imposto na Constituição.

Bolsonaro demonstra total apoio ao ministro da Economia, Paulo Guedes

Bolsonaro demonstra total apoio ao ministro da Economia, Paulo Guedes

Um grande mal-estar aconteceu na reunião em que Braga Netto apresentou o Pró-Brasil, ao custo de R$ 300 bilhões em dez anos.

Em seguida, Paulo Guedes disse que havia dinheiro do orçamento para financiar apenas parte desse projeto, mas que o governo precisava atrair investimentos privados, o que só aconteceria se o país retomasse o caminho das reformas que estão no Congresso, como a tributária e a administrativa. Foi aí que o ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, demonstrou sua discordância:

"Numa crise dessas, temos de deixar os dogmas de lado" disse, defendendo o endividamento do Estado para financiar obras.

Paulo Guedes não gostou nem um pouco, mas nada falou. Apenas deu uma "gelada" no ministro Marinho, que fora seu assessor para assuntos de previdência e escolhido por ele para conduzir no Congresso as negociações para a aprovação da reforma da previdência, ano passado.

Mesmo sem passar recibo na hora, Paulo Guedes agiu para mostrar que não gostou daquela contestação: primeiro, foi conversar com o próprio ministro Braga Netto para dizer que insistir em dinheiro público para aquelas obras apresentadas seria "jogar pela janela" todo o esforço feito até aqui e também a reputação do Brasil no exterior.

Braga Netto reconheceu que estava criado um problema, pois a mensagem de enfraquecimento de Guedes teve forte impacto no mercado e mais de US$ 30 bilhões deixaram o país. Braga Netto convocou uma entrevista no Planalto para falar dos planos do ministro Nelson Teich para o combate ao coronavírus e aproveitou para deixar claro que o Pró-Brasil não iria ferir a política de Paulo Guedes.

O ministro Guedes também foi conversar com Tarcísio Vieira, ministro da Infraestrutura, que estava entusiasmado com a possibilidade de ter a garantia de recursos para as obras previstas por sua pasta. A ele deu as mesmas explicações e informou que o Tesouro poderia financiar boa parte do que ele precisava para este ano - algo como R$4 bilhões. Tarcísio também se convenceu.

Rogério Marinho, no entanto, estava na articulação da aproximação do governo com o Centrão. Deputados e presidentes de partidos como o PP (Ciro Nogueira); PL (Valdemar da Costa Neto) e Republicano (Marcos Pereira), cresceram os olhos sobre a ideia de retomar obras públicas. E no processo de aproximação, apresentaram seus pedidos de indicação para cargos públicos.

Estava claro, àquela altura, a cisão dentro da equipe de governo: de um lado, Paulo Guedes com sua política de aperto fiscal; de outro, os que em outros governos eram chamados de "desenvolvimentistas" - um duelo que se instala em todos os governos e ganha força em ano eleitoral.

Toda movimentação interna mostra como foi relevante declaração do presidente Bolsonaro, nesta segunda-feira, tendo ao lado, além do ministro Guedes, os ministros Tarcísio Vieira, Wagner Rosário, a ministra Tereza Cristina, o presidente do Banco Central, Campos Neto. Foi uma clara manifestação de apoio ao comando de Paulo Guedes. Isso para conter eventuais movimentações para "deixar dogmas de lado" e partir para aumentar os gastos públicos.

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