Tortura chinesa

seg, 22/10/12
por Zeca Camargo |
categoria Todas

Lembra de “Avenida Brasil”? Em tempos de curta atenção como os nossos é sempre bom perguntar… Pois então, essa foi a novela que finalmente fez a gente gostar novamente de novela – e cujo último capítulo, embora tua memória eventualmente te traia, foi ao ar na sexta-feira à noite. Aliás, manhã aqui em Hai Kou, China. Sim, é aqui que eu passei uma “nem-tão-adorável-assim” semana – um lugar tão longe de qualquer referência, que apenas uma pessoa acertou onde eu estava (fiz a pergunta no post de quinta passada). Foi aqui que, graças à dedicação de um colega que me ofertou um link precioso, eu consegui ver ao vivo o episódio final da trama de João Emanuel Carneiro.

Calma! Este não vai ser mais um texto meu sobre a novela – o quarto, pelas minhas contas. A internet mesmo está cheia de opiniões sobre ela – algumas comicamente criticas, casmurras na sua cobrança de perfeição de um gênero que em si é imperfeito, outras tantas histericamente elogiosas e inconsequentes (mais próximas até do espírito de um gênero que pretende apenas divertir), e ainda umas poucas que acertam na superficialidade, como se seus autores tivessem finalmente compreendido que o grande trunfo de “Avenida Brasil” foi fazer com que o Brasil inteiro falasse dela, ressuscitando o interesse num gênero que acreditávamos moribundo e surrado. Honestamente, você não precisa de mais uma opinião sobre o final da novela – muito menos da minha.

O que quero contar é que sofri um bocado para assistir ao começo do capítulo do dia 19 de outubro. O tal link, apesar de funcional, dependia de uma excelente conexão de internet – que não era exatamente o meu caso. Eu estava hospedado num hotel no centro de Hai Kou, meia hora e carro de onde acontecia um dos mais importantes campeonatos de golfe do mundo – evento este em que Ronaldo (que estou acompanhando desde que ele começou a entrar na “Medida Certa”) era um dos convidados especiais. E o centro de Hai Kou, bem… Para você ter uma ideia, examine atentamente a foto que abre o texto de hoje. Para colocar de uma maneira elegante, não é dos lugares mais convidativos que eu já conheci. Aquela imagem é da vista do meu quarto – e era de lá que, no sábado de manhã (lembrando: eu estava onze horas para frente no fuso horário, ou seja, era por volta das 8h da manhã de sábado para mim quando eu pude ter a chance de acompanhar o tão esperado desfecho) que eu ansiosamente entrei no link.

A experiência, no entanto, não foi das mais satisfatórias. Como já sugeri, para tudo funcionar 100%, eu teria de ter uma conexão… 100% – e não era bem assim… Por conta disso, eu assistia a cerca de 20 segundos do capítulo ao vivo, e então a imagem travava. Eu tinha de começar tudo de novo, reiniciando toda a operação (que, claro, incluía uma senha), para ter o prazer de ver mais 20 segundos de novela – o que transformava toda a experiência numa verdadeira tortura chinesa – e, uma vez que eu estava em Hai Kou, o trocadilho é mais que proposital, como você pode imaginar…

Não obstante, diverti-me o suficiente vendo os fragmentos que colecionei – aqui ilustrados com fotos tiradas do meu próprio iPhone durante as várias tentativas de conexão (repare na operadora chinesa que aparece no canto superior esquerdo das fotos). À exceção da “canastrice” de Juca de Oliveira interpretando um Santiago subitamente malvado – um truque ligeiramente exagerado para justificar as reviravoltas finais da trama -, aquela primeira parte do capitulo era pura diversão. Por conta disso, e de uma maneira quase poética, senti-me, do outro lado do mundo, conectado ao Brasil. Não só por aquele frágil elo na internet, mas também pelas dezenas (e não estou exagerando) de mensagens de whatsapp que chegavam para mim do Rio e de São Paulo, de amigos que estavam bem ligados na novela.

Nesse esquema meio capenga, só pude ver a primeira hora do final de “Avenida Brasil”. O trabalho me chamou às 9h (hora local) para registrar o encontro curioso de Ronaldo Fenômeno e Michael Phelps – ele também convidado especial do tal campeonato de golfe. E foi assim que fui tirado do doce torpor da emoções novelescas para a realidade nada glamurosa do meu trabalho.

Quando contei a alguns amigos e colegas que viria para a China, a reação foi unânime: “que máximo”! E é o máximo mesmo, se você vai a Beijing (que até hoje não conheço) ou a Xangai (que já visitei e me encantei). Mas Hai Kou? O próprio dono do hotel que promovia o torneio, durante um gentil almoço para a imprensa, me perguntou; não sem um ar sem jeito: “E então, valeu a pena atravessar o mundo para conhecer o Havaí da Ásia?”. Mal pude disfarçar minha surpresa diante da comparação. O lugar certamente goza de um clima tropical – e a paisagem, lá e cá, é salpicada de palmeiras… Mas chamar isso de Havaí era de um otimismo de enternecer o coração. O resort onde Ronaldo ficou hospedado era, de fato, estupendo – a piscina de ondas onde tirei a foto do último post, por exemplo, era uma das suas atracões irresistíveis. Os campos de golfe, segundo quem entendia do assunto (Ronaldo, entre eles) eram sensacionais. Mas nada disso nos deixava esquecer que estávamos em um oásis de natureza e beleza no meio de um grande jardim de concreto, típico daquelas cidades chinesas que cresceram de maneira assustadora na última década.

Vivemos dias longos aqui, acompanhando Ronaldo nas suas partidas de golfe, e ainda seguindo seus treinos (de vez em quando até participando de alguns deles, como você pode ver em breve no “Fantástico” ) – quando não experimentando algumas delicias duvidosas da culinária chinesa. Não foi ruim, mas foi estranho. Sobretudo quando faço o exercício (cruel, admito) de comparar o dia de ontem com o domingo anterior que passei em Madri – e comentei aqui segunda passada.

Aproveitando uma manhã de folga, ontem fui com a equipe explorar o centro de Hai Kou e visitar “o melhor Shopping da cidade” – na verdade, um labirinto de seis andares onde capas de celular dividem cubículos que servem como lojas com outras mercadorias como roupas infantis, cosméticos de marca internacional, eletrônica, papelaria – e até uma loja com finas pedras de jade lapidadas. Não muito diferente de lugares que já visitei aqui mesmo na Ásia – Bangcoc me vem à mente -, mas sem a graça e o charme dos tailandeses para mitigar a sensação de desorientação. Exaustos desse “experimento social” – e tentar fazer compras em pé de igualdade com os locais em Hai Kou é mesmo uma ousadia que só pode ser justificar como uma pesquisa científica! -, seguimos de tarde para o hotel de Ronaldo, quando, enfim, assisti com um dia de atraso ao derradeiro capítulo de “Avenida Brasil”, graças a um outro link (uma página de Facebook) que parece ter sido criado pensando com carinho nesses pobres noveleiros (eu!) que nem sempre podem estar na frente das televisões de suas casas para acompanhar todas as emoções de uma novela… Foi, novamente, num iPhone – emprestado agora da Amanda (a produtora responsável por esta viagem). Mas foi bom…

Os mais críticos, sem dúvida, verão uma certa condescendência nessa minha superficial avaliação do fim de “Avenida Brasil”. Os mais cínicos, um (mal) disfarçado esforço de promover um produto da TV onde eu trabalho… Ambas interpretações, porém, importam muito pouco – uma vez que disse, logo de cara, que a coisa menos importante do texto de hoje é o que eu achei ou deixei de achar sobre a novela…

Num universo inconsequente como este da internet, que permite que uma notícia plantada – como a de que Ronaldo estaria recebendo um cache milionário para participar no “Medida Certa” – encontre espaço na imprensa séria que já soube checar melhor suas fontes -, eu pergunto: quanto vale uma opinião?

Sigo viagem – ao mesmo tempo que tento encontrar uma reposta a essa pergunta.

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16 Comentários para “Tortura chinesa”

  1. 1
    Vitor:

    Queria estar aí com você…rs

  2. 2
    Carina:

    Olá Zeca,

    Nunca imaginaria que aquela foto do post anterior seria sua da China.
    O post já começa engraçado…”Tortura chinesa”..
    Eu não conheço nada da Ásia, o máximo que cheguei do outro lado do mundo foi NZD e AUT. Mas fiz muito amigos daí a qual ainda mantenho contato.
    Mesmo não sendo um lugar tão legal assim, como você mesmo descreveu, sempre é muito bom viajar.

    Comeu algo exótico por aí ??

    Ps: Sobre comentário de cache para o Ronaldo, prefiro nem dar ibope para isso.

    Aproveita a viagem !!

    Bjs.

  3. 3
    Aline:

    Oi Zeca…….
    O valor da opinião varia conforme a importância da situação, ou até mesmo o nível de quem deu tal opnião. O nível aqui seria o de conhecimento específico que o “critico” tem sobre o assunto. Hoje em dia as pessoas se importam demais com a opinião alheia, deixando até mesmo de ser autênticas para agradar os outros. Agora se formos falar de valor monetário, aí a coisa fica feia…..rsrs..
    Até mais…
    Aline

  4. 4
    Sandra Heide:

    Oi Zeca,

    Que tortura na China, hein!!

    Principalmente na comida.

    Não sei se você sabe que os chineses costumam criar ratos de campo, bem gordinhos, em cativeiro, costumando comê-los como fosse carne de porco, fatiado.

    É o inverso do coreano, que aprecia cachorro.

    Mas, tudo bem, na fome vale tudo …

    Espero que psua róxima escala seja melhor, com menos tortura.

    Beijão,

    Sandra.

  5. 5
    Eu:

    Nossa Zeca, deve ter sido uma tortura mesmo!!!!
    E no entanto é sempre mágico o momento de ficarmos “tão” perto por conta da internet. Perto e rápido! Eu ainda lembro que telefonar de Petrópolis para Niterói, via telefonista, levava pelo menos uma hora. Agora, com internet ruim, o sinal chega de 20 em 20 segundos Brasil/China, um avanço sem dúvidas!

    Significativo o tamanho do pratinho de vocês… medida certa mesmo.

    Eu compreendo perfeitamente seu sentimento com a comparação com o Havaí. Senti algo similar em Lima, quando o guia disse que a cidade era igual a São Paulo…

    Na China, a informação que mais me impressiona, e ter a cidade mais distante de qualquer mar: “Fica na China o ponto do mundo que está mais afastado do mar (não sendo considerado o Mar Cáspio, por ser interior). Está no Deserto de Dzoosoton Elisen, província de Xinjiang, extremo norte do noroeste do país, próximo a curta Fronteira China-Rússia entre Cazaquistão e Mongólia. Suas coordenadas são 46° 16.8′ N 86° 40.2′ E e está a 2.648 quilômetros do Mar da Arábia.” Me dá aflição essa distancia… e nem sei exatamente por quê…

    Boa viagem aí!!!!
    beijos

  6. 6
    CECÍLIA:

    Nossa Zeca,coitado de voce….isso não é uma viagem,isso é uma autentica cilada….
    Que fim de mundo horrível…. ainda pra assistir torneio de golfe….deve ser chatíssimo,comida ruim….nossa to com pena de voce mesmo.

    mudando de assunto: Hj o Video Show mostrou uma matéria com vc sobre aqueles esqueminhas que vc fez sobre Avenida Brasil e os palpites que voce deu para o final da novela….. o que acertou e o que errou… deu 5 erros para 4 acertos….mas não tenho certeza,depois vc confere,tá!

    Bom então faça do limão uma limonada,não é assim? E nem reclame,pois não sei se sabe,mas nada é tão ruim que não possa ficar pior.

    Mas deve ter sido bom pra dieta do Ronaldo aí na China…. O cara olha pra comida e perde a fome na hora… legal,nem precisa de exercício depois pra queimar caloria….

    bj grande e ve se volta logo.

    quero refrãooooooooooooooooooo.

  7. 7
    Márcia Pereira Guaita:

    Olá, Zeca! Quando te vi no Fantástico com o Ronaldo pensei: Ah! Foi aí que você tirou aquela foto, hein?
    Opiniões ofendem pessoas? Sinceridade ofende pessoas? Críticas ofendem pessoas? Condutas ofendem pessoas?
    Ofensas magoam? Mas tudo passa! Até Avenida Brasil já passou! Pois é! O que eu comentei vale aluma coisa?Boa semana, meu amigo! (De verdade, viu?)
    Um abraço para o Fenômeno!

  8. 8
    Cristiane:

    Oi, Zeca!

    Eu sei eu sei, você é perverso! Sendo assim, claro que também ia querer participar da “tortura chinesa” (falar do fim da novela).
    Mas você vai achar que estou falando assim porque só consegui assistir uns 10 minutos do fim da trama… (aquele em que a Carminha salva o Tufão e a a mocinha?)
    O dever também me chamou.

    Gostei dessa ideia de “descobrir” o mundo através de uma janela. Não é a primeira vez que você fala dos arredores da janela do quarto de hotel que você está hospedado. Istambul, Madri, China… estou ficando bem “viajada”.
    Agora sério. Quanto vale uma opinião? Tenho aprendido que vale muito. Outro dia li a seguinte frase que chamou bastante a minha atenção: “quem não fala nada diz amém” o autor não deixou o nome. Que pena! Não vai dar para ninguém ir lá pedir para ele limpara o muro sujo.

    Um forte abraço

  9. 9
    Marcelo Menoli:

    Oi Cara,

    Venho aqui sempre que tenho alguma coisa pra te dizer ( O que não significa que não leio os posts…. Apenas não comento… Mas to sempre por aqui)

    Primeiro espero que você tenha se recuperado dessa tortura chinesa e que ela não te deixe traumas “Ching Lings”!

    Segundo……. Torço pra que você esteja com acesso a internet agora…. Porque o que tenho pra te mostrar abaixo é uma purificação pra quem sofreu uma tortura! Rs…

    Tá preparado pra ouvir uma Americana de origem Nigeriana….. e uma Romena que a gente jura que falava português…. E uma Belga que dá vontade de não parar de ouvir????!!!

    Como tem gente boa nesse mundo!

    Toma aí!!!!

    IYEOKA (A Américo-Nigeriana)
    https://youtu.be/9Pes54J8PVw

    LUCIA (A Romena)
    https://youtu.be/UAm_uoV1z5k

    SELAH SUE (A Belga)
    https://youtu.be/kt9FmFjt1vE

    Espero que isso te tragad e volta….

    Abs!

  10. 10
    Luiza Bravo:

    Zeca, estava com saudade dos seus textos! Esse final da faculdade, com laboratórios e mais laboratórios, está me matando!
    E sabe de uma coisa? Espaços como o seu blog são raridade hoje em dia. Tá realmente difícil achar conteúdo com opinião de qualidade e apuração séria, que não se acomoda com os confortos oferecidos pela internet.
    Eu passei por uma situação parecida com a sua enquanto estava morando na Inglaterra. Acredite, mesmo estando no “primeiro mundo”, minha conexão era péssima, e suei pra acompanhar, ao vivo, a estreia da Patricia Poeta no JN.
    Vou aproveitar os próximos dias, que serão mais tranquilos, para tentar retomar a leitura do blog com a frequência que gosto!

    Beijo grande!

  11. 11
    Paulo Carvalho:

    Boa Noite Zeca. Adoro ler o seu blog, pena que não consigo ler sempre. Uma dúvida:
    Quando você entrevista Rainhas como Madonna, não é permitido tirar fotos com ela? você não tem nenhuma?

    Abraços, sou seu fã.

    Paulo Carvalho.

    Resposta do Zeca – fala Paulo! Depende do artista. No caso da Madonna, não deu… Um abraço!

  12. 12
    Walleska Oliveira:

    Quanto vale uma opinião? depende da qualidade da opinião

    Qual é a mensagem que você passa que seu público entende?

  13. 13
    Andréia:

    Oi Zeca!!!
    Bem, ando meio atrasada com os posts, mas com relação ao “valor de uma opinião”, recebi de um amigo o texto que transcrevo a seguir e que, do qual, ignoro a autoria:

    “Quanto custa uma opinião?
    Perguntou certo cliente ao gentil funcionário de uma livraria, apontando um livro qualquer.
    Ao ouvir, contrariado, por parte do gentil funcionário que uma opinião não tinha preço, mas que ele daria a informação de bom grado, o ofendido cliente, em seu direito de consumidor, fez queixa ao dono da livraria.
    O dono da livraria, no seu direito de patrão, pediu satisfações ao gentil funcionário.
    O gentil funcionário respondeu depois da insistência do patrão frente aos seus eloquentes argumentos: ‘e os meus princípios?’
    O dono da livraria, ultrajado e dentro do seu direito de patrão responde com um tapa nas costas do gentil e parvo empregado: ‘pois principie logo!’”

    E, tentando ilustrar, um exemplo de “opinião imutável”:
    https://1.bp.blogspot.com/_SekuPoIqqTo/TU1_Im2TpTI/AAAAAAAAA1I/agTyg3OiN8c/s1600/Mafalda+-+07+-+Opini%25C3%25A3o+Imut%25C3%25A1vel.jpg

    Legal que você voltou!!
    :)
    Bom domingo!!
    Um abração!!

  14. 14
    Bruno:

    Já li do Zeca que ele não visita países ditatoriais por questão de princípios. Mas ele não sai da China. Por que não pede pra outro colega cobrir ele quando tem reportagem na China? Nunca vi o Zeca fazendo uma reportagem em Cuba.

    Não acha contraditório Zeca? Ou ditadura rica pode?

    Resposta do Zeca – fala Bruno! Recomendo que você acompanhe mais de perto meus comentários sobre destinos de viagem. Meu “protesto pessoal” é com relação a países onde as pessoas não têm liberdade de expressão. Viajo para ver gente – e não monumentos. Assim, paramim, uma viagem por uma cultura onde as pessoas não são livres para expressar, não faz sentido. No entanto, sempre que dou essa declaração, falo também que essa é a minha postura com relação a opções pessoais de roteiros de férias – quando então posso escolher livremente meu destino – a exceção, claro, são viagens a trabalho. E creio, sua observação de que “não saio da China” baseia-se apenas em reportagens quefiz por lá, certo? Por lazer, fui apenas a Hong Kong – imagino que não seja necessário explicar para você a diferença. Um abraço!

  15. 15
    CICERO AGUDO:

    O que mais eu posso dizer depois disso, meu grande idolo

  16. 16
    Guilherme:

    Muito bom adorei sou muito seu fã



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