Enquanto isso, na Cidade do México…

seg, 30/11/09
por Zeca Camargo |
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Reconheço que foi fácil. Tentei pegar a famosa Casa Azul, onde se desenrolou parte do grande e improvável amor (mais sobre isso mais tarde) entre Frida Khalo e Diego Rivera, de um ângulo meio inesperado – mas a pirâmide que estranhamente adorna aquele jardim acabou sendo uma escolha quase óbvia… Se bem que eu não tinha outra opção: a outra foto que eu tinha tirado até o momento em que escrevi o post anterior era essa aí abaixo – uma referência ainda mais óbvia a um aspecto inegável da cultura mexicana: a “Lucha Libre”! Aí sim que seria fácil…

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De qualquer maneira, a brincadeira era menos para te dar trabalho do que para ilustrar minha passagem por essa estranha e cativante cidade. Não foi a primeira vez, é claro! Na verdade, o México foi um dos primeiros países estrangeiros que conheci – depois da Argentina, do Uruguai, e dos Estados Unidos. Tinha pouco mais de dez anos, quando meu pai achou que eu e meus irmãos deveríamos nos interar um pouco mais de nosso passado “americano” – não exatamente “americano” como você talvez esteja pensando (isto é, que diz respeito aos Estados Unidos), mas “Americano”, referente ao nosso grande continente. Então, ainda criança, fui visitar museus lindíssimos na capital mexicana, e ficar apaixonado por uma cultura que, diga-se, já estava por aqui muito antes de o bravo descobridor que emprestou seu nome ao continente ter sequer embarcado da Espanha!

Lembro-me ainda de ter presenciado – com um misto de fascínio e horror – minha primeira (e única) “corrida de touros” (isto é, tourada) – espetáculo registrado em fotos hoje praticamente sem cor que supostamente deveriam estar protegidas para sempre no meu álbum Kassuga. E de ter passeado num tremelicoso barquinho colorido (e florido) em Xochimilco, enquanto ouvia duvidosos “mariachis” ao longe, provavelmente em embarcações que congestionavam aquelas águas. Curiosamente lembro-me ainda da impressionante entrada do hotel onde minha família ficou hospedada – um precoce interesse em arquitetura, talvez, já que se tratava de um trabalho do premiado Ricardo Legorreta. E, ainda nos detalhes, das poucas coisas que sobreviveram à ação dos químicos da cola do álbum Kassuga, é a imagem de um medalhão que reproduzia um calendário asteca – supostamente de prata, mas provavelmente apenas banhado –, imponente sobre a malha de gola rolê que parecia ser meu uniforme da temporada… Provavelmente estava me achando “chique no úrtimo” (como se costuma dizer), mas eu divago…

Só fui me reencontrar com o México décadas depois – e por conta de ninguém menos que Alanis Morissette. Como já contei aqui, a cantora é a artista (nacional ou internacional) que eu mais entrevistei na minha carreira jornalística! E o primeiro encontro foi justamente na Cidade do México – há treze anos! Já que a cidade é uma escala importante para artistas que estão em turnê mundial, fui para lá outras vezes por conta de entrevistas com bandas tão diversas como o N’Sync (sim, N’Sync!) e o Blur – quando deu-se então o trágico encontro com meu ídolo Damon Albarn, já descrito no meu livro “De a-ha a U2″ (mas aqui eu divago… pela segunda vez… deve ser o ar do México…).

E depois, claro, houve uma passagem também memorável, na primeira Volta ao Mundo que dei pelo “Fantástico”, em 2004 – quando, logo de saída, num projeto em que a audiência deveria escolher o meu itinerário, México venceu a Guatemala no voto popular (fui só de passagem pela Cidade do México, já que nosso destino final ali era a lindíssima Oaxaca, mas mesmo assim, deu para aproveitar).

Fato é que, nessas ao longo de todas essas visitas, minha percepção da cidade mudou bastante. Aquele primeiro registro de menino, claro, tinha tintas fortes e exóticas. Quando voltei muito tempo depois, a primeira impressão foi negativa – tudo me lembrava São Paulo, mas não exatamente de uma maneira positiva. Nas viagens subsequentes, porém, talvez ajudado pelos grupos que me levaram até lá (esse pessoal de gravadora, que acompanha artistas internacionais é sempre bem animados!), fui descobrindo uma outra Cidade do México. Um lugar de “mariachis” e “luchadores libres”, sim, mas também uma cidade moderna, vibrante, que mistura justamente essas tradições com novas tendências – e que do brega consegue tirar um chique sem pestanejar.

Preciso lembrar como a cultura pop mexicana está presente em todo lugar hoje em dia? Seja nos filmes – por trás (Alfonso Cuarón, Guillermo del Toro) ou na frente das câmeras (Selma Hayek, Gael Garcia Bernal) – ou na música (já ouviu o ótimo Benny, ou a rainha do pop mexicano, Paulina Rubio?). Tem coisas boas na literatura – e até mesmo nas artes plásticas. Sem falar que a capital tem uma vida noturna vibrante!

Não vou me lembrar de nomes de clubes que frequentei nessas passagens – até porque, cinco anos depois, conhecendo a noite mexicana (e a de qualquer grande cidade, para ser sincero), eles já nem devem mais existir. Mas sei que as áreas mais divertidas se encontram em Polanco (que é um pouco mais careta, mas também bem sacudido) e em Condesa (com um “s” só mesmo, mas que se lê como se tivesse dois, em português). E essa regra, posso confirmar, vale até hoje!

Fui desta vez num esquema muito corrido, com muito pouco tempo (mais ou menos como minha visita a Nova York na semana anterior), mas mesmo assim deu para aproveitar um pouco da cidade. Ajudou, por exemplo, ter ficado hospedado em Condesa – área não só dos restaurantes mais animados (pense em Vila Madalena, para dar uma referência mais paulistana), como também de uma das minhas livrarias favoritas no mundo, a Pêndulo! Certa manhã pelo meu hotel, reconheci (com a ajuda da nobre produtora que me acompanhava – e que é a autora da foto acima!) um rosto que parecia ser do diretor de cinema Alejandro Iñárratu circulando pelo lobby do nosso hotel. E no final do dia, bingo! – descobrimos que era ele mesmo filmando uma cena de seu próximo filme por lá! Percebeu o clima de Condesa? Pois é para lá que eu quero ir sempre que passar pela Cidade do México.

Mas a melhor revelação desta vez não foi nenhuma dessas áreas da cidade que citei, mas Coyoacán. Eu já havia passado por lá anteriormente – justamente para conhecer a Casa Azul, onde moraram Frida e Diego! Mas foi numa daquelas visitas corridas – me lembro de pegar um táxi em Polanco, dar o endereço da casa (rua Londres!) e voltar em seguida para um compromisso. Na última semana, a passada pela Casa Azul foi durante um dia de gravações por lá – e, com tempo de sobra, deu para passear um pouco pela região e chegar à conclusão de que aquele é um dos bairros mais encantadores do mundo. Com suas casas coloridas – muitas cabem na categoria de “casarões”, quase sempre de inspiração colonial -, muitas árvores, e uma relativa tranquilidade nas ruas (se compararmos, claro, à agitação de áreas mais movimentadas, como o Zócalo, ou mesmo Polanco!), Coyoacán foi uma grata surpresa.

Ainda mais porque tive a chance de voltar para lá no último dia, quando fui entrevistar a escritora Laura Esquivel – numa conversa que me deixou também encantado (e, sim, isso já é um “teaser” para essa série de reportagem que você vai ver só no ano que vem…)! O único problema é que Coyoacán fica meio longe – e o trânsito na Cidade do México continua infernal! Não fosse isso, teria arrumado um jeito de ir passear lá todo fim de tarde, para experimentar, naquele cenário, a brusca mudança de temperatura na Cidade do México nesta época do ano – dos 22/23 graus de dia, para os menos de 10 graus quando o sol vai embora! E teria visitado mais vezes a Casa Azul – não só por sua beleza e tranquilidade, mas também para me inspirar naquele grande e improvável amor entre seus moradores.

Não foi curioso como a simples sugestão de que essas duas coisas andam juntas provocou um certo frisson? Como você pode conferir em alguns comentários ao post anterior, não foram poucos os que questionaram essa colocação – ou, se não questionaram, pelo menos se viram tentados a flertar com ela… A história de Frida e Diego é das mais fortes de todos os tempos, e – não tenho dúvida – foi essa força que a fez entrar de maneira tão forte na cultura popular, não só do México, mas do mundo todo.

Mas o que é mais fascinante – fora os detalhes sórdidos, como a notória feiúra de Diego e as lancinantes dores que atormentaram Frida a vida inteira – é a possibilidade de que um romance como esse possa se reproduzir em nossa vida. Outro dia falei do filme “500 dias com ela” – onde um amor, digamos, ordinário, é capaz de inspirar milhares de jovens a se apaixonar. Frida e Diego nos falam de um outro amor – mais dramático, mais perigoso, mais complicado, e até mais sofrido! Mas qual o problema em desejar um desses também para nós? Desses dois artistas sensacionais, brotou uma relação única que fascinou gente no mundo todo. E, mais uma vez, eu tive o privilégio de poder visitar o cenário desse romance – e inevitavelmente ser seduzido também por essa histórias de amor e de extremos.

Aliás, só para – quem sabe – provocar mais um pouquinho… Amor e extremos… Não é tudo a mesma coisa?

Deixa para lá… Que viva México!

Onde estou?

qui, 26/11/09
por Zeca Camargo |
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zeca

Desta vez está relativamente fácil… Tanto que, além de registrar que estou fora do Brasil, tudo que posso dizer – para não entregar demais a resposta – é que este foi o cenário de um grande amor. Tão grande quanto improvável – aliás, não são todos?

Nos falamos na segunda!

“Precious”

seg, 23/11/09
por Zeca Camargo |
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Uma das cenas mais cruéis que vi no cinema recentemente foi em “500 dias com ela”. Assisti ao filme no avião, a caminho de Nova York, na segunda-feira passada e fiquei chocado – quase desliguei a minúscula tela da poltrona na minha frente e fui dormir. Num primeiro momento parece uma cena inconsequente – de um filme que só parece inconsequente, mas é, na verdade, uma das mais originais histórias de amor que vi contada recentemente no cinema (apesar de, logo no início, a voz do narrador já avisar que “não” se trata de uma história de amor… não acredite!). É o seguinte: Tom Hansen (interpretado pelo ótimo Joseph Gordon-Levitt) abre a torneira de uma pia e diz para sua namorada Summer Finn (a não menos ótima Zooey Deschanel) que eles estão sem água – como se fossem uma jovem dupla recém-casada lidando com mais um problema doméstico.

Eles estão, na verdade, numa loja de decoração, onde todos os ambientes, claro, são montados sem as instalações verdadeiras – e tudo é, portanto, uma brincadeira. Summer, no entanto, não acha a menor graça – e nem você que está assistindo. Mas aí o filme volta alguns dias no tempo – parte do charme de “500 dias” é o vai-e-vem do calendário da relação entre Tom e Summer – e você entende a piada: numa outra fase do relacionamento, quando tudo era novidade e tudo ia bem entre eles, os dois já haviam feito a mesma brincadeira na loja (com variações sobre o tema), e tinham se divertido como… bem, como dois jovens apaixonados!

Onde está a crueldade? – você já deve estar se perguntando… Se você precisa realmente de uma resposta é porque nunca se sentiu apaixonado e viu, na sequência, essa paixão diminuir de um lado só – claro, daquele que não é o seu… Ou então seu nome é Claireece Jones, mas todo mundo chama você de Precious!

“500 dias com ela” tem muitos méritos que merecem ser discutidos neste espaço, porém, quem sabe, numa outra hora. Hoje é dia de falar de “Precious” – o filme –, que acabou sendo o mais votado na enquete informal que lancei no último post.

precious

 

Foi uma disputa interessante, com argumentos interessantes. E foi até acirrada – em alguns momentos achei que o filme de Spike Jonze iria ganhar… Mas do meio para o fim dos comentários, “Precious” tomou a dianteira e ganhou a votação (e mesmo depois de o prazo ter encerrado, muita gente continuou votando nessa opção!).

Assim, na minha “noite de folga” de uma semana que foi intensa no que diz respeito a entrevistas em Nova York, fui ao cinema uma única vez para ver “Precious”: a história de uma adolescente que foi tão abusada – sexualmente, fisicamente, verbalmente, moralmente – pelas pessoas em sua volta (e isso inclui claro, sua “adorável” mãe e seu monstruoso pai, que, quando o filme começa está estuprando filha pela enésima vez, e a engravida pela segunda!), que toda emoção parece ter abandonado o seu coração. Ou melhor – ou seria “ou pior”? –, as coisas absurdamente horríveis que aconteceram na vida de Precious criaram uma espécie de “firewall” que simplesmente impediram que qualquer emoção florescesse nela. Essa sua “educação” (formação?) foi tão brutal, que ela assistiria “500 dias com ela” como se fosse o mais sem graça dos documentários sobre vida animal. Aliás, ela assistiria ao filme da sua própria história com o mesmo entusiasmo. Não sentiria nada, pois nunca soube o que era sentir…

O espectador, porém, sente – e muito! Sente revolta, repulsa, indignação, raiva, perplexidade. Curiosamente, no entanto, não sente pena. “Precious” – que, é retratada com convicção nas telas pela novata Gabourey Sidibe, e, só lembrando, é uma história baseada numa personagem real – é um espetáculo degradante tão forte, que em menos de meia hora de filme somos como que induzidos a uma fascinação mórbida pelo que está sendo mostrado. Com exceção da cena final – na qual a comediante Mo’Nique faz um discurso capaz de deixar mesmo os mais insensíveis ligeiramente perturbados – as adversidades que vão chegando para Precious (sua primeira filha, fruto sim de um estupro do pai, nasceu com síndrome de Down, e é chamada por toda a família de “Mongo”; logo depois de seu segundo filho nascer, ela descobre que adquiriu o vírus HIV, “cortesia” também de seu pai) vão se acumulando sem que elas provoquem em grandes reações em quem assiste, como se tudo aquilo estivesse mesmo predestinado a acontecer no decorrer de uma vida tão amaldiçoada quanto a da protagonista. E isso talvez seja o aspecto mais incômodo do filme: você sabe que aquela história é verdadeira; e sabe também que ela não é única – há uma ou mais Precious morando não muito longe de você; mas você não faz nada… Mesmo assim, você simplesmente assiste ao desfile de horrores como se fosse impossível mudar alguma coisa.

Nossa “incompetência” em detectar histórias cruéis como a de Precious e fazer alguma coisa para mudá-las (detectada brilhantemente num artigo de Raina Kelley para a “Newsweek”) é uma das provocações mais sutis do filme – que, aliás, está longe de ser perfeito. O trabalho do diretor Lee Daniels (que talvez você se lembre por causa de “A última ceia”, que deu um Oscar à Halle Berry) levou nada menos que três prêmios no último festival de Sundance – inclusive o Grande Prêmio e o prêmio do júri popular – e continua colecionando outros. Todo mundo já está falando que vai sobrar pelo menos algum Oscar para “Precious” – as apostas mais altas são para Mo’Nique, como melhor atriz. Mas é difícil não notar os clichês de um melodrama, programados para  funcionar bem no cinema: a professora determinada de uma escola para alunos especiais; a assistente social incapaz de detectar que a família de Precious está longe de ser um modelo de comportamento; as pequenas conquistas de uma adolescente analfabeta que esboça suas primeiras palavras na leitura…

Mas se você sobreviver a tudo isso vai ver um bom filme – que tem até algumas ótimas surpresas, como atuações inesperadas de Mariah Carey e Lenny Kravitz (ambos totalmente desprovidos de vaidade em seus papéis – e olha que para deixar essas duas estrelas visualmente interessantes, é preciso uma boa dose de talento… e perversidade!). Carey, em especial, está tão irreconhecível que só na sua segunda aparição eu tive certeza de que era ela (e olha que eu já sabia que ela estava no elenco!) – além de ser responsável também, em parte, pelo triunfo da cena final.

Com tudo isso, só posso agradecer que a maioria das pessoas que passam por aqui escolheu “Precious” para eu assistir em Nova York. Estava muito a fim de ver “Onde moram os monstros” também – embora ache que sua estréia no Brasil não demora. E o filme de George Clooney, embora as perspectivas de chegada ao Brasil não sejam das melhores, também me deixou curioso – mas não tanto. Assim, graças a você (se “Precious” foi o seu voto!), vi essa estranha fábula de horror – e gostei!

Embora ainda ache que, em termos de crueldade, nada é pior do que perceber que um amor não existe mais. E, nesse quesito, insisto: nada supera “500 dias com ela”…

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A interatividade a meu favor

qui, 19/11/09
por Zeca Camargo |
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Estou em Nova York e preciso de ajuda. Desta vez, o tempo para o lazer é curto – e posso até confessar que o máximo que tive de diversão esses dias foi assistir ao novo vídeo de Lady Gaga (primeira e última vez que a menciono neste post, juro!) em alguns taxis que peguei ontem para circular pela cidade – parece que houve uma espécie de blitz de “Bad romance”  nos “carros amarelinhos” de NY, como estratégia de lançamento. Algo que para quem, como eu, é do tempo que se anunciava a estreia de um clipe com pompas e honras em um canal exclusivo de música, não deixou de causar certa estranheza.

Porém, não estou aqui para reclamar – mas sim comemorar o fato de que nesta quinta-feira tenho a noite livre: gravo apenas até o final da tarde e depois… bem, posso escolher um filme para ver! E é aí que você entra! Quero que você me ajude a escolher que filme devo encarar. Não pense que é será uma escolha gratuita… Aquele mais “votado” será tema do post de segunda-feira – que tal? Não é interessante?

Das três opções que vou dar abaixo não tenho exatamente uma favorita. Quero ver os três filmes, eventualmente. Mas qual deles você acha que eu devo assistir com mais, digamos, urgência? Serei breve na descrição deles, pois imagino que você que gosta de cinema já deve saber mais ou menos do que se trata. E quem está ouvindo falar deles pela primeira vez não vai ter a menor dificuldade de encontrar mais informações sobre cada um deles aqui mesmo na internet.

Assim, vamos lá: mande seu comentário com sua escolha. Mas tem que ser rápido, pois vou conferir o resultado hoje mesmo por volta das 21h do Brasil – aqui são três horas a menos e, por isso, “fechando” a votação por volta das 18h, dá tempo de eu me programar. E na segunda então você fica sabendo o que achei do filme escolhido pela maioria. Aqui estão eles (em nenhuma ordem de preferência!):

zeca
1)    “The men who stared at goats”  (“Os homens que encaravam cabras”?) – George Clooney estrela essa adaptação de uma história supostamente real, de um treinamento secreto do exército americano cujo objetivo era usar o poder da mente como arma militar (os exercícios, como você já adivinhou, eram com as pobres cabras!)
2)    “Precious” – Adolescente obesa de periferia é abusada sexualmente pelo pai, psicologicamente pela mãe e azucrinada pelo resto do mundo. Favorito do Sundance Festival…
3)    “Where the wild things are” – Spike Jonze… precisa falar mais?

E então? Meu destino – assim como o destino deste blog – está nas suas mãos…

A pedidos: mais Gaga (de um ângulo talvez inesperado)

seg, 16/11/09
por Zeca Camargo |
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Caro fã de Lady Gaga, esse post é para você. Se você, no entanto, não se encaixa neste grupo, não desanime: siga na leitura – e, se puder, contribua com minha sondagem sobre música pop e música clássica. Espere: agora talvez seja você, fã de Lady Gaga, que queira abandonar o texto, mas o mesmo apelo vale para você: não desista. Pois eu vou falar justamente do último vídeo da cantora – na verdade, da sua mais nova música, “Bad romance” (um pedido de boa parte das pessoas que deixaram seus comentários para o último post. Que, aliás, é genial. E que me fez lembrar dessa espécie de ponte que aparece, de vez em quando, entre a música pop e a música clássica.

Você foi uma das mais de nove milhões de pessoas que – até agora – assistiram ao novo vídeo no youtube? (Eu mesmo tenho o orgulho de ter contribuído com cerca de doze “clicadas” no link). Pergunto, porque é mais fácil acompanhar o que vou escrever agora se você está pelo menos familiarizado com “Bad romance”. Aliás, mesmo que você já tenha ouvido a música, clique lá de novo para a gente continuar “no clima”. Eu espero…

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Reparou na introdução? Aquele estranho som que abre a canção vem de um instrumento que raramente aparece numa música pop: um cravo! Essa porém não é a única indicação de que uma inspiração erudita pincela o novo sucesso de Lady Gaga – isso seria, aliás, óbvio demais, e eu mesmo não esperaria um truque tão fácil dessa artista que, como você talvez tenha conferido no último “Fantástico” , é bem mais que uma cantora pré-fabricada. A verdadeira pista vem logo em seguida na canção, quando entra aquele coro tipo “ô-ô-ô-ô”. Lembra? Pode ser maravilhosamente aproveitado num belo show de estádio (como os que ela está planejando fazer em sua turnê mundial). Mas tente cantar sozinho “bocca chiusa” (Wikipédia – já!) e veja se ele não lembra um bom momento de uma inspirada ópera de Puccini…

Aqui e ali em “Bad romance”, Lady Gaga – que desde pequena, como todo bom fã sabe, foi boa no piano – solta pinceladas de virtuoso (no sentido mais musical possível) que ao mesmo tempo que são sofisticadíssimas, passam quase despercebidas na música – um segredo que, como ela me contou na entrevista, ela já tinha detectado nos Beatles! Se você é mais estudioso de música do que eu (o que não é difícil), tenho certeza de que vai identificar esses momentos com bem mais facilidade que este que vos escreve… De qualquer maneira, bem no fim da canção, Gaga solta a evidência definitiva: um jogo de sílabas musicais – quase “a capella” (além das vozes, apenas palmas no acompanhamento) – que seria digna da banda que foi pioneira nesse “truque”: o Queen!

Isso mesmo – o Queen!

“Bohemiam rhapsody” é, claro, o exemplo mais fácil de citar de toda a obra irreparável desses ingleses. Mas nem é preciso ser muito fã (eu sou!) para lembrar de outros momentos “eruditos” do Queen. Aquele pequeno coral que antecede o refrão de “We are the champions”, que tal? Ou o interlúdio instrumental de “Love of my life”? Tem também aquele clímax de “Somebody to love”, que começa baixinho e explode no final. E, em termos de sofisticação, acho que nada supera a incrível “Bycicle race”.

Fãs do Queen já devem estar ensaiando suas linhas indignadas para me mandar um email, em retaliação por eu ter feito uma comparação tão “plebéia”. Mas o que é mais leviano: eu tentar aproximar uma das artistas mais populares da atualidade de uma das bandas mais geniais que o pop rock já teve – ou o preconceito de que não quer nem dar uma chance para essa comparação? Afinal, é tudo música! Você pode até dizer que gosta mais de uma do que de outra – mas não que uma é melhor que a outra… Mas eu divago…

Voltando ao inegável elo entre música clássica e música pop, o Queen é só o nome que vem à cabeça. Mas essa ligação aparece nas canções mais inesperadas. Veja só: há alguns anos eu estava numa mega loja de discos (faz tempo – elas ainda existiam!) quando ouvi o que parecia ser um reggae antigo e fiquei completamente hipnotizado. Saí perguntando e descobri que se tratava de uma coleção de raridades (“Studio One”), que comprei na mesma hora. E quando ouvi mais atentamente a faixa em questão, “King street”, na voz de um injustamente esquecido grupo de mulheres que se chamava The Soulettes, tive uma espécie de revelação, uma epifania: aquilo parecia uma pequena composição de música barroca, mas havia sido gravada nos anos 60… e na Jamaica! Como isso era possível? Bem, chama-se música… Mas vamos avançar no tempo.

Nos anos 70, o rock progressivo bebeu “legal” na fonte da música clássica – e eu posso provar isso, já que fui um dos (hoje) “dinossauros” que assistiu à performance de Rick Wakeman quando ele passou pelo Brasil (quase nenhuma banda vinha tocar aqui naquela época – mas eu seu que isso não é desculpa…). E mesmo a “disco”, que dominou a segunda metade daquela década, além de “samplear” muita coisa (antes mesmo desse verbo existir!), tinha lá seus compositores com inspiração clássica – como o italiano Giogio Moroder, para citar apenas um (seu sensacional arranjo de “I feel love” para Donna Summer não estaria tão deslocado numa missa emocionada numa igreja da Europa no século 18!).

Por falar em música sacra, já reparou que “Rapture”, do Blondie – considerada a primeira música “rap” de um artista não negro –, tem um quê de “spiritual”? E, nessa mesma linha, não vamos nem falar de Madonna com seu “Like a prayer”… E seria demais sugerir que “Fall on me” – uma das mais bonitas músicas do R.E.M. –, harmonizaria muito bem no meio de uma liturgia?

Quer sair do universo religioso? Muito bem! Portishead (eu sei que os violinos de “Glory Box” são sampleados de Isaac Hayes, mas pense na estrutura dessa e de outras músicas da banda); alguma coisa do Blur (“Out of time”, digamos); Primal Scream (o que é “Come together” se não um bom “gospel”?); The Verve (“Bittersweet symphony” é chupada dos Rollins Stones, todos sabemos… mas você entende o que eu quero dizer? Se não entende, ouça também “The drugs don’t work”); Coldplay (pense na introdução de “Viva la vida”); e praticamente tudo do Radiohead! As “evidências” são tantas (se você lembrar de mais uma, pode mandar um comentário!), que fico até sem graça de entregá-las todas assim para você, correndo o risco de tirar o prazer da sua descoberta…

gaga

Enfim, fiz essa breve “linha do tempo” para chegar em Lady Gaga e seu “Bad romance”. Se não cheguei a convencer quem não é fã, pena. Só lamento – talvez seja um conceito “radical demais”, que leve um tempo até fazer sentido… Ou então, nem é preciso insistir nisso: basta assistir ao vídeo mais uma vez, para apreciar o “conjunto da obra”… Quem faz um clipe tão exuberante, sofisticado, divertido – e até mesmo engraçado (tive um ataque de riso, na primeira vez que vi aquela cena final!) – hoje em dia?

Lady Gaga!

Vida longa à Rainha!

Duas ou três coisas que aprendi com Lady Gaga

qui, 12/11/09
por Zeca Camargo |
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Se aprendi uma coisa nessa vida de bastidores do showbiz é que você pode esperar qualquer coisas de um entrevistado. De Courtney Love (até hoje a recordista em tempo de espera, com um atraso de 9 horas para finalmente receber nossa equipe!) a Kurt Cobain (cuja própria mulher – hoje viúva – empurrou nossa conversa que seria no fim da noite para a alta madrugada), as estrelas mais temidas – isto é, as que tem a fama de serem mais “difíceis” com a imprensa – inesperadamente podem se tornar as mais cândidas (como aliás aconteceu no caso dos dois artistas já citados). Assim como a celebridade mais “treinada” para lidar com a mídia pode surpreender com um arroubo emocional e colocar tudo a perder – como foi o caso de Britney Spears, que minutos antes da segunda vez que eu ia entrevistá-la, irrompeu pela porta do quarto onde o encontro aconteceria aos prantos, cancelando todos seus compromissos na sequência. (Para quem quer mais, os detalhes dessas entrevistas, bem como uma coleção de histórias como essas pode ser encontrado no meu livro “De a-ha a U2”).

Lady e eu

No meu arquivo pessoal, porém, prefiro sempre ficar com as boas surpresas – e se um dia eu resolver fazer um segundo volume dessas “memórias”, certamente vou abrir um capítulo para duas delas. A primeira, foi com Shakira – que o “Fantástico” mostrou domingo passado (e você pode rever aqui). Resumindo bem – afinal de contas, tenho que guardar alguma coisa para o caso de o livro sair… – fiquei simplesmente encantado com a honestidade da dedicação da cantora a um outro trabalho que não tem a ver com sua música, mas com um trabalho social: sua campanha pela educação primária de crianças pequenas, que começou com uma pequena iniciativa na sua cidade natal (Barranquilla, na Colômbia) e hoje é uma organização que está presente em vários países latino-americanos (inclusive o Brasil) e não para de crescer!

Ao contrario de boa parte das celebridades que simplesmente emprestam seu rosto para uma causa humanitária (muitas vezes – infelizmente – como uma alavanca para sua carreira), Shakira é 100% envolvioda com sua causa. E a paixão com que ela fala de seu projeto, por vezes até supera a que tem pela música. Poderosa – quantas artistas atuais podem se orgulhar de fazer sucesso no mundo todo, inclusive no Oriente Médio? – e generosa, Shakira sabe que para levar adiante sua missão pessoal precisa mais ainda do sucesso em sua carreira, e assim, investe nas duas coisas com a mesma garra. Se já era fã, virei seu grande admirador depois de nossa conversa.

A outra artista que me surpreendeu recentemente – como quem me acompanha com mais assiduidade aqui já pode imaginar – foi Lady Gaga.

Preciso escrever aqui (mais uma vez) que ela é a artista mais interessante que apareceu  no pop recentemente? Ou que “Paparazzi” é a melhor música pop do ano (estamos em Novembro, e eu desafio qualquer artista a vir com algo melhor em seis semanas…)? Já me rasguei aqui em elogios com relação à sua performance recente no Vídeo Music Awards da MTV americana. Assim, vou cortar qualquer introdução para ir direto ao nosso encontro, que aconteceu há duas semanas, em Nova York.

Primeiro, preciso explicar que foi uma coincidência. Há meses – junho deste ano, para ser exato – eu já havia pedido junto à gravadora uma entrevista com Lady Gaga, por motivos óbvios: ela já estava fazendo barulho suficiente no pop internacional para ganhar seu espaço na TV brasileira. Essas coisas, porém, nunca acontecem assim tão facilmente… A resposta para um pedido desses, quando é feita assim, fora da época do lançamento de um novo trabalho, é sempre um “tapinha nas costas” na linha “vamos ver se ela está disponível”… Tanto é que eu cheguei a me esquecer que tinha feito esse pedido. Tanta coisa aconteceu nos últimos cinco meses (deu até para fazer um “No Limite” inteirinho nesse meio tempo!), que eu tinha literalmente desencanado dessa entrevista, até que um valoroso produtor (e amigo) do “Fantástico” veio com a notícia de que ela estaria disponível para a entrevista dia 29 de outubro, em Nova York.

Do meu lado, eu já tinha programado uns dias de folga na cidade exatamente naquela semana. Fiquei feliz com a coincidência – que já era em si um bom sinal. Assim, numa quinta-feira ensolarada, depois de um drinque com amigos no teto do Metropolitan Museum – onde tinha acabado de ver uma mini-exposição em torno de uma verdadeira obra-prima emprestada do Rijksmuseum holandês: “A leiteira”, de Vermmer –, fui a pé até um hotel em Columbus Circle e esperei. Sim, porque esperar faz parte…

A perspectiva não eram muito ruim: Lady Gaga, anunciava seu assistente, atrasaria uma hora para começar as entrevistas. A sugestão era que eu voltasse em uma hora – tempo que gastei então na megalivraria Borders, ali mesmo no Columbus Circle. Quando retornei, o mesmo assistente disse que Lady Gaga já estava lá, que as entrevistas já haviam começado, e que a minha aconteceria dali a mais uma hora. Não posso dizer que reclamei de passar mais uma hora na Borders, mas, só lembrando, estava em Nova York de “folga”… Se ela atrasasse um pouco mais, poderia facilmente arruinar meu programa da noite – e só de pensar nisso eu já começava a ficar um pouco tenso.

No entanto, quando voltei ao quarto do hotel, exatos 60 minutos depois do segundo aviso, veio a boa notícia: eu era o próximo na fila! E menos de um quarto de hora depois eu estava diante de um rosto redondo emoldurado por uma cabeleira loira – muito loira! – vestida num longo preto de cetim (quem, em sã consciência, recebe a imprensa de tarde para entrevistas num longo preto de cetim?), e óculos escuros “banda larga” e praticamente impenetráveis! O que esperar de uma figura assim? Bem, como já disse que a experiência me ensinou… qualquer coisa!

Apesar de ser fã – e, por isso, acompanhar bem sua carreira –, naquela manhã achei que precisava me preparar um pouco melhor para entrevistar Lady Gaga. Assim, mesmo de férias – é bom reforçar –, dediquei boa parte da minha manhã a conferir outras entrevistas que ela havia dado na TV (viva youtube!), apenas para sentir o clima. Ela me pareceu extremamente atenciosa e paciente em quase todas elas (a com Johnathan Ross é a exceção gritante!), especialmente com quem lhe perguntava pela “zilionésima” vez de onde vinha seu nome (para os não iniciados, vem da música do Queen, “Radio Gaga”). Fiz uma anotação mental para não fazer essa pergunta…

Diante dela, porém, toda minha pauta desmoronou. A mulher poderosa dos clipes e das poucas performances no palco que eu pude conferir parecia recatada – quase frágil. Tudo bem que essa era a quarta ou quinta entrevista do dia – essas sessões acontecem sempre em “pacote” –, mas será que ela estava tão cansada assim a ponto de mal projetar a sua não exatamente tímida voz? Seria um personagem? Um truque para eu me compadecer e tentar poupá-la fazendo a entrevista com menos do que os 15 minutos que me haviam sido concedidos?

Nada disso. Aquela impressão inicial era passageira. Não demorou muito para perceber que não era eu que estava avaliando ela, mas ela que estava me “sacando”, tentando descobrir se aquela seria mais uma entrevista protocolar ou ia dar para sair uma conversa interessante. Senti-me desafiado e comecei – confesso – meio nervoso. O que foi bom, pois acho que acertei logo na primeira pergunta: se era mais importante para ela ser reconhecida como uma cantora pop ou uma artista performática…

A resposta para essa – e as outras perguntas – você vai ver em breve no “Fantástico”. Podemos até discuti-las mais para frente aqui mesmo neste blog. Mas eu quero avançar um pouco essa conversa para falar mais das minhas impressões sobre Lady Gaga – aliás, como fiz no próprio livro que já citei (“De a-ha a U2”), depois de ter chegado à conclusão de que boa parte do que é dito nessas entrevistas envelhece, mas a experiência de encontrar essas pessoas fascinantes não!

Apenas de observar seu trabalho eu já podia perceber que Lady Gaga não era uma artista comum. Não estou falando exatamente das qualidades que podem – como já se comenta fortemente – fazer com que ela seja a sucessora natural de Madonna (ela mesma parece que reforça essa idéia!). Mas das sutilezas que fazem dela algo bem mais interessante que uma mera cantora pop. Sim, ela estuda música (clássica inclusive) desde os quatro anos de idade. Sim, ela se infiltrou no circuito das artes alternativas de Nova York ainda adolescente. Mas de alguma maneira a soma dessas duas partes do seu talento acabou resultando em algo muito maior.

Ao discutir sua apresentação no VMA – aquela surreal interpretação para “Paparazzi” – Lady Gaga começou a se abrir e a ficar mais à vontade, falando de sua arte não como uma alavanca pretensiosa, mas com um caminho natural de sua expressão. Ao fazer seu vestido sangrar no palco (sim, isso fazia parte da performance!) ela estava nada sutilmente criticando o culto à celebridade – uma subversão da própria letra da música original. Aliás, por falar em música original, ali e em tantas outras aparições no youtube é possível ver seu virtuoso musical: Lady Gaga não se contenta em apresentar sempre a mesma versão de um sucesso seu; quer sempre explorar novas versões – e, com isso, mexer com a cabeça de seus fãs.

Essa aliás me deu a impressão de ser sua missão maior. Lady Gaga, sem dúvida, está bem mais rica do que há dois anos – e com sua turnê mundial vindo por aí (cujos detalhes mais bizarros, do tipo “é a minha trajetória na terra desde que eu era uma célula!”, ela adiantou na entrevista), vão ficar mais ainda. Seu nome já é reconhecido no mundo inteiro e já está gravado no disputado panteão do pop. Mas se ao longo do caminho você conseguir fazer seus fãs pensarem um pouco mais no que estão vendo e ouvindo, ela fica ainda mais satisfeita.

Quais são, enfim, as duas ou três coisas que aprendi com Lady Gaga? Primeiro de tudo, não julgar um artista apenas pelo seu produto final – tem sempre muita coisa no seu processo criativo que pode te surpreender. Depois, nunca me desanimar com o pop – pois sempre vai aparecer gente com a sofisticação e inteligência como a dela para oferecer ao mundo um trabalho interessante. E ainda, se for para passar uma mensagem maior com sua arte, tente fazer com que ela seja simples e acessível: o que tem que ser maior é a intenção e não o que as pessoas vão receber, já que cada um interpreta tudo do jeito que quiser.

Nesses encontros com celebridades, raras são as vezes que eu lamento quando acaba nosso tempo de entrevista. O feitiço de Lady Gaga fez não só com que eu a perdoasse pelas duas horinhas de atraso, mas ainda com que eu desejasse que o relógio ali parasse por um tempo e obedecesse o comando de um de seus primeiros sucessos: “Just dance”!

Sobre a frase de Rimbaud

seg, 09/11/09
por Zeca Camargo |
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Pois é, infelizmente a frase do post anterior não é minha – algo que as próprias aspas já indicavam, claro, mas que eu quis esclarecer logo no início da nossa conversa de hoje. Aliás, já que é para dar crédito, parabéns à Andréia, que foi à fonte e citou em seu comentário o próprio autor, o poeta francês Arthur Rimbaud (1854-1891), inspiração quase sagrada para homens e mulheres de 17 anos “de todas as idades” – se é que você me entende… (Marcelo Menoli, nota dez para seu “método dedutivo”, mas Lady Gaga, na entrevista que fiz com ela, não soltou essa frase – mandou outras preciosas, mas este é um assunto para outra hora).

O verso – no original “On n’est pás sérieux , quand on a dix-sept ans” – abre (e quase fecha) um poema clássico de Rimbaud, chamado “Romance”, que, como o título já indica, fala da deliciosa loucura que é se apaixonar na adolescência. Lembro-me de ter lido Rimbaud pela primeira vez na época em que a maioria das pessoas descobre o poeta – e, com efeito, até mesmo a própria poesia: na adolescência tardia (que na minha história pessoal equivaleu aos meus primeiros anos de faculdade). Por uma nem tão óbvia assim associação de ideias, foi a mesma levada poética que me levou até Lorca – outro poeta, este espanhol (andaluz!), que nasceu no final do século 19 e morreu deveras jovem em 1936. Mas eu divago…

Enfim, entre tanta coisa que li então de Rimbaud, muito pouco ficou gravado na minha memória – uma vez que o próprio estado etílico em que eu geralmente me encontrava quando procurava amparo no poeta não permitia que eu retivesse muita coisa no meu jovem hipocampo (neurocientistas, por favor me perdoem essa licença poética!). Mas esse verso nunca me deixou – ainda que com pequenas variações (em algumas traduções ele vem mais taxativo: “Ninguém é sério aos 17 anos”!). E foi com uma agradável surpresa que voltei a encontrá-lo num número recente da revista “Colors”.

Sim, eu sei. Já escrevi sobre essa revista (que é uma de minhas favoritas), há exatamente um ano. Mas na semana passada me deparei com seu mais recente número, e não resisti: achei que deveria dividir a experiência com você. Assim, mesmo sob o risco de decepcioná-lo (ou decepcioná-la), nosso assunto de hoje não é exatamente poesia – que um dia certamente merecerá mais atenção deste espaço! –, mas o tema dessa “Colors”: adolescentes. Sim, também já sei que tratei do assunto há apenas algumas semanas. Mas quando é que ele se esgota?

Em sua estrutura sempre simples –mas nunca simplista– o número só reforça a mensagem de que esse mundo é um só, que todas as modas, as manias e as tendências que os jovens (as pessoas, enfim) abraçam e se acham tão “descolados” ao fazer isso, se manifestam em todos os lugares, mesmo os mais improváveis, e que no lugar de brigar por um conceito tão duvidoso quanto o de “originalidade cultural”, o melhor mesmo é relaxar e abraçar tudo que vem do ser humano – seja a mistura que for (nossa! Eu mesmo não esperava definir o conceito dessa revista tão bem…).

Para fazer isso desta vez, a “Colors” decidiu mostrar apenas alguns perfis de adolescentes pelo mundo – duas páginas para cada um –, intercaladas com algumas poucas reportagens fotográficas sobre curiosos agrupamentos de jovens (entre eles, uma clínica na China para reabilitação de garotos viciados em videogames!). Mas legal mesmo são os tais perfis que, claro, dentro do mais desbravador espírito da revista, conta histórias do mundo inteiro – apenas para registro, seis páginas são dedicadas ao Brasil (mais sobre isso já já). E, com isso, o leitor ganha, mais uma vez, um incrível mosaico humano!

Você sabia, por exemplo, que no Camboja existe um concurso de beleza adolescente chamado “Miss Mina Terrestre” – para garotas que foram mutiladas por essa que é uma das mais estúpidas de todas as armas que o homem já inventou? Pois então, Sopheap Lourng, de 18 anos, que perdeu sua perna esquerda quando pisou numa mina dessas ganhou um título recente. Você sabia que, em Tijuana (México), “cholas”, “fresas” e “emos” podem conviver pacificamente sob um mesmo teto? Quem conta isso é Ingrid Jáuregui Magaña, de 17 anos, que desafiou uma menina mais velha para uma briga e conquistou o respeito de outras “cholas”. Já ouviu falar no estilo “Lolita” de se vestir? Ele se popularizou nas ruas de Tóquio, e é marcado por mulheres com roupas de menina, jogando ao mesmo com inocência e sensualidade – só que a “Colors” não fotografou uma Lolita japonesa, mas sim espanhola: Pepa Medina Blackman, de 19 anos.

Mais exemplos? Que tal a iraniana de 19 anos – Pani Akhavan – que se cobre de preto para sair às ruas (inclusive a cabeça, mas não o rosto) e troca telefones com meninos jogando papeizinhos pelas janelas dos carros parados no trânsito de Teerã. Ou o finlandês Verneri Pouttu, de 19 anos, que quer ser um clone de Bruce Dickson (pense em Iron Maiden)? Tem também o cubano Daniel Rosales (19 anos) que declara: “Eu nasci emo”. O mongol Temujin Kazuya (16 anos) que adotou o “visual kei” japonês – para o choque de toda Ulaan Baatar (a capital da Mongólia). Ou ainda o brasileiro – paulistano – Wagner Ribeiro Santulhão (20 anos) que é um dos mais entusiasmados representantes dos “fursuiters”, um grupo de pessoas que gosta de se vestir com fantasias de bichos de pelúcia!

(O Brasil ainda aparece com mais dois personagens – duas páginas para cada um deles: um cearense de 16 anos, fã do Kiss, que só teve autorização dos seus pais para deixar o cabelo crescer quando se mudou para São Paulo; e um bailarino de Mogi das Cruzes, interior de São Paulo, que largou o balé clássico para mergulhar no “tecktonik” – se você, como eu até dias atrás, não tem idéia do que é isso, aqui vai uma boa amostra, com quase um milhão e meio de acessos no YouTube – fico imaginando os nossos conterrâneos que ficaram de fora na edição da revista!)

E tem, claro, o libanês que me fez matar as saudades do verso de Rimbaud. O nome dele é Basie Ghosn. Ele tem 17 anos. Ele se considera bem maduro. Também é sensível. E além de Rimbaud, é fã incondicional de Jean Genet (“Nossa senhora das flores” é o livro que ele salvaria de um incêndio).

Apresentados os personagens, podemos falar dos 17 anos? E das vantagens de não ser sério com essa idade? Como apareceu em vários comentários aqui postados para o post anterior,  essa é uma idéia bastante provocadora. “Todos somos sérios sendo honestos”, escreveu a Julia Lindenberg falando sobre a relação entre mãe e filho. “Eu” mandou muito bem – num espírito, eu diria, até “rimbaudiano” dizendo que “com 17 anos não somos sérios, mas somos capazes de mudar o mundo”. A Ethel Lourdes Roehrig foi fundo quando disse: “Aos 17 anos talvez ainda somos inseguros pela pouca vivência em relação ao futuro, mas estamos cientes de que devemos respeito e consideração conosco e com o próximo”. Adorei a inversão da questão pela Paloma de Carísio: “Aos 17 anos há muita seriedade! O questionável é se as questões levadas a sério mereciam tanta importância… mas quem pode definir isso?”.  Marcelo Feitoza (de 27 anos) se considerava um chato aos 17 – e Heyder Alcântara (de 17) não se sente deslocado perto de seus amigos “de 35 pra cima”. A discussão não é simples… Guilherme Franco apelou até para Malu Magalhães para tentar chegar a uma conclusão: “me parece ser (séria), eu não, será?”.

Como toda boa provocação, esta (involuntária, talvez?) de Rimbaud não pretende chegar a nenhuma resposta definitiva. Só quer, justamente, provocar… E mais uma vez você que sempre participa neste espaço não me decepcionou! Vários comentários me “cutucaram” até para rever minha própria postura aos 17 anos, que – sem me lembro bem (e lá já vão quase 30 anos!) – era de absoluto desprendimento.

Como entrei na faculdade muito cedo (aos 16 anos), vivi um misto de cobrança (de responsabilidade) e ruptura (de valores familiares) bastante curiosa. Ao mesmo tempo em que estudava numa universidade que exigia muito dos alunos, eu me permitia fins-de-semana de completo hedonismo e (embora a palavra me pareça exagerada, vou arriscar) libertinagem… Para dar a dimensão do contraste, é dessa época meu primeiro diploma de um curso superior (o segundo viria um ano depois deste), mas também algumas fotos adoravelmente tolas, de uma fase em que eu me vestia como um grande ídolo da música pop (não vou dar “mole” e entregar quem é, mas se você consultar meu post recente sobre “Crepúsculo” vai matar a charada)…

Na minha lembrança, o que eu vivia era um desprendimento delicioso, uma “falta de compromisso com responsabilidade”, uma vontade de ir em frente do jeito que eu quisesse – inspirado por Rimbaud, e tantos outros poetas (não só das letras…). Não muito diferente, aliás, desses garotos e garotas que estão na revista “Colors”. Ninguém ali é menos sério do que as pessoas que você acha que são sérias. Pelo contrário, elas são seríssimas: nos seus sonhos, nas suas loucuras, na convicção de que são diferentes, e na vontade de ir em frente.

“Eu vou. Por que não?”  – para citar um outro poeta (um certo Caetano), que sempre me ajuda a lembrar como é bom ter 17 anos…

“Não somos sérios quando temos 17 anos”

qui, 05/11/09
por Zeca Camargo |
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Tudo passa – e tudo bem…

seg, 02/11/09
por Zeca Camargo |
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Hoje eu vou partir alguns corações. Não é por maldade. É pura nostalgia – como você já vai entender.

Na verdade, o primeiro coração que se partiu foi o meu, ao sair ontem de uma entrevista com dois atores que “talvez” você conheça (nota para quem ainda acredita que ironia e internet são incompatíveis: as aspas servem justamente para isso!): Taylor Lautner e Kristen Stewart  – respectivamente à esquerda e à direta na foto –, estrelas do segundo filme da saga “Crepúsculo”, “Lua nova”, que estreia neste mês, no mundo todo. Já falo da entrevista, mas antes preciso descrever o saguão do hotel onde a entrevista aconteceu: meninas de todas as idades (e se você acha essa frase estranha, não conhece nenhuma fã de “Crepúsculo”…) olhavam para todas as direções do grande espaço na esperança de ver, ainda que por alguns segundos, um rastro dos atores. Elas sabiam que eles estavam por ali – na verdade, a entrevista aconteceu no mezanino do lobby –, mas não sabiam de onde eles poderiam aparecer. Como os próprios lobos que circulam – em incríveis efeitos especiais – nas cenas de mais ação em “Lua nova”, elas sentiam que os objetos de sua adoração estavam por perto. E avidamente esperavam qualquer novidade sobre eles.

Como eu sei disso? Porque fui assediado por um considerável grupo de fãs ali mesmo. Queriam saber tudo: se eles eram simpáticos; que roupa a Kristen estava usando; se estavam felizes de passar pelo Brasil; se o Taylor era “lindo!”; se eles se davam bem (?); o que nós conversamos; quanto tempo iriam ficar no Brasil; por que o Edward (interpretado pelo ator Robert Pattinson) não veio; se ele viria; quem falava mais, a Kristen ou o Taylor; e, na mais inesperada de todas as perguntas, qual era o quarto em que eles estavam hospedados!

E essa agitação toda era só entre o grupo “seleto” que tinha conseguido acesso às dependências do hotel – fico me perguntando se todas aquelas fãs tinham se hospedado no local só para ter a oportunidade (remota, diga-se) de cruzar com um dos atores pelos corredores, ou quem sabe na piscina (como aconteceu com a filha de uma amiga minha que passou o fim-de-semana lá exatamente com este propósito!). Do lado de fora, nas calçadas, invadindo a rua, algumas centenas (milhares, segundo cálculos mais otimistas) de fãs corriam de um lado para o outro buscando a mesma coisa: um flash de seus ídolos por alguma fresta das inúmeras portas e janelas da fachada do hotel. E como gritavam…

Passei muito rápido por essa cena, mas o retrato do que vi foi suficiente para mexer com minha memória e lembrar do tempo em que eu tinha ídolos. Veja bem, não é que eu não os tenha mais, muito menos deixo de colecionar alguns novos  – só para dar um exemplo, acabo de entrevistar em Nova York um deles: ninguém menos do que Lady Gaga (mais sobre esse encontro surreal, em breve, aqui mesmo neste espaço!). Mas a saudade que me bateu ao ver aquelas fãs de “Crepúsculo” no hotel de São Paulo foi de um tempo em que eu vivia para esses meus ídolos – isto é, eu vivia em função deles!

Minha praia, especialmente quando eu era adolescente, era mais a música do que Hollywood. Assim, se você descontar uma certa obsessão que eu tive com o personagem que John Travolta interpretava em “Os embalos de sábado à noite” – o impagável Tony Manero –, meu negócio mesmo era música. E quando eu comecei mesmo a me interessar pelo assunto, nenhuma informação era demais sobre um artista ou uma banda que eu adorava.

Para te dar uma idéia, limpando algumas estantes recentemente, sabe quantos livros sobre a banda Culture Club eu encontrei? Dezesseis! Ganhou até de Madonna – contei 14 livros sobre a cantora… todos de antes de 1985! Outros artistas, em escala bem menor, também mereceram destaque na minha, hum, biblioteca: cinco livros sobre o Soft Cell, quatro do Depeche Mode, três do Spandau Ballet – isso mesmo, três do Spandau Ballet! –, outros três da Sade, sem contar as várias bandas que compareciam com um livro só, inclusive duas bizarrices chamadas Strawberry Switchblade e Haysi Fantayzee (responsável, na minha opinião, por um dos discos mais estranhos e fascinantes da década de 80, mas eu divago…). E ainda tinha, claro, os Smiths – cuja bibliografia que eu consegui juntar na época somava pouco mais de meia dúzia de livros, mas o volume de artigos publicados em revistas estrangeiras (internet nem era acessível na época, claro) e miscelânea abarrotava nada menos que oito pastas!

Eu adorava esse pessoal! Era o começo dos anos 80 e a possibilidade de um desses artistas fazer um show por aqui era ínfima! O que um “pobre” fã poderia fazer a não ser colecionar o maior volume de dados possível sobre  seus ídolos e trocar informação com outros fãs e amigos? Isto é, se é que a gente podia chamar aquilo de informação… A maioria desses livros – na verdade, brochuras “turbinadas” – apenas juntava alguns fragmentos de entrevistas dos artistas, com biografias genéricas e superficiais, e mais uma colagem generosa de fotos. Mas eu decorava – e recitava em voz alta – cada “pérola” sobre aqueles artistas!

E mais! Eu não conseguia entender como tinha gente que não gostava deles! Sim, eles eram estranhos! Sim, eles eram diferentes! Mas o trabalho deles era divino! Como isso não era um “consenso universal”? E foi mais ou menos essa saudade que me deu quando vi todos aqueles fãs delirando por Kristen e Taylor! Nos olhos daquelas meninas – e, repito, estou falando de meninas de todas as idades – tinha um misto de inveja (por eu ter chegado perto daquelas “divindades”) e ao mesmo tempo confusão: com eu tinha passado pela experiência “transcendental” de ter conversado com eles e não estava em êxtase?

Que delícia que foi ver aquela vibração! E se bateu tão forte em mim, foi porque eu já senti alguma coisa assim em outros tempos… Não apenas a indignação de não entender como seus ídolos não são adorados por toda a população terrestre (e, talvez, intergalática!), mas ainda a crença de que nada que surgisse depois pudesse superar o brilho deles. Quando eu era um fã desses, tinha a certeza absoluta de que iria gostar na mesma intensidade daqueles artistas para o resto da minha vida… Ainda gosto de vários deles – como quem me acompanha aqui sabe muito bem, sobretudo no que se refere aos Smiths, mas o que me falta agora é a ilusão de que essa “paixão” vai ser igualzinha, para sempre…

Não falo sobre isso para me encher de melancolia nem para, como brinquei no começo do texto partir o coração de um fã – seja de “Crepúsculo”, seja de “Harry Potter”, seja de qualquer outra mania que a gente sempre vai achar que não vai ser passageira… O que eu quero é celebrar com essa lembrança o talento desses nossos ídolos, que, justamente, fazem a gente acreditar que o fascínio que eles exercem sobre nós vai ser eterno! Se você, que agora me lê, também pensa assim, vamos conversar daqui a dez anos? Tenho certeza de que você vai olhar para trás e pensar: “como eu pude ser tão alucinado (ou alucinada) por isso?”. Mas não se preocupe. Eu garanto que o que você vai sentir ao procurar uma resposta não é um arrependimento, mas essa mesma saudade boa que eu sinto agora: a de como é bom abraçar uma coisa maior chamada cultura pop!

Ah! E a entrevista com Kristen e Taylor? Bem, você pode revê-la quantas vezes quiser no site do “Fantástico”, mas posso adiantar que eles foram extremamente simpáticos! E falantes! E entusiasmados com a receptividade dos fãs no Brasil! Falamos por uns bons 20 minutos – sobre o novo filme, claro, mas também sobre a carreira dos dois atores, viagens, experiências diversas, além de uma espontânea troca de elogios. Eles só não me contaram em que quarto estavam hospedados…

O tempo com Kristen e Taylor passou rápido, mas imagino que passaria mais ainda se eu estivesse na pele de uma das fãs que aguardavam ansiosamente do lado de fora do hotel por um aceno! Segue o sonho…



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