Mr. DJ

seg, 15/01/07
por Zeca Camargo |
categoria Todas


O melhor do mundo? Pode ser – mas confesso que não fui a raves o suficiente para que eu possa concordar (ou discordar) desse ranking. Mas que esse Tiesto é bom, isso é.

Foi a primeira vez que assisti a uma apresentação dessas do palco. Não sou um grande fã de shows, como já contei (com certa relutância) no meu livro sobre os bastidores das entrevistas do mundo do pop. Mas coleciono, cá comigo, alguns momentos memoráveis. Como quando Robert Plant me convidou para traduzir (do inglês para o português) uma mensagem que ele queria passar para o público brasileiro, durante uma apresentação em São Paulo no início dos anos 90 (o texto era completamente maluco – pelo menos do que eu me lembro -, sobre viagens, povos, horizontes, diferenças e semelhanças; nada fazia muito sentido mas… era o Robert Plant!).

Ou o acústico de Alanis Morrisette em 2005, em Atlanta – provavelmente uma das situações em que eu fiquei mais emocionado por estar vendo alguém que eu gostava tanto de tão perto. Ou – talvez o mais memorável de todos – quando Kurt Cobain, numa das apresentações do Nirvana no Brasil, primeiro cuspiu numa câmera de TV e esparramou sua saliva pela lente (proporcionando uma imagem espontaneamente psicodélica para quem estava assistindo o show em casa!) e depois abriu as calças e mostrou o que quis (para o provável horror de quem estava coordenando a transmissão para os telões…); estava bem na coxia do palco com colegas e disparávamos comentários na linha “não, ele não vai fazer isso, ele não vai fazer isso, ele não vai fazer isso, ele vai fazer isso, ele vai fazer isso, ele já está fazendo isso, não é possível que ele esteja fazendo isso!!”, incrédulos do que nossos próprios olhos mostravam; puro rock…

Enfim, shows assim, já vi muitos, mas “set de DJ”, daquela perspectiva, foi o primeiro. Talvez porque eu nunca tenha levado esses caras muito a sério… Calma! Isso é só uma provocação. Sou do tempo em que Tim Simenon agraciou a capa da “The Face” e foi recebido com estranheza – mas não por mim… Tim Simenon quem? O cara por trás do Bomb the Bass (que uma geração inteira acha que é a banda que criou “Say a little prayer”… pobre Aretha Franklin…), que fez uma pequena revolução na maneira como as pessoas ouviam música no final dos anos 80. E tenho esse exemplar da revista até hoje na minha coleção – só para dar uma idéia de como eu respeito a profissão…

Antes mesmo disso, no início dessa mesma década, em 1982, uma música hipnótica, chamada “Last night a DJ saved my life”, do Indeep – uma banda de um sucesso só (esse mesmo!) – já havia despertado minha curiosidade sobre “o cara que rodava os pratos” para a pista ferver. Seriam eles realmente capazes de salvar vidas como a faixa sugeria? Alguns anos depois, Morrisey, num dos refrões mais poderosos do seu período com os Smiths, pedia a cabeça deles em “Panic” (“Hang the DJ! Hang the DJ! Hang the DJ!” – literalmente, “enforquem o DJ”, repetida até o coro virar um sussurro). A música que eles tocavam, segundo o cantor, não tinha nada a dizer sobre sua vida. Vai ver, não tinha mesmo. Mas que fazia todo mundo dançar… ah, fazia. E faz até hoje, claro.

Por que você acha que Madonna começou uma das suas melhores faixas – chamada justamente de “Music” – com um apelo para um “” anônimo colocar alguma coisa para ela dançar com seu parceiro? Somos seus súditos. É inútil resistir.

Essa mensagem nunca chegou a mim com tanta clareza como na madrugada de sexta-feira passada, em Porto de Galinhas, Pernambuco. Foi lá que eu vi do que DJ Tiesto era capaz. O boca à boca já tinha sido muito bom no domingo anterior, quando ele se apresentou na praia de Ipanema, no Rio – e pode acreditar que um boca à boca de 200 mil pessoas é poderoso. Foi esse evento, aliás, que me motivou a entrevistá-lo para o último “Fantástico”.

A conversa aconteceu naquele cenário ideal, num barco, coqueiros e jangadas ao fundo, num clima aliás, bem diferente do que ele costuma criar nas suas apresentações. A entrevista foi surpreendentemente informal – lembrando sempre que ele é maior estrela que poderia existir na galáxia dos DJs (fiquei pensando nos climas que já enfrentei com outros e outras “números 1″ do mundo pop – sem citar nomes!!! – e cheguei a conclusão inevitável de que eles – os DJs – são uma categoria realmente à parte).

E do que falamos? Bem, se já é difícil pedir para um músico ou um cantor desenvolver verbalmente algo sobre seu trabalho, imagine para um DJ. Não porque eles sejam menos articulados, claro, mas porque o que eles oferecem para seu público é ainda mais efêmero do que o repertório de uma banda. São sons, batidas, pulsos – é um clima. E é preciso ter um certo dom para criar esse clima. Sei disso…

Em doses muito homeopáticas, sempre brinquei de DJ. Desde o tempo em que o ritmo da pista de dança tinha que ser quebrado pela troca do disco de vinil – isto é, o tempo em que o que bombava mesmo era um Santa Esmeralda lá pela um hora da manhã – fico fascinado com a sintonia que um bando de gente sente ao entrar simultaneamente em êxtase ouvindo uma mesma música – e se mexendo ao som dela. Nos anos 80, eu já com acesso à facilidade tecnológica das fitas cassete (!), gravava seqüências “infalíveis” para o deleite do punhado de amigos que juntava nas festas de aniversário. “Tainted love” (Soft Cell), seguida de “Don’t you want me” (Human League) e depois de “Our House” (Madness), fechando com “Dancing with myself” (Billy Idol) – era imbatível. Na década seguinte, aprendi o poder dos contrastes de épocas e juntava “Groove is in the Heart” (dee-lite) com “Ring my bell” (Anita Ward), ou “Big fun” (Inner City) com “I will survive” (Gloria Gaynor) para o delírio geral – e, com a pista toda já hipnotizada, arriscava (com sucesso) algo mais desconhecido como “Touched by the hands of Cicciolina” (Pop Will Eat Itself) ou a tântrica “Come together” (Primal Scream).

Hoje? Fico feliz quando alguém me convida para tocar numa festa, só pelo prazer de ver todo mundo enlouquecer na pista com algo tão desconhecido como “Minha fofa”, de uma banda angolana chamada S.S.P. – mas eu divago…

Esses são relatos de um mero amador. Profissional mesmo é Tiesto. Seu som é poderoso – alto, grave, trepidante. Suas faixas se misturam com a naturalidade de quem está tocando uma coisa só. São ondas sonoras calibrando os humores e os ritmos de um público sedento de ritmo. Bum bum bum! Tsipum tsipum tipsum. Uma música que os mais passivos ouvintes de FM dificilmente conseguem tolerar, mas que faz parte do futuro – palavra do dono da festa! Ainda na nossa conversa no barco, ele timidamente admitiu que esse todas as grandes celebrações caminham para isso, consagrando a supremacia do DJ. E olhando aquele povo todo lá de cima, vibrando com aquelas batidas poderosas, eu não tinha porque duvidar. No controle do deck, Tiesto pulava com uma felicidade quase infantil – ou talvez fosse apenas a satisfação (de adulto) de saber que ele estava inquestionavelmente no comando.

A ordem era enlouquecer. Ninguém desrespeitou.

A vibração, aliás, era tão intensa, que precisei ouvir outras coisas para “sossegar” antes de dormir. Por sorte, no meu iPod, encontrei o antídoto perfeito: “Fizheuer Zieheuer”, o novo trabalho de um outro DJ genial, Ricardo Vilalobos – sobre o qual pretendo escrever aqui na próxima quinta-feira.

Quando encontrei novamente Tiesto no saguão do hotel, apenas horas depois de seu “set” ter terminado (ele já estava de partida para Florianópolis, onde tocou no fim-de-semana; segue em turnê pelo Brasil por todo o mês de janeiro – e não custa lembrar que ele vai estar em São Paulo nesta quinta), eu já estava em outra freqüência… Numa despedida rápida, deu para perceber que o DJ não parecia nem um pouco cansado – ao contrário. Com o frescor de quem tinha acabado de sair de um bom banho, seu rosto estava cheio de energia – certamente um reflexo do bem que fez para aquela gente em Porto de Galinhas (eu inclusive!).

compartilhar

69 Comentários para “Mr. DJ”

Páginas: [4] 3 2 1 »

  1. 69
    Lucas Rafael Pigosso:

    Gostei da matéria, mais você falou pouco do tiesto, o brasil está muito atrasado no cenário eletronico, vc não falo da metade dos méritos do tiesto, Dj official da coca cola, unico artista a ganhar uma linha de tenis da Reebock de série limitada, unico dj a tocar numa abertura de olimpiada em atenas, embaixador da ong Dance for life que luta contra o cancer no mundo, eu acho dificil alguns artista ter tudo isso em sua vida, acho impossivel achar alguns artista brasileiro com todo esse mérito, vcs não conhecem o tiesto, e o melhor do mundo é o armin van buurem em 2º é o tiesto

  2. 68
    Tads:

    Melhor DJ do mundo é o Armin vaan buuren, 4 anos seguidos, bjs

  3. 67
    Éric:

    Melhor DJ do Mundo !!!

  4. 66
    Luiz Lisboa:

    Estou surpreso pois nao sabia que vc era DJ,hehe
    Eu tb dou minhas arranhadas por aqui em Bares e festas particulares,nada profissional mas faco meu barulho.
    Falando de TIESTO,cara ele e muito bom mesmo,e meu DJ favoriito. Fui a Boston MA – USA na virada do ano 2006-2007
    so pra ver o concert do cara,ele arrebentoucomo sempre.
    Nao tive a mesma sorte sua de falar com ele mas estava a dois metros de sua mesa de som e consegui um autografo e uma foto exclusiva que ele pousou para minha camera ja nos primeiros segundos de 2007 com a taca de champagne.
    Estou ja me programando para uma viagem a Europa em 2009 e esta incluido uma paradinha em NORTHLAND para dar uma espiadinha em outro show do cara na cidade natal dele .
    Valeu pela reportagem Zeca,abraco brother.

  5. 65
    Roberto Bombeiro/PE:

    VC é D+, intelectual à velocidade da luz, posso te fazer um apelo? dá uma força pra minha vó de noventa(90) anos conhecer e presentear neste domingo aqui em Recife, Ivete Sangalo, ela fala isto todos os dias e quer entrar comigo no meio do bloco, D+, se puderes help-me. Brigaduuuu.

  6. 64
    Anônimo:

    Realmente Dj Tiesto é de arrepiar as picapes . Ele pões todos a sua volta para dançar. E vc sentiu isso, mesmo sem considerar-se um admirador da música eletrônica. Aproveito para lhe disser que descobri o blog a pouco tempo e procuro acompanha-lo. Um segredinho só nosso – lia sua coluna na revista Capricho nos anos 90 hehehehe… Bom fim de mensagem e revelações .

  7. 63
    DAYANNE:

    zeca vc é um fastástico…

    adoro todos os textos!

  8. 62
    Anônimo:

    olá zeka , e ai cara , vc apra começar é um grande profissional e entendo que as vezes vc tem quer falar que gosta quando não gosta e falar que gosta de algo quando gosta mesmo , não que vc seja obrigado a falar , mas faz parte da profissão e etc … Tisto é o cara que desponta direto em listas de grandes revistas como o melhor do mundo etc .. mas de boa melhor ele deve ser só na cidade dele mesmo , tanto DJ bom tantos PRODUTORES de qualidade , este tiesto ainda ganha numeros e posições … mas dane se ele , imagino que vc conhece muito mais de E-music do que pode parecer e imagino tambémq vc deve amar HOUSE MUSIC , ta ai um estilo que mesmo ficando no under hoje tá bombando … djs brasileiros estão a pareo com os gringos e estamos cada vez mais presentes lá fora , mano é isso ai sujiro vc a escrever uma materia sobre a house music , principalmente sobre os produtores brasileiros : como anderson soares … tá bombando !

    faloux
    viva a E-music
    morte ai electro !!

  9. 61
    Tio Bronx:

    Tiesto é um lixo! DJs como ele que queimam a música eletrônica.
    Qtos de vcs críticos de música já escutaram Pedra Branca(Chill Out), Psysex(trance) ou um dos poucos albuns decentes de Infect como Tranceside(trance).
    POP! Pop é a cultura unificada(de massa), que pessoas que vendem sua alma para banalidades do cotidiano(Big Brother) empurram à sociedade.
    Corompidos pelo dinheiro… o que nos acrescentam?
    AE GALERA… ISSO AÍ! TIESTO! ESMAGUEM SEUS CÉREBROS COM BALAS PARA O REBOLATION DE TIESTO!
    FANFARRÕES!

  10. 60
    Anônimo:

    Zeca, achei sua matéria muito boa e o tunel do tempo que vc apresentou me fez lembrar de um grupo precursor da música eletrônica e de que não tenho mais notícias, o Altern 8.

    Eles faziam música eletrônica numa época em que só se falava no grunge de Seatle, mas mesmo assim conseguiram com sua criatividade e ” experimentalismo” (nem sei se essa palavra existe) , se destaram e influenciaram o urderground eletrônico.

    Gostaria de saber se vc tem notícias desses caras.

    Grande abraço e parabéns pela coluna.

  11. 59
    scoob:

    Tiesto… um cara que domina o que faz, mas nao é artista, simplesmente tem um ótimo marketing e uma música horrível, de péssima qualidade. Lixo eletrônico! Não sei como alguém que gosta de Ricardo Villalobos possa possivelmente se interessar por isso.

  12. 58
    Larissa Andrade:

    Olá!!! Vi a reportagem no fantástico do dj Tiesto… nunca fui num show desses fiquei louca pra estar lah… mas aqui em Fortaleza ainda não houve um evento como esses…
    ah tô lendo o “De a-ha a u2″, tbm sou apaixonada por música e me encanto com seu jeito de escrever, sem contar com sua forma de descrever as coisas que gosta, sempre com muita intensidade…
    tô gostando cada vez mais do blog…
    parabéns…
    um abraço!!!

  13. 57
    Anônimo:

    Zeca vc num tem idéia!!!..Os fãs da Alanis morissette brasileiros te adoram cara!!Foi só eu colocar um post no orkut sobre seu comentário nesse texto sobre a Alanis para que todos repetissem que te adoravam,tbm.É pq partilhas do mesmo sentimento de fã,e pq tu és um grande cronista e apresentador.parabéns.Dá uma passadinha nas comus da Alanis,volta e meia comentam sobre vc e Fantástico.Abraços.

  14. 56
    Anônimo:

    fui p tiesto em porto de galinhas e realmente, como não entendo de música eletrônica, só posso dizer q me diverti um bocado e fiquei contagiada com todo aquele clima do lugar, das pessoas e do dj! perfeito!!!!

  15. 55
    Anônimo:

    Parabéns pelo texto Zeca…sou adoradora de musica eletronica que na minha opinião é um estlio que une varios num só, e Tiesto é indescritivél vi ele no Green Vale em Itajái o cara é fera…um som melifluo pra todos os estilos e que pode ser apreciado sim com muita lucidez!!!

  16. 54
    Anônimo:

    Os DJ’s são imprecindíveis claro. Mas não se comparam aos astros que realmente compõe, cantam, dão suas versões nos palcos, são anos-luz mais artistas que os DJ’s. Talvez por isso mesmo sejam mais acessíveis e sem estrelismo, com algumas exceções. Mas mesmo dentre os astros, há os que tentam se destacar por alguma loucura, que nada tem haver com música ou arte. Esse Kurt Cobain, um grande exemplo. Vi um show dele em L.A. (privilégio??) e até lá foi muito ruim, o cara só sabia dizer fuck isso fuck aquilo, show mesmo, nada. Tanto que o que voce lembra dele, é ele tirando a roupa no palco…novo isso?

  17. 53
    Barbara:

    Acabei de voltar dos remansos do Kerala. E’ divino! Mas ainda nao consegui encontrar uma boa forma de escrever sobre a India… Nada, palavra nenhuma, consegue ser suficiente. Meus amigos ficarao apenas com meus suspiros quando me perguntarem sobre a viagem.

  18. 52
    Felipe Salomão:

    Se existe um nível de conhecimento abaixo de leigo no quesito “música eletrônica”, pode me incluir nele. São muitos termos: house, drum’n base, techno, psy…
    Mas valeu, Zeca!
    Seu texto foi bem informativo!

  19. 51
    KADU GIABATTELO:

    FALA ZECA !!!

    ZECA ESSE DJ TIESTO REALMENTE É MUITO BOM, APESAR DE AINDA NÃO TER OUVIDO O SOM DELE, TALVEZ POR NÃO ESTAR TÃO ANTENADO COM AS TENDÊNCIAS ELETRÓNICAS, ME PARECEU QUE QUANDO ELE ENTRA NA PISTA É VENERADO COMO UM “DEUS”.
    ALGUNS AMIGOS DE FLORIPA ME DISSERAM QUE REALMENTE É PAGAR PARA VER, INEVITAVELMENTE UM CONVITE PARA DANÇAR, EU AINDA NÃO VI A ENTREVISTA, E TAMBEM NEM SEI SE JÁ FOI APRESENTADA NO FANTÁSTICO, MAIS VOU PROCURAR AQUI NA NET.
    AGORA ZECA VC TAMBÉM NÃO FICA PARA TRAZ NA QUESTAO DJ, NADA DE AMADOR VC JÁ ESTA MAIS AVANÇADO RS.

    ABRAÇOS ZECA

    KADU GIABATTELO .

  20. 50
    Anie Karenina:

    Somente: Bem vindo ao mundo contagiante das PicUps!!! Sim essa é a música do futuro, porque consegue colocar um pouquinho de todas as outras, numa animação contagiante!

    Adorei o texto, Zeca.

Páginas: [4] 3 2 1 »

 



Formulário de Busca


2000-2015 globo.com Todos os direitos reservados. Política de privacidade