Gisele Bündchen x Fergie Ferg

qui, 26/10/06
por Zeca Camargo |
categoria Todas

Imagine que você está numa banca de revista e duas capas muito parecidas chamam a sua atenção. Numa delas, Gisele Bündchen, linda – com o perdão do pleonasmo. Pose de rebelde, um sexto do seio esquerdo exposto e aquela barriga… Na outra, Fergie Ferg, a primeira da consagrada banda Black Eyed Peas – menos rebelde, usando um biquíni careta, um pouco menos bonita, mas também cheia de charme. Qual dessas você compraria na hora?

A com Gisele, claro! Por impulso. E, aos poucos, com a revista na mão, você começa a perceber que, apesar de o visual das capas ser realmente muito parecido e o título delas virtualmente idêntico, a que você comprou tem todas as chamadas em português – na sua língua? Você achou que estava comprando a “Rolling Stone”. E estava comprando a “Rolling Stone”. Mas era a primeira edição da segunda encarnação da revista americana no Brasil.

Então você volta até a banca e pega novamente a que tem Fergie na capa. Percebe que é o número especial anual da “RS” com a lista do que é “hot” (quente) na temporada. E compra também. Então, você decide comparar as duas revistas. Uma com mais de 30 anos (a americana), já na sua edição de número 1.011, a outra trazendo estampada um singelo número 1. Você dá uma folheada. Dá uma geral no visual de ambas. Confere as matérias principais. E desiste da comparação.

Entrar na discussão de que uma é melhor que a outra é o exercício mais fútil que tenho visto atualmente, pelo simples fato de que a mera publicação da “Rolling Stone” no Brasil é algo que deve ser muito comemorado. E ponto.

Na apresentação desse primeiro número, Ricardo F. Cruz, o editor-chefe, já começou mandando bem ao citar a frase curta que ouviu do fundador da “RS”, Jann Wenner, quando esteve nos escritórios da revista, em Nova York. “Opinião é o que importa, filho”. Disse tudo.

Pensar que a “RS” é uma publicação apenas de música é um grande equívoco. Desde seus primórdios, ela sempre caprichou na cobertura do assunto, mas as pessoas geralmente esquecem que ela era também (e continuou a ser ao longo do tempo) uma revista com excelentes artigos políticos (alguém se lembra, por exemplo de uma capa recente, da edição americana, com uma ilustração de George W.Bush sentando num canto da sala com um chapéu de burro e a manchete: “O pior presidente americano”?). Matérias de comportamento, perfis de celebridades, reportagens sobre tecnologia, esportes, moda – tudo sempre pareceu se ajustar perfeitamente em suas páginas.

Com a versão brasileira, não parece ser diferente. Entre as dezenas de críticas de discos que importam, notas musicais, a reportagem sobre Gisele (ou seria, sobre a expectativa de encontrar Gisele?) e um diário alucinado de estrada da banda Cansei de Ser Sexy, você encontra um lúcido (e assustador) retrato do circo político em Brasília (por Ricardo Soares), uma reportagem sobre as malhas do crime organizado em São Paulo (por Claudio Tognolli) e – sim – um ensaio fotográfico maravilhoso com casais motoqueiros.

Eu nunca vi uma revista assim por aqui…

Precisava esse tipo de informação chegar para nós com a moldura de um título americano. Quem sabe não precisava? Nem que fosse apenas pela iniciativa de criar um gosto, no leitor brasileiro, pela reportagem que foge da miopia do noticiário do dia-a-dia, que ofereça textos longos (mais longos do que esses que eu escrevo aqui neste blog – imagine que absurdo!). Nem que fosse pela nostalgia de se lançar uma revista em tempos em que todo mundo só pensa em mídia virtual. Nem que seja para agradar meia dúzia de leitores – se bem que eu sei que a “RS” brasileira está agradando bem mais que meia dúzia….

(Uma outra revista nessa linha, curiosa – e também celebrada no meio jornalístico -, que pretende valorizar ainda mais o texto de seus colaboradores, também acaba de ser lançada. Chama-se “Piauí”. Vou esperar o segundo número para falar um pouco dela.)

E a edição americana com Fergie na capa? Eu tenho um especial fetiche por listas – especialmente essas… “hot”! Assim, devorei com gosto as recomendações – mesmo sabendo, por experiência própria, que menos de um terço das coisas que a revista indica anualmente sobrevive a próxima estação… Achei até graça ao descobrir que a própria Gisele já tinha sido a garota da capa da lista “hot” de 2000. Seis anos atrás! A boa e velha “Rolling Stone”… Não muito diferente da boa e nova “Rolling Stone” – a brasileira.

Vai mudar sua vida? Para pegar emprestado a frase de uma das resenhas de discos nesse número de estréia (a de Sergio Azman, sobre o CD do Art Brut, “Bang Bang Rock & Roll”), não. “Não vai mudar sua vida, mas pode torna-la um pouco mais divertida”.



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