Família que perdeu casa de 4 quartos em Angra agora se aperta para dormir
Dona Olívia Nunes dos Santos morava em uma casa de quatro quartos, varanda grande, além espaço para criar cachorro, no Morro da Carioca, em Angra dos Reis. Depois da chuva do réveillon, o local foi interditado e o casarão, no qual ela gastou todas as economias, foi demolido pela Defesa Civil. Atualmente, ela vive com os filhos, as netas e o genro em uma casa em frente ao local da tragédia, de dois quartos, onde todos se apertam para dormir.
A família de dona Olívia é apenas uma das cerca de 1.300 que vivem com o aluguel social dado prefeitura.
“Eu ainda tive tempo de tirar as minhas coisas, mas a minha filha perdeu tudo o que tinha”, conta ela, que chegou a morar em outros dois bairros da cidade depois do deslizamento.
A filha dela, a dona de casa Jucilene Nunes dos Santos, de 26 anos, contou que até hoje não conseguiu recuperar nada do que perdeu na noite do réveillon, quando sua casa foi soterrada.
“Saímos todos com a roupa do corpo, a roupa da festa. Foi o pior ano que passei na minha vida. Meu sogro ficou soterrado, mas meu marido conseguiu tirar ele a tempo. Essa imagem não sai da minha cabeça”, lamenta ela.
Para Jucilene, o mais justo seria as famílias receberem uma indenização em vez do apartamento que será doado pelo governo do estado.
“Meu marido viu o tamanho, disse que é muito pequeno, nossa casa era espaçosa. E para quem sempre viveu em casa, se mudar para um apartamento assim muito é difícil”, contesta.
A família disse ainda que os preços dos aluguéis subiram muito desde a tragédia e que o os R$ 510 do aluguel social não dá para pagar. “Pago R$ 700 nessa casa aqui, minha sogra paga R$ 650 na dela, você não encontra mais barato do que isso”, reclama.
Alessandra dos Santos Lara, de 27 anos, neta de dona Olívia, conta que no seu caso a casa também foi demolida, como a da avó, mas não houve tempo para retirar os móveis.
“Eu estava correndo atrás de casa para alugar, porque meu marido não queria ficar em abrigo, e quando cheguei à noite estava tudo no caminho na porta da minha casa. Tive que tirar tudo no escuro”, lembra ela.
O receio da família é que o apartamento para onde irão os desabrigados seja retirado das pessoas quando algum ente morrer. “Isso não vai ficar no nosso nome. Eu quero um imóvel em meu nome, com meus direitos, quero pagar meu IPTU”, revoltou-se dona Olívia.
De frente para o morro onde houve o deslizamento, Alessandra desabafa: “às vezes eu paro ali e aprece que ainda estou dormindo, parece que estou no inferno”.
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Carolina Lauriano/G1