A impressão real quase sempre difere da expectativa. A chegada a Caracas foi mais organizada e tranqüila do que haviam previsto.
No aeroporto Internacional Caracas Maiquetía (Simón Bolívar), dezenas de pessoas ofereciam táxis, cada um se dizendo mais seguro do que o outro. Muitos oferecem bolívares venezuelanos para câmbio. As taxas variam bastante, mas nunca chegam nem perto do câmbio oficial de cerca de 2.000 bolívares por cada dólar.
São cerca de 20 quilômetros desde o aeroporto até o centro de Caracas. O caminho começa com morros verdes e desabitados, naturais, que aos poucos, à medida que a cidade se aproxima, vão sendo tomados por barracos e prédios improvisados, formando uma grande favela. Quando se chega à cidade, vê-se o caos do trânsito.
“Muchas colas”, diz o sr. Adolfo, taxista que fez o traslado até o hotel, se referindo aos engarrafamentos. “Mas hoje nem está tão ruim”, completa, se referindo à situação que, em relação ao trânsito, lembra a chegada à Marginal Tietê para quem vem da Dutra, em São Paulo: imensas filas de carros parados (falta o rio, de qualquer forma). E, sim, pode ser ainda pior do que a realidade paulistana.
Aparentemente, os venezuelanos que dirigem pela cidade não têm um grande apego às regras de trânsito. Não se pára no sinal vermelho, acostamento é faixa de rolamento e buzina é como uma saudação repetida por todos.
E tem a política. Desde a saída do aeroporto, “Sins” e “Nãos” estão estampados por todas as ruas de Caracas. Anúncios da “revolução chavista” disputam espaço nos prédios com propagandas de refrigerantes, celulares e carros.
Como todo taxista gosta de política, o sr. Adolfo desanda a falar sobre o referendo. Ele é da oposição.
“A situação da Venezuela nunca foi tão ruim como nesse período desde que Chávez assumiu. Falta tudo. A inflação é imensa. Só temos carros e gasolina”, diz, lamentando, e lembrando que aqui é possível encher o tanque do carro com gasolina por cerca de US$ 1 (R$ 1,8). Mesmo assim, diz, Chávez deve ganhar o referendo. “Ele ajudou muitas pessoas pobres com bolsas sociais, e essas pessoas não querem correr o risco de perder seus benefícios. Então aceitam o que quer que Chávez diga”, analisou.
por Daniel Buarque
do G1, em Caracas