As dunas marcianas

sáb, 19/11/11
por Cássio Barbosa |
categoria Observatório

Esta semana o Orbitador para Reconhecimento de Marte (MRO na sigla em inglês) liberou algumas imagens muito interessantes da superfície marciana. Lançado pela NASA em 2005, o MRO já cobriu completamente a superfície de Marte algumas dezenas vezes, provavelmente, e o interessante é que existem fotos obtidas com um intervalo razoável de tempo entre elas. Essa sequência temporal de imagens meio que forma um filme da dinâmica marciana.

Essas sequências publicadas agora pelo pessoal da Universidade Johns Hopkins, dos EUA, mostram que as dunas de areia se alteram e se movem com o passar dos anos. Em suma, essas imagens mostram que a superfície marciana tem uma dinâmica muito maior que a imaginada até hoje.

Bom, o lance é o seguinte, desde a década de 1970 as sondas Vikings já mostravam que a superfície marciana não era estática. Os orbitadores que se seguiram, também mostravam diferenças entre fotos tiradas com um certo intervalo de tempo. Os jipes marcianos também tiraram centenas de fotos de “rodamoinhos” de poeira (conhecidos como “dust devils”). Curiosamente, a ação desses rodamoinhos por vezes era percebida no monitoramento dos circuitos elétricos dos jipes. Isso porque, às vezes, um rodamoinho desses limpava a poeira dos painéis solares e com isso aumentava a carga das baterias. Então, qual a novidade agora?

É que as fotos anteriores dos orbitadores e mesmo dos jipes marcianos sempre mostraram registros de atividade de mudança da poeira mais fina do solo marciano. Essa poeira é mais leve que a areia marciana e portanto mais fácil de ser carregada. As câmeras dos orbitadores até sugeriam que as dunas de areia se alteravam, mas a falta de resolução delas impediam uma posição definitiva sobre isso.

Essa é a grande diferença das imagens do MRO e as anteriores, a resolução. Com poder para destacar objetos (ou distâncias) de pouco menos que um metro, as câmeras do MRO registraram a areia de dunas sendo carregada pelo vento marciano, alterando a paisagem do planeta. Essa foto por exemplo é uma composição feita a partir de uma imagem de 2008 e outra de 2010 de uma duna de areia na região polar norte de Marte. A diferença entre elas mostra que a areia chegou a ser carregada pelo vento por quase 3 metros. Algo nunca antes detectado!

Esses resultados podem indicar duas coisas, ou a poeira é mais leve do que se pensava, ou o vento marciano tem rajadas mais intensas. Na verdade, as duas coisas devem estar certas, mas o time liderado por Nathan Bridges acredita que a segunda possibilidade deve ser mais importante. Testes em túneis de vento mostram que, para que amostras de areia de determinados desertos terrestres (que se pensa ser muito parecida com a areia marciana) precisam de rajadas de 130 km/h para se mover em Marte, muito mais do que os 16 km/h necessários para a areia se mover na Terra.

 

Essa diferença é explicada pelo fato de que a atmosfera marciana é muito menos densa que a terrestre. As tempestades de poeira em Marte podem durar meses ou anos, como já foi observado. Mas a surpresa foi constatar que rajadas com essa velocidade podem ser atingidas em diversos pontos de Marte.

 

Mas nem todas as dunas parecem se mover em Marte. Essas devem ter areia mais pesada que a média, mas ainda assim, ao que tudo indica, essas dunas devem também se alterar.  A diferença é que talvez elas precisam levar mais tempo do que já foi registrado até agora.

Quebrando o gelo… europeu?

qui, 17/11/11
por Cássio Barbosa |
categoria Observatório

Em um artigo histórico na revista “Nature”, cientistas do Laboratório de Física Aplicada da Universidade Johns Hopkins afirmam ter encontrado evidências de um grande lago abaixo da superfície de Europa. Essa descoberta é um passo imenso na direção de haver vida por lá. Mas não tem vida na Europa?

Europa, neste caso, é uma das quatro luas galileanas de Júpiter. São as quatro maiores luas deste pequeno sistema planetário (não seria exagero dizer que seria até mesmo um “mini Sistema Solar”, pois a maior fonte de energia é mesmo Júpiter) descoberto por Galileu Galilei em 1610. Desde a passagem da sonda Voyager 1 pelo local, em 1979, suspeita-se que Europa possui um imenso lago de água abaixo de uma crosta de gelo em sua superfície. A vida como conhecemos é baseada em água, então um bom ponto de procura por vida alienígena é em locais com água.

Europa seria então um lugar ótimo para iniciar essa procura. Em 1995, a sonda Galileo começou a estudar Júpiter e seu sistema de satélites, especialmente Europa. Para se ter uma ideia da importância desta lua e a possibilidade dela abrigar vida, quando a missão da Galileo se encerrou, a Nasa decidiu jogá-la contra Júpiter para que fosse destruída pela sua gigantesca pressão atmosférica. Isso porque, mesmo seguindo todos os protocolos de descontaminação, ninguém poderia garantir que a sonda Galileo não carregasse micro-organismos que pudessem infectar Europa, caso a sonda se espatifasse sobre sua superfície.

Ainda analisando os dados da Galileo é que a equipe de Britney Schmidt, da Universidade do Texas, parece ter descoberto um mecanismo de fragmentação da crosta de gelo. Isso é de fundamental importância, pois como um lago coberto por uma grossa camada de gelo poderia receber substâncias da superfície que poderiam atuar até mesmo como nutrientes? Se o gelo for muito grosso e não se partir, o lago seria um sistema fechado, sem que material externo pudesse entrar.

A equipe liderada por Schmidt se concentrou em duas regiões circulares em uma imagem da Galileo, que são muito semelhantes a regiões congeladas em glaciares terrestres. Com base na observação da quebra da capa de gelo nessas regiões, a equipe de astrônomos desenvolveu um mecanismo semelhante para Europa.

Composta por quatro etapas, essa teoria prevê não apenas que o gelo se parta, mas mostra também como o material da superfície pode se misturar vigorosamente com o lago abaixo da superfície. Isso garantiria que o lago pudesse receber nutrientes vindo de fora facilitando a presença de vida.

Bom, é um ideia apenas. Uma boa ideia, mas para ter certeza só indo lá. Uma sonda com o objetivo de estudar Europa, eventualmente pousando em sua superfície, foi classificada como alta prioridade pela Nasa e encontra-se em fase de estudos atualmente.

As estranhas cavidades de Mercúrio

ter, 01/11/11
por Cássio Barbosa |
categoria Observatório

O planeta Mercúrio é um dos planetas do Sistema Solar menos estudados até hoje. O motivo é simples: sua proximidade com o Sol. Mandar uma sonda que consiga chegar e entrar em órbita estável em um planeta tão pequeno e tão próximo do Sol é um desafio e tanto para a astronáutica. Para você ter uma ideia, até janeiro de 2008, as únicas imagens da superfície de Mercúrio haviam sido obtidas pela sonda Mariner 10, que fez três sobrevoos em 1975. Esses três rasantes nem foram suficientes para mapear todo o planeta, e por 33 anos tínhamos de conviver com um mapa da superfície de Mercúrio em que uma boa parte dela simplesmente não existia.

Em agosto de 2004, foi lançada a sonda Messenger da Nasa. Ela seguiu rumo a Mercúrio depois de algumas manobras complicadas no espaço, que incluíam dois voos rasantes, um na Terra e outro em Vênus. Mesmo na trajetória correta, a Messenger precisou fazer três sobrevoos em Mercúrio para que pudesse estabelecer uma órbita estável. A partir de janeiro de 2008, novas fotos começaram a chegar e muita coisa nova começou a surgir.

A última delas, veio nesta semana. A Messenger encontrou uma série de buracos e depressões na superfície de Mercúrio, totalmente desconhecidas anteriormente. Essas depressões variam de tamanho, desde uns 20 metros até mais de 1,5 km de comprimento, com profundidade variando entre 20 e 40 metros. Ninguém sabe como elas foram criadas.
David Blewett, membro da equipe científica da Universidade Johns Hopkins considera essa descoberta uma “surpresa gigantesca”. Mercúrio é considerado uma relíquia dos tempos iniciais do Sistema Solar que não deveria ter mudado muito, a não ser pelas crateras produzidas pelos impactos de asteroides ao longo dos milênios. O problema é que essas cavidades, ou buracos, parecem ser mais jovens que as crateras, sugerindo que o planeta ainda está mudando, evoluindo de forma surpreendente.

Formações parecidas foram encontradas no gelo das calotas polares de Marte, onde foram apelidadas de queijo suíço, mas nunca haviam sido encontradas em rochas. Além disso, o interior dessas cavidades é mais claro, dando a impressão de que brilha, e ainda por cima possuem halos em sua volta.

Um fato importante é que essas cavidades estão associadas aos picos centrais de crateras, criados quando um meteoro cai sobre a superfície. A ideia é que esse material mais claro tenha vindo de camadas mais profundas, contendo materiais voláteis que acabam se vaporizando posteriormente. Com isso, esse material que aflora se torna mais “esponjoso”, ou seja, mais frágil e mais fácil de ser removido pela própria ação do Sol ou pelo impacto de outros micrometeoritos, formando, assim, essas depressões no terreno.

Tudo isso não passa de uma teoria, bem fundamentada, mas o mais importante é que a Messenger já mudou completamente a ideia que os astrônomos tinham sobre a origem e a evolução de Mercúrio. Saber como ele se formou trará implicações importantes nas teorias de formação de todos os outros planetas do Sistema Solar, e a Messenger ainda vai mexer profundamente com o que se acredita até agora.



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