Balelas sobre cometas

qua, 31/08/11
por Cássio Barbosa |
categoria Observatório

Tenho um colega astrônomo que costuma dizer que o “1º de abril” da astronomia é o dia 27 de agosto. Todos os anos, invariavelmente, recebemos um e-mail com algum powerpoint dizendo que Marte vai ficar do tamanho de uma lua cheia. Agora que agosto já passou, posso apostar que surgirá com força a história do cometa Elenin.

Para dizer a verdade, e-mails sobre o Elenin já vêm perturbando desde o ano passado. Os fatos são os seguintes:

O cometa Elenin – também conhecido como C/2010 X1 – foi descoberto por Leonid Elenin, usando um telescópio no Novo México operado remotamente na Rússia em dia 10 de dezembro de 2010.

Naquela ocasião, o cometa estava a 650 milhões de quilômetros de distância da Terra.  Como todo cometa faz em algum momento, estava em aproximação da Terra. Na verdade, o cometa fica perto da Terra porque está indo em direção ao Sol. Todos os cometas fazem isso.

O Elenin, em específico, estará a 35 milhões de quilômetros da Terra no dia 16 de outubro. Até lá as mais variadas bobagens vão pipocar na internet.

Uma delas diz que o cometa passará entre a Terra e a Lua. Outra diz que o cometa vai influenciar as marés e alterar o movimento das placas tectônicas no planeta. Isso é absolutamente impossível de acontecer, uma vez que a massa do cometa e sua distância de 35 milhões de quilômetros (90 vezes maior que a distância Terra-Lua) fazem com que a força gravitacional exercida sobre a Terra seja praticamente zero.

Uma terceira balela diz que o cometa Elenin irá bloquear o Sol por três dias. Antes de tudo, o núcleo do cometa não vai sequer vai cruzar o disco do Sol, quando visto da Terra.

Supondo que ele passasse, para que o Sol fosse bloqueado, um eclipse cometário teria de acontecer. Como o núcleo do cometa deve ter por volta 3 a 5 km de diâmetro, ele deveria estar a uma distância de uns 400 km da Terra para que esse efeito fosse possível. Essa é a altura da órbita da Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês).

Outra bobagem é dizer que a Nasa está escondendo os fatos. Eu mesmo, ao escrever um texto que nada tinha a ver com o Elenin, fui acusado de estar acobertando fatos importantes somente por me recusar a falar sobre ele.

A Nasa – assim como eu ou qualquer outro astrônomo – está dando pouco destaque ao Elenin simplesmente porque este é um cometa que ainda está fraquinho e, aparentemente, não vai dar show, como o do Hale Bopp há alguns anos. Talvez ele se pareça um pouco com o Lulin (veja a foto acima, feita em 2009).

Conforme os cometas se aproximam do Sol – e, por consequência, da Terra –, o brilho desses astros aumenta. Até agora, não há nenhuma esperança de que em 16 de outubro o Elenin esteja muito brilhante. Na verdade, as previsões são que o cometa só seja visível em locais escuros e com um par de binóculos.

Nesse caso, bem que a bobagem poderia ser verdade e o cometa bem que podia ficar super brilhante.

De volta ao observatório

seg, 22/08/11
por Cássio Barbosa |
categoria Observatório

Calma galera, eu não fui abduzido, pelo menos não por alienígenas! Mais uma vez a correria me afastou do blog, mas vou tentar voltar à rotina.

No final de semana passada eu estive no Rádio Observatório de Itapetinga (ROI) localizado nos arredores da cidade de Atibaia (SP) para observar estrelas ainda em fase de formação.

As observações são parte de um projeto maior de estudo dessas estrelas, que tem a participação de mais quatro pessoas em quatro instituições diferentes, uma delas nos EUA. Hoje em dia é muito difícil levar um projeto de pesquisa sem uma rede de colaboradores, já que a quantidade de dados demanda um investimento de tempo (e energia) muito grande.

A ideia aqui é observar emissão rádio da molécula de água em 22 GHz conhecida como “maser”. Em termos bem simples, o maser é um tipo de emissão parecida com o laser, mas ao invés de luz (o “l” da sigla laser) a emissão é em microondas (o “m” da sigla maser). Encontrar masers de água em estrelas ainda em formação nos dá a indicação da pouca idade e da massa do objeto.

Em rádio não é preciso esperar anoitecer para observar, podemos observar 24 horas por dia, se quisermos. Isso é impossível no visível por causa do espalhamento da luz do Sol pelas moléculas presentes na atmosfera, em especial o nitrogênio. Esse espalhamento é a origem da cor azul do céu. Se você olhar uma daquelas fotos das missões Apollo na Lua vai ver o céu escuro, mesmo sendo de dia. Isso acontece por que não existe atmosfera lá que possa promover esse efeito de espalhamento. Um telescópio na Lua poderia observar no visível mesmo de dia! Só que em comprimentos de onda mais longos, como o rádio, esse efeito de espalhamento não existe, o que possibilita observar tanto de dia, quanto de noite. E é isso o que fizemos.

Na verdade não conseguimos observar 24h por dia, mas só por que entre às duas e às oito da manhã não temos alvos no céu. O que é uma vantagem, mesmo dividindo as tarefas com um colega, ter umas horinhas de sono vai bem.

Agora outra surpresa nessa segunda parte da missão. Chegando nesse sábado, debaixo de muita chuva, bastou ligar os equipamentos e começar a trabalhar! Sim, observa-se de dia e observa-se com chuva também!! Eu já observei de dia no infravermelho, onde esse efeito de espalhamento existe, mas é menos intenso, mas observar com chuva nunca. A emissão rádio, nessa frequência consegue atravessar as nuvens, mas sofre uma bela de uma atenuação. Nós estimamos que estávamos detectando apenas 20-25% do sinal. Nessas condições somente fontes muito intensas mesmo.

As duas fotos mostram o ROI por fora, essa bola gigantesca que é uma redoma que protege a antena e todo o seu maquinário e eletrônica. A outra foto é a parte de trás da antena, apontada para uma fonte.

A antena do ROI tem 14 metros de diâmetro e está sendo reativada depois de cinco anos sem atividade regular. O observatório completa 40 anos em 2011.

Lua cheia e chuva (de meteoros) nesta sexta

qua, 10/08/11
por Produto |
categoria Observatório

Tem programa para esta sexta feira? Eu tenho, depois eu conto, mas se quiser uma sugestão, que tal sair de casa e passar a noite olhando o céu?

Esta sexta, 12 de agosto, marca o máximo da chuva de meteoros Perseidas.  Essa chuva é associada ao cometa Swift-Tuttle que orbita o Sol com período de 133 anos. A coisa fuciona assim, quando um cometa (qualquer cometa) atravessa o espaço, vai se desintegrando, soltando pedaços pelo seu caminho. A grande maioria desses pedaços não passa de partículas de poeira, mas alguns pedacinhos um pouco maiores também compõem essa trilha de destroços. Quando a Terra intercepta essa trilha, os destroços largados para trás pelo cometa são capturados e adentram a atmosfera terrestre em alta velocidade.

Nessa captura em alta velocidade, as partículas se aquecem com o atrito com o ar e queimam deixando um rastro luminoso no céu. Popularmente, os meteoros são chamados de “estrelas cadentes”.

Essa chuva é especial por ser uma das mais antigas observadas pelo ser humano. Existem relatos feitos há mais de dois mil anos! As partículas que a Terra já começou a interceptar se soltaram do cometa há mais de mil anos. Ela não é das mais intensas, a taxa horária está estimada em 20 – 30 meteoros apenas, mas esse ano a sua observação será prejudicada.

A Lua estará cheia neste sábado, de modo que o seu brilho vai ofuscar os meteoros mais fracos, que são a maioria. Outro agravante é que o radiante desta chuva, ou seja o ponto no céu de onde todos os meteoros parecem surgir, estará abaixo do horizonte para nós do hemisfério sul. Esse radiante está na constelação de Perseu, daí seu nome.

Ainda assim, se o tempo permitir é um programa bacana. Basta sair de noite e mirar para o Norte e esperar que algum meteoro brilhante cruze o céu. Uma dica para prevenir torcicolo é fazer isso com uma cadeira de praia, ou reclinável.

Agora, o meu programa? Neste final de semana, a partir de sexta estarei no Rádio Observatório de Itapetinga em Atibaia (SP). Estarei lá observando alguns candidatos a estrelas de alta massa ainda em estágios iniciais de formação.

Se tudo estiver tranquilo eu mando algumas fotos.



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