Descendo a montanha
Bom, duas horas depois que eu postei o texto abaixo a tempestade chegou. Bem em cima da hora prevista: onze horas. Da sala de controle nós vimos o vento dar um pulo para 70-75 km/h (ele já tinha baixado a 50 km/h) e a temperatura, que já estava baixa, foi para -6°C. À meia noite começou a nevar; 1 da manhã o vento atingiu 90-100 km/h nas rajadas. Com a neve caindo forte, decidimos deixar o prédio.
O problema todo é com a estrada. Acumulando neve ela fica intransitável e ficaríamos literalmente presos no edifício. A estrada voltaria a ficar transitável após um trator limpá-la, mas mesmo assim, somente para jipes ou picapes 4×4. Com esse vento e a -7 graus de temperatura, a sensação térmica era de quase -30°C! Chegamos ao dormitório e, sem poder fazer muita coisa, a “equipe noturna” (nosso termo técnico) foi dormir.
Na manhã seguinte veio a ordem oficial: evacuar a montanha. Isso precisa ser feito porque o dormitório fica no estágio mais baixo do trecho final até o topo. E o refeitório fica quase junto aos telescópios no topo. Se a tempestade não passa, ou piora, o caminho até a comida fica interrompido, tanto para cima, quanto para baixo. Para não correr riscos, todos devem descer.
Para descer, é preciso esperar passar o trator para remover a neve e esperar que mandem um carro com tração 4×4. Isso aconteceu lá pelas 3 da tarde e voltamos. Antes disso, consegui andar um pouco na neve e verificar que tínhamos pelo menos 20 cm acumulados, junto ao prédio onde estávamos parece que chegou a 70 cm! Com isso, decidiram fechar por dois dias, pelo menos. Formou-se gelo no topo do prédio e é preciso subir uma equipe com picadores de gelo para removê-lo. Só que isso só pode ser feito com o vento abaixo de 36 km/h, mais do que isso as normas de segurança não permitem. Hoje à tarde o vento não baixava de 40 km/h.
E qual a situação agora?
No começo da noite fui informado de que a equipe de “picadores” tinha removido grande parte do gelo, mas deixou justamente o principal: sobre a janela que abre sobre o telescópio. Achei estranho que tivessem burlado uma norma tão rígida de segurança, já que o vento continuava na casa dos 40 km/h e a resposta não foi nada animadora. Removeram a maior parte do gelo porque estão esperando muito mais para as próximas horas…
Ao meio-dia vão decidir se mandam a equipe noturna novamente. A decisão se baseará na possibiliade de transitar pela estrada e na quantidade de gelo no alto da cúpula, e não a possibilidade de observar alguma coisa. A ideia é que se for possível mandar alguém ao prédio, e se for possível abri-lo sem causar danos ao telescópio, então que se mande alguém. Se o tempo melhorar, alguém precisa tomar conta da lojinha.