Aquecimento global ou era do gelo?
Na segunda feira passada, dia 22, começou a primavera, e coincidentemente surgiu uma pequena mancha solar. Tão pequena que já no dia 24 ela tinha desaparecido, durando dois dias ou menos. Manchas solares vêm e vão e possuem um ciclo de 11 anos, alternando períodos de alta intensidade, caracterizado por um grande número delas, e períodos de baixa atividade solar, quando poucas manchas aparecem no Sol. Estamos justamente em um período de mínimo solar, com poucas manchas visíveis.
E qual a novidade nisso?
Bem, o evento em si é bem trivial, manchas vêm e vão, como eu já disse, mas essa foi especial em dois sentidos. O primeiro: ela apareceu depois de um longo período de baixíssima atividade solar, e suas características indicam que se trata uma mancha do ciclo 24. Esse ciclo iniciou-se em janeiro, marcando a saída do mínimo solar. Em outras palavras, de janeiro em diante o número de manchas só deve aumentar, até atingir o máximo entre outubro de 2011 e agosto de 2012. Ao menos em tese. A baixa atividade solar tinha posto em dúvida o momento em que o ciclo 23 tinha acabado, muita gente acreditava que ele ainda estivesse em curso, pois o número de manchas não aumentou como esperado. E isso levanta a segunda questão.
A atividade solar tem perdido força ao longo dos anos. Desde que a intensidade do vento solar começou a ser monitorada, há uns 50 anos, ela nunca esteve tão baixa. O vento solar é responsável por criar uma bolha chamada de helioesfera, que envolve e protege o Sistema Solar dos raios cósmicos de alta energia provenientes do resto do Universo. Com o vento solar menos intenso, a bolha se encolhe e fica mais fina, facilitando a passagem dos raios cósmicos. Em princípio, estamos a salvo na Terra, pois nosso campo magnético e nossa atmosfera nos protegem, mas satélites, astronautas e qualquer equipamento fora dessa proteção estará sujeito a esse bombardeio. Na prática, a vida útil de sondas espaciais será encurtada.
Além disto, existe um estudo controverso que liga a quantidade de raios cósmicos à quantidade de nuvens na Terra. Essa hipótese diz que o bombardeio de raios cósmicos na nossa atmosfera favorece a criação de nuvens. Se a helioesfera se enfraquecer, é justamente isso que vai acontecer, aumento de raios cósmicos e aumento de nuvens.
Aumentar a capa de nuvens significa bloquear a quantidade de raios solares que penetram a atmosfera. O topo das nuvens acaba refletindo a luz do Sol de volta ao espaço e, como conseqüência, a Terra esfriaria. É claro que isso não explica a atual onda de frio em plena primavera.
A hipótese é um tanto controversa, mas entre 1645 e 1715, aproximadamente, o número de manchas solares registrado foi muito pequeno, e o período ficou conhecido como “Mínimo de Mauner”. Nesse mesmo período a Europa sofreu com temperaturas muito baixas, com rios que normalmente são fluidos o ano inteiro ficando congelados durante um ano inteiro! Esse período é conhecido em geologia ou meteorologia como “Pequena Idade do Gelo”. Apesar dos registros do número de manchas da época não serem tão bons quanto atualmente, parece que o número atual de manchas é menor que o verificado no Mínimo de Mauner.
No final das contas, pode ser que o Sol nos dê uma força para impedir que as temperaturas se elevem com o aquecimento global.