O olho do gato

qui, 31/07/08
por Cássio Barbosa |
categoria Observatório

Estrelas nascem, vivem e morrem em um ciclo que se parece muito com o ciclo de vida de seres humanos. Algumas estrelas vivem mais, outras menos. Tudo depende da quantidade de massa que elas têm. Aquelas com muita massa (mais de 10 vezes a massa do Sol) dão um show no momento derradeiro e explodem em supernovas. Já aquelas com menos massa (como o nosso Sol) morrem de uma maneira mais pacífica, mas deixam para trás verdadeiros tesouros no céu, as nebulosas planetárias. O termo nebulosa planetária não caracteriza planetas, mas sim um dos estágios finais da vida de estrelas com pouca massa. Ele é decorrente de observações antigas, com equipamentos que ainda não forneciam imagens nítidas. Assim, quem as observava achava que esses objetos poderiam ser planetas. Por razões históricas, ninguém mexeu no termo.

Olho

Uma dessas nebulosas é esta, conhecida como o “olho do gato”, mas que vem a ser a nebulosa planetária NGC 6543, a 3.000 anos-luz de distância, na constelação do Dragão. NGC 6543 não é exatamente uma novidade para os astrônomos, mas essa última imagem em raios X obtidas pelo Chandra (nesta composição, representada pela coloração azulada) trouxe novidades.

Logo ali no centro, aquela mancha branca é na verdade uma estrela prestes a se tornar uma anã branca, rodeada por uma nuvem de gás aquecido a vários milhões de graus. Uma comparação entre a imagem em raios X e a imagem do Hubble (em vermelho e roxo) mostra que a composição química na região central é diferente da composição química do gás mais distante, que está mais frio.

Acelerado pelo vento da estrela central (uma gigante vermelha, provavelmente), o gás adquire velocidades de quase 5 milhões de quilômetros por hora, mas ninguém sabe ao certo como são formadas as estruturas vistas nesta imagem. Várias teorias existem, considerando a presença de uma estrela companheira, jatos ou até mesmo um sistema planetário, mas até agora não há nenhuma explicação definitiva Mas, sabemos que a estrela central deve ser tornar uma anã branca em alguns milhões de anos.

P.S. Você gostaria de acompanhar um eclipse total do Sol na Rússia? É fácil, basta acessar o site www.nasa.gov/eclipse. A Nasa e a Universidade da Califórnia montaram uma parceria para transmitir esse eclipse ao vivo na internet. Ele deve acontecer entre 7 e 9 da manhã do dia 01 de agosto. A totalidade, a melhor parte do eclipse, deve ocorrer entre 08:08 e 08:10 da manhã, todos horários de Brasília.

Miragens no céu

qua, 23/07/08
por Cássio Barbosa |
categoria Observatório

lente_todas.jpg

Uma equipe internacional de astrônomos lideradas por Adam Bolton, da Universidade do Havaí lançou um catálogo (o maior por enquanto) de lentes gravitacionais. Este catálogo veio mais uma vez mostrar que existe mais coisa nas galáxias, do que aquilo que enxergamos.

Começando pelas lentes gravitacionais. Mais ou menos na década de 1930 um físico de meia-idade previu que a luz de uma fonte distante (estrela ou galáxia, por exemplo) poderia ser distorcida e desviada no espaço, tal qual ocorre quando ela passa por uma lente de vidro. Todavia, quem faria o papel de lente ao invés de um pedaço de vidro polido seria uma grande concentração de matéria, como uma galáxia, por exemplo.

Esse efeito ficou conhecido como lente gravitacional e dependendo da geometria do sistema, um anel poderia se formar no céu, tal qual uma miragem — nesse caso, ele recebe o nome de anel de Einstein, em homenagem àquele físico. Em alguns casos, esses anéis de Einstein produzidos podem ser até 30 vezes mais brilhantes do seria a galáxia distante sem este fenômeno.

Esse efeito de lente gravitacional é muito útil quando se quer estudar tanto a galáxia (ou quasar) mais distante quanto a concentração de matéria que produz a distorção. Isso por que a teoria está muito bem assentada, basta que se observe o sistema com cuidado e podemos determinar as massas tanto dos objetos mais distantes quanto a de quem faz o papel da lente. Agora, de uma tacada só, a equipe liderada por Bolton lançou um catálogo com 70 destas imagens de lentes.

Essas lentes foram descobertas a partir de imagens de um projeto ambicioso que está mapeando um quarto do céu visível com um telescópio de 2,5 metros no Novo México. Esse projeto pretende medir a distância de aproximadamente um milhão de galáxias e quasares distantes com alta precisão. Uma vez descobertos, esses arcos foram observados com maiores detalhes com a finada câmera ACS do Hubble (por falar nisso a missão de conserto do Hubble será a próxima missão de um ônibus espacial, em outubro).

Além de produzir uma gama de imagens bizarras de galáxias distantes distorcidas (em azul) ao redor de galáxias mais próximas (em amarelo ou vermelho) esses arcos revelam que falta alguma coisa. As imagens distorcidas podem ser reconstruídas com a ajuda da teoria da gravitação de Einstein revelando a morfologia da galáxia distante. Uma animação mostrando isso pode ser vista aqui.

Analisando as massas, os brilhos das galáxias envolvidas, bem como as velocidades das estrelas nelas, os astrônomos chegaram à conclusão que as contas só fechariam para produzir a lente observada se fosse adicionada a misteriosa matéria escura.

Esse resultado até que não é novidade, mas com tantas lentes observadas em uma faixa ampla de massas para as galáxias, Bolton e sua equipe notaram que a razão entre a quantidade de matéria escura e matéria luminosa (representada basicamente pela luz das estrelas) não permanece constante. Na verdade, um resultado importante dessa pesquisa é que a fração de matéria escura em relação às estrelas tende a aumentar sempre que se considera galáxias com cada vez mais matéria.

Bela aplicação de uma teoria de 1930 e que passou 40 anos esperando por confirmação, não acha?

A Terra vista de longe

sex, 18/07/08
por Cássio Barbosa |
categoria Observatório

Trânsito

A sonda Deep Impact fez história no dia 4 de julho de 2005, quando lançou um dispositivo para atingir o cometa Tempel 1. Esse dispositivo atingiu o núcleo do cometa e projetou uma pluma de detritos que foi estudada pela própria sonda e por vários telescópios na Terra. Recentemente, a missão da Deep Impact foi estendida e a sonda foi redirecionada para fazer um sobrevôo no cometa Hartley 2 em 4 de novembro de 2010.

A extensão da missão também tem como objetivo procurar por planetas fora do nosso Sistema Solar, a partir da observação contínua de estrelas, para tentar flagrar a variação de brilho delas. Essa variação seria decorrência da passagem do planeta na frente da estrela, evento conhecido como trânsito.

A sonda fez algo interessante, posicionou suas câmeras para a Terra e esperou que a Lua passasse na frente do planeta. Esse trânsito lunar está sendo usado para entender como seriam os resultados advindos de observações de outros planetas.

As imagens são impressionantes, pois podemos ver a Terra girando, com suas nuvens e continentes, e logo em seguida a Lua passa na sua frente. A análise das imagens nos dá uma idéia de como interpretar as variações de brilho observadas (quando forem observadas!) em planetas do tipo terrestre. Em outras palavras, vai nos ajudar a entender como a luz refletida se comporta durante uma rotação do planeta, mostrando a diferença entre ver uma região continental ou um grande oceano. Ainda vai demorar um tempão para nossa tecnologia chegar ao ponto de observar a curva de luz produzida por um planeta individualmente. Mas, como essa área de estudo está em franco desenvolvimento, é sempre bom estar preparado.

Muito mais interessante é ver o filme montado a partir dessas imagens. Ele mostra a Lua passando na frente da Terra, numa perspectiva inédita para nós. Os detalhes mostrados são impressionantes, é possível ver os continentes passando, em especial no filme feito com imagens infravermelhas. Os filmes (meio pesados) podem ser vistos no endereço https://www.nasa.gov/topics/solarsystem/features/epoxi_transit.html.

Coelhinho da Páscoa?

qua, 16/07/08
por Cássio Barbosa |
categoria Observatório

peonia.jpg

Esta semana saiu mais uma pesquisa a respeito de estrelas massudas. Mais uma que tenta quebrar o recorde de estrela com mais massa da galáxia. Desta vez trata-se de uma estrela localizada no centro da Via Láctea, por enquanto chamada de “estrela da nebulosa Peônia”, que teria o brilho equivalente a 3,2 milhões de sóis.

A atual recordista de brilho, Eta Carina, tem por volta de 4,7 milhões de vezes o brilho do nosso Sol. Brilho e massa de uma estrela são interligados, de modo que quanto mais massa, mais brilhante é uma estrela e vice-versa. Com base nas estimativas de brilho, esta estrela deve ter algo em torno de 150-200 massas solares. No caso específico de Eta Carina, sabe-se todavia, que ela é um sistema duplo.

Esta medalhista de prata está a 26.000 anos luz, mergulhada em uma região obscurecida pela poeira, em parte produzida por ela mesma. Por isso, apesar de ser tão brilhante, não conseguimos enxergá-la sem um bom telescópio.

Aliás, para observar debaixo de nuvens de poeira tão grossas, só mesmo instrumentos que
detectem radiação infravermelha, como o telescópio espacial Spitzer. Por isso mesmo, a líder desta pesquisa Lidia Oskinova, acredita que outras estrelas tão brilhantes quanto esta possam existir nesta nebulosa.

Uma estrela como essa tem números assustadores. Além da massa imensa, ela deve ter um diâmetro 100 vezes maior que o do Sol. Comparativamente, a estrela da Peônia se estenderia para além da órbita de Mercúrio, caso estivesse na posição do nosso Sol. Ela deve produzir ventos com velocidade da ordem de 1,6 milhões de quilômetros por hora! Cometendo tantos excessos assim, ela não deve viver mais do que poucos milhões de anos.

Bom, estes números são todos baseados em modelos. Por exemplo, a massa foi obtida a partir da teoria que interrelaciona a luminosidade e a quantidade de massa de uma estrela. Isso supondo que seja apenas uma estrela. Com isso, esses números não são tão garantidos, quanto aqueles apresentados aí abaixo para a estrela recordista em massa WR20a. Neste caso, a massa da estrela foi obtida através de métodos dinâmicos, muito mais robustos. Por enquanto, a estrela da Peônia (um tipo de flor, pelo que apurei) detém o segundo lugar, mas o “photochart” pode rebaixá-la deste posto quando tivermos mais detalhes dela.

E o que o coelhinho da Páscoa tem a ver com tudo isso? É que ao mesmo tempo em que era anunciada esta descoberta, a União Astronômica Internacional (IAU em inglês) anunciou o nome de um daqueles planetas anões do nosso Sistema Solar.

Para quem não se lembra, Plutão foi rebaixado da categoria de planeta para a de planeta anão numa acalorada assembléia em 2006 em Praga. A partir daí, todos os objetos semelhantes a ele de nosso Sistema Solar passaram a ser classificados assim também. Aliás, esta discussão ainda não se encerrou por completo. Alguns astrônomos, principalmente americanos, prometem retomá-la na próxima assembléia geral da IAU. Essa assembléia será no Rio de Janeiro em 2009 e certamente eu estarei lá, “postando” para o G1.

Por estes dias a IAU decidiu batizar o objeto do cinturão de Kuiper (lê-se “cóiper”) conhecido por 2005 FY9 de Makemake (lê-se “máqui-máqui”). Este objeto foi descoberto por Mike Brown em 31 de março de 2005 e foi batizado de “coelhinho da Páscoa”, pois a descoberta se deu logo após o domingo de Páscoa. Apesar da IAU dar a honra ao descobridor de batizar sua descoberta, “coelhinho da Páscoa” não caía bem. Aliás, a tradição manda que, para além de Netuno, qualquer objeto deve ter o nome de alguma divindade relacionada à criação.

Mike Brown, então procurou algum deus representado por um coelho, mas as possibilidades eram decepcionantes: coelhão ou Manabozho, entre outros. Mas algo como coelhão, também não passaria e um nome que terminasse em ‘Bozo’ não agradava muito. Foi aí que Brown encontrou Makemake, o deus da fertilidade da ilha de Páscoa em forma de coelho. Perfeito!

Outro recorde quebrado

seg, 14/07/08
por Cássio Barbosa |
categoria Observatório

Starburst gatinhoTalvez seja o espírito olímpico tomando conta dos últimos resultados na astronomia, mas o fato é que mais um recorde foi quebrado no Universo.

Nesta última semana, uma pesquisa envolvendo alguns dos melhores telescópios do mundo, como os situados no Mauna Kea (Havaí) e o telescópio Espacial Spitzer (em homenagem ao astrônomo Lyman Spitzer Jr., e não ao político americano), encontrou uma galáxia formando estrelas a uma velocidade gigantesca.

Iniciamente detectada pelo telescópio japonês de 8 metros de diâmetro Subaru (Subaru é o nome em japonês para as Plêiades) e depois estudada pelo telescópio mericano de 10 metros Keck, a tal galáxia chamou a atenção pelo seu intenso brilho, comparativamente muito maior que suas vizinhas. Dados do telescópio Keck revelaram sua distância, 12,3 bilhões de anos luz, mas sua real natureza só veio depois dos dados obtidos pelo Spitzer e pelo JCM, também no Havaí.

Esses dois últimos telescópios fazem observações em comprimentos de onda mais longos,
como o infravermelho e o sub-milimétrico (grosseiramente: microondas) e são ideais para observar não as estrelas em si, mas um subproduto de sua formação.

Quando as estrelas nascem, elas emitem muita radiação ultravioleta, que é absorvida pela poeira que existe nas regiões onde elas se formam. A poeira esquenta e reemite essa energia em comprimentos de onda no infravermelho e sub-milimétrico. Resumindo, com um episódio de formação de estrelas muito intenso, a galáxia se torna muito brilhante nesses comprimentos de onda. E essa foi a peça que faltava para elucidar a charada.

Galáxias como essa não são novidades. Elas são conhecidas como “starbursts”, galáxias com taxas de formação de estrelas muito superior à média. Só que, nesse caso, essa taxa é de aproximadamente 4.000 estrelas por ano! A nossa Via Láctea, comparativamente, forma algo em torno de 10 estrelas por ano, apenas.

A teoria diz que as galáxias se formam a partir do nascimento “controlado” de estrelas e não a partir de um “baby boom” como esse. Nesse ritmo, em apenas 50 milhões de anos essa jovem galáxia já será a galáxia mais massuda conhecida!

Uma outro dado dessa pesquisa, que deixou os astrônomos liderados por Peter Capak,
da Nasa, intrigados, é que tudo isso se passou (lembre-se, estamos olhando o passado) quando o Universo tinha apenas 1,3 bilhões de anos de idade! Se compararmos o Universo com um ser humano de 70 anos, tudo isso estaria acontecendo aos 7 anos de vida.

Enquanto eventos como estes são observados quando o Universo estava na adolescência, essa descoberta mostra um “baby boom”de estrelas quando o Universo ainda estava em sua infância.

A questão agora é saber se a maioria das galáxias com muita massa como esta se formam muito cedo no Universo, ou se estamos observando um caso excepcional. Ao que parece, esse “baby boom” é decorrência do choque entre múltiplas galáxias.

Um recorde galáctico

sex, 11/07/08
por Cássio Barbosa |
categoria Observatório

Nessas últimas semanas, nas quais a gente vem acompanhado as atividades da sonda Phoenix aqui no G1, uma marca importante foi batida e passou meio que despercebida: o recorde de massa para uma estrela.

Estrela mais massuda

Em um post mais antigo eu falei de uma estrela no aglomerado de Pismis 24 que ousava exceder o limite estatístico de 150 massas solares para uma estrela. Limite estatístico, pois essa estimativa foi feita projetando-se a maior massa possível de uma estrela, baseando-se em dados conhecidos de aglomerados propícios para formar esse tipo de astro.

A partir destas projeções, chegou-se ao valor de 150 massas solares. Isso significa que encontrar uma estrela com muito mais do que 150 massas solares deve ser extremamente improvável, uma pequena flutuação em torno deste valor deve ser possível, mas 200 massas solares para a estrela de Pismis 24 não dava.

Essa questão foi resolvida, literalmente, mostrando-se que essa tal estrela é na
verdade um sistema com três estrelas. Ainda que duas delas sejam muito parecidas e a terceira tenha menos massa que as outras duas, nenhuma delas deve sequer ser mais de 100 massas solares. Na melhor das hipóteses, deve ser algo do tipo “duas de 80 e uma de 40″.

Com isso, o título de estrela mais massuda* estava com WR20a, um sistema duplo formado por estrelas de 82 e 83 massas solares. Um outro sistema duplo, WR21a, é por vezes apontado como tendo a estrela recordista (87 massas solares), mas nesse caso a medição não é tão confiável.

A estrela mais massuda da galáxia está no aglomerado NGC 3603, que por sua vez está (ou estava) em um dos braços que sumiram da Via Láctea. A estrela faz parte do sistema binário conhecido como NGC 3603 A1, e seus componentes devem ter 116 e 89 massas solares cada um.

As medições, nesse caso, foram feitas com um dos melhores equipamentos em Terra, o Telescópio Muito Grande (VLT, em inglês) operado por um consórcio europeu e localizado no Chile. Os resultados foram obtidos usando-se a boa e velha dinâmica newtoniana — aquela mesma que a gente aprende no ensino médio e depois vê com mais detalhes
nos primeiros semestres dos cursos de física, matemática e engenharia.

Ainda que exista uma margem de erro relativamente grande, em torno de 30 massas solares, no caso mais extremo (e mais improvável) a estrela mais massuda deve ter então 86 massas solares, e isso ainda a deixa detentora do recorde galáctico. Com tudo isso, ainda temos o tal limite estatístico preservado, quer dizer, ainda aguardamos uma evidência direta de alguma estrela com mais de 150 massas solares.

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*Nota: o termo correto é esse mesmo. Massivo não existe e maciço não esta 100% certo e, como eu sei que uma colega anda pegando no meu pé só por causa disso, vamos gastar
o português correto.

Júpiter perde uma de suas manchas. Ou não.

qua, 09/07/08
por Cássio Barbosa |
categoria Observatório

Cá estou eu de volta, finalmente. Final de semestre é dureza, quem faz faculdade sabe que nessa hora acumula tudo: provas, trabalhos e tudo mais que possa fazer da vida um pequeno inferno. Agora veja isso do ponto de vista do professor, ou seja, multiplique por dez, e adicione intermináveis reuniões para fechamento do semestre atual e preparação do semestre seguinte! Resultado: sumiço do blog… Mas vamos ao que interessa: astronomia!

Nest post logo aí abaixo eu falei da descoberta de mais uma mancha vermelha em Júpiter. Com isso a família estava em três: a Grande Mancha Vermelha, a Mancha Vermelha Júnior e a Oval BA. Todas elas representando tempestades na atmosfera de Júpiter, sendo a Grande Mancha uma tempestade que já está ocorrendo há mais de 200 anos, sem sinal de enfraquecimento. As outras duas são muito mais recentes e apresentaram sinais de que se tornaram mais fortes em decorrência de um aquecimento da atmosfera de Júpiter. Nesse post mesmo está escrito que as três manchas tinham um encontro marcado para o começo de agosto, mas elas se anteciparam e nessas duas últimas semanas elas se reuniram.

Esse encontro vinha sendo aguardado com curiosidade, pois ninguém sabia como
tudo iria acabar. Especular a respeito de uma trombada de tempestades com dimensões
como esta é algo difícil, mas no final das contas duas coisas poderiam ocorrer. A
primeira teoria é que haveria a destruição de alguma das manchas. Ou todas. A
segunda idéia dizia que elas simplesmente iriam se roçar e cada uma seguiria adiante
com sua vida. Mas o que aconteceu?

jupiter 30 de junhoNuma campanha observacional de astrônomos amadores do mundo inteiro, o que se viu foi a morte da Júnior. Essas duas fotos de Isao Miyazaki mostram a trombada entre a Grande Mancha (GRS) e a Júnior (LRS) em 30 de junho, tudo assistido pela mancha Oval BA. Neste último dia 5 de julho vemos que a Júnior não sobreviveu ao encontro. Das três irmãs, a do meio aparentemente foi destruída pela mais velha.

Aparentemente, pois antes de autuar a Grande Mancha por fraticídio, chegou mais uma imagem obtida no dia 7 mostrando que, ao menos no infravermelho, a Júnior sobreviveu. As imagens obtidas no visível mostram as camadas mais superiores da atmosfera de Júpiter e uma no infravermelho tem o poder de mostrar camadas mais profundas. Pode ser que, abaixo da camada superior de nuvens, a tempestade ainda exista e venha aflorar novamente em breve. Mas isso só vai vai dar para saber observando Júpiter continuamente.

jupiter 5 de julhoAliás, mesmo sem telescópios observar Júpiter está particularmente interessante nessas últimas semanas. Isto porque Júpiter é o objeto mais brilhante do céu noturno (excluindo
a Lua, é claro) e especialmente hoje estará em máxima aproximação da Terra. Se você quiser observá-lo basta procurar pelo ponto de luz mais brilhante no céu após o anoitecer, na direção sudeste. Traçando uma linha de Júpiter até o outro lado do horizonte
(aproximadamente na direção noroeste), passando pela Lua crescente, você deve encontrar Marte e Saturno muito próximos. E não se preocupe se você não puder observar hoje, este cenário manter-se-á por algumas semanas sem mudança notável — a menos da Lua, é claro! Com qualquer luneta ou binóculo simples, você já será capaz de distinguir as faixas de nuvens da atmosfera de Júpiter. Já com um instrumento com pelo menos 12 cm de diâmetro você já poderá notar detalhes como a Grande Mancha Vermelha e, se você notar que a Júnior reapareceu, tire uma foto que o mundo inteiro vai querer saber!



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