A família aumentou!

qui, 22/05/08
por Cássio Barbosa |
categoria Observatório

Para mim, fotos de Júpiter como esta, tiradas pelo Hubble, lembram os quadros de Van Gogh. Mas, na realidade, esta em específico mostra o nascimento de mais uma mancha vermelha. Agora a família já tem três membros!

Manchas

A Grande Mancha Vermelha foi observada pela primeira vez por Giovanni Cassini em 1665 e representa uma tempestade que deve durar aí uns 350 anos, pelo menos. Mais recentemente, em 2006, uma outra tempestade parecida foi descoberta na mesma latitude da Grande Mancha Vermelha. Ela foi chamada de Oval BA, mas é mais conhecida
como Mancha Vermelha Júnior. O curioso é que a Mancha Júnior foi formada pela junção
de três manchas ovais esbranquiçadas em 2005. No ano seguinte, ela se tornou vermelha.
Essa mancha “passeia” pela atmosfera de Júpiter e, de dois em dois anos, encontra sua irmã maior. Agora uma terceira mancha veio se juntar à família.

A nova mancha foi descoberta a oeste da Grande Mancha na mesma latitude. Ela é
vermelha como a Júnior, mas não tão escura quanto a Grande. Ninguém sabe ao certo por que elas são vermelhas. Especula-se que seja por que elas arrancam material das camadas de nuvens mais abaixo das camadas que nós vemos no telescópios. E o curioso é que, quando a Júnior nasceu, ou seja, quando se tornou vermelha, a Grande, que já era vermelha, ficou mais escura.

O que está fazendo com que manchas vermelhas apareçam assim e a Grande Mancha Vermelha fique mais vermelha ainda? Ao que parece, Júpiter está passando por uma grande mudança climática. Aparentemente a temperatura está subindo no equador e baixando nos pólos. Uma mudança de temperatura global de 10 graus Celsius está sendo prevista para os próximos anos. Essa mudança tem o efeito e criar novas tempestades e também intensificar as tempestades existentes, e essas mudanças partiriam do sul de Júpiter, justamente onde estão as três manchas. Isso faria com que a Grande Mancha sugasse mais material de baixo, ficando mais escura, e a Júnior ficasse mais intensa, a ponto de conseguir atingir uma camada mais abaixo, o que, no final das contas, deixou-a vermelha.

As atenções agora se voltam para essa família em Júpiter, que acabou de surgir detrás do Sol. É que em agosto, segundo as projeções, a nova mancha (ainda sem nome ou apelido) deve se encontrar com sua irmã mais velha. Duas coisas podem acontecer: um abraço
tão fraterno que as duas tempestades acabem se juntando numa só, ou uma
incompatibilidade total de gênios, e cada uma vai para um lado diferente. Vamos aguardar!

Um vizinho de mau humor

ter, 20/05/08
por Cássio Barbosa |
categoria Observatório

Todo mundo tem um dia ruim. Tem dias que nada dá certo, as coisas saem erradas e você eventualmente tem vontade de explodir e nessa hora é bom não ter ninguém por perto.

As estrelas também.

No dia 25 de abril, o satélite Swift detectou o que seria a mais violenta expressão de mau humor que uma estrela poderia ter. Uma explosão de alta energia detectada principalmente em raios-X. Confira!

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Isso já seria surpreendente por si só, pois o Swift é um satélite projetado para detectar explosões de raios gama do universo distante e detectar uma explosão tão violenta de uma estrela nunca esteve em seus planos. Entretanto, este fato se tornou ainda mais surpreendente quando se descobriu que a estrela que estava em um dia ruim era EV Lacertae.

EV Lacertae é uma anã vermelha, o tipo de estrela mais abundante no universo. Ela tem apenas um terço da massa do Sol e brilha com apenas um centésimo da luminosidade dele. Pode ser vista apenas com telescópios com um brilho de magnitude 10 no céu. EV Lac é um dos nossos vizinhos mais próximos, a apenas 16 anos luz de distância.

Com isso tudo, não haveria muito a se dizer desta estrela — ela é relativamente jovem, com algumas centenas de milhões de anos e gira uma vez a cada quatro dias. Comparativamente, nosso Sol gira uma vez a cada quatro semanas.

A explosão foi detectada primeiramente pelo instrumento russo Konus a bordo do satélite Wind da NASA. Dois minutos depois o Swift já apontava seu telescópio de luz ultravioleta e óptica para observá-la. Só que a explosão foi tão intensa que o telescópio automaticamente se desligou por motivos de segurança. A explosão permaneceu intensa durante mais de 8 horas! Durante este período, a estrela aumentou tanto de brilho que se tornou visível a olho nu.

Mas o que teria causado tanto mau humor a esta criança?

Muito provavelmente esta explosão está ligada ao seu rápido período de rotação e seu campo magnético. O Sol passa por momentos assim de vez em quando, mas nada tão violento, ainda bem. Uma explosão como esta é capaz de esterilizar qualquer ambiente com vida. A rápida rotação da estrela deve gerar campos magnéticos muito fortes em pontos bem localizados. Nestes pontos o valor do campo deve ser 100 vezes mais intenso que o campo magnético do Sol. A energia armazenada no campo magnético é que dá origem a explosões como estas.

A teoria a respeito do surgimento destas explosões ainda tem detalhes controversos e sempre se baseou nas explosões que observamos no Sol. EV Lacertae agora nos dá a oportunidade não só de aprimorar esta teoria, bem como nos abre uma janela para o passado. Como ela é uma estrela 15 vezes mais jovem que o Sol, o estudo do seu dia de mau humor nos dá dados a respeito do comportamento do Sol em seus dias de juventude. Em seus primeiros bilhões de anos de vida ele deve ter passado por momentos assim, explodindo milhões de vezes, cauterizando o material que um dia iria se tornar na Terra e os outros planetas.

Ainda bem que a idade trouxe um pouco de tranqüilidade ao Sol!

Bombardeio regular

ter, 06/05/08
por Cássio Barbosa |
categoria Observatório

Dino

Já é consenso que um impacto de larga escala dizimou os dinossauros há uns 65 milhões de anos. Evidências geológicas apontam para a presença de uma fina camada de material que indica que, nessa época, um grande cometa se chocou com a Terra. Com esse impacto violento, uma camada de poeira se ergueu na alta atmosfera, bloqueando a luz solar. Assim, a temperatura e a irradiação solar diminuíram, o que levou à morte os grandes animais que dependiam de mais calor e muita comida. Pesquisas mostram que provavelmente esse impacto formou o golfo do México.

Bom, até aí não há muitas novidades, mas uma pesquisa feita no Centro de Astrobiologia de Cardiff, no Reino Unido, sugere agora uma origem para esse bombardeio fatal. A idéia geral é a de que no passado, o Sistema Solar era cheio de asteróides que ficavam vagando como restos da formação dos planetas. Havia uma quantidade pequena de grandes asteróides e uma grande quantidade de pequenos.

Os grandes foram caindo, principalmente nos grandes planetas, como Júpiter e Saturno, que ajudaram a limpar nosso Sistema Solar. Aliás, uma das teorias de surgimento da vida em planetas diz que é necessário que um sistema planetário possua planetas gigantes para que eles limpem o sistema dessas pedras espaciais. Sem eles, o bombardeio em planetas com potencial para o desenvolvimento da vida seria tão grande que não haveria condições para que ela surgisse. Em casos extremos o planeta até poderia ser destruído.

Aconteceu por aqui
Esse bombardeio certamente aconteceu com a Terra no início dos tempos. Aliás, a melhor teoria para a formação da Lua diz que um grande cometa, do tamanho aproximado de Marte, teria se chocado com a Terra, e os destroços dessa colisão teriam formado a Lua. No local do impacto teria se formado o oceano Pacífico. Mas isso é outra história.

O que os pesquisadores em Cardiff estão sugerindo, através de modelos computacionais, é que esde bombardeio de asteróides e cometas acontece periodicamente. O Sol se move em nossa Via Láctea e arrasta com ele todo o Sistema Solar. Em um desses movimentos ele atravessa o plano da nossa galáxia a cada 30-40 milhões de anos.

Nessas passagens o nosso Sistema Solar sente a presença das nuvens de gás que estão concentradas nessa faixa estreita. Essa interação é suficiente para “soltar” asteróides e/ou cometas que estão na nuvem de Oort, uma região bem mais distante que a órbita de Plutão, onde estão vagando os restos da formação do Sistema Solar. Essa nuvem é um verdadeiro reservatório de cometas.

Dessa maneira, a cada 30 ou 40 milhões de anos, vários desses cometas se desgrudam dessa nuvem e mergulham no interior do Sistema Solar. Alguns deles sobrevivem à ação limpadora dos gigantes gasosos e fatalmente atingem a Terra. Os resultados chamam a atenção porque a cada 30 milhões de anos, aproximadamente, existem registros de extinção em massa na Terra, e isso não seria mera coincidência. Tal período de intenso bombardeio também coincide com a extinção dos dinossauros há 65 milhões de anos. Outro resultado da pesquisa mostra que nosso Sistema Solar está bem próximo de sofrer um novo bombardeio.

O que deve ter sido uma péssima notícia para os dinossauros, principalmente, é uma boa notícia para a vida. Com um bombardeio intenso assim, as chances de algum destroço “contaminado” com microrganismos ter escapado da Terra é bem grande, e isso deve ter ajudado a espalhar a vida pelo espaço. Falta só encontrá-la!



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