“Tchamo”

seg, 24/10/11
por Bruno Medina |

– Então tá combinado, na quarta, depois do trabalho, eu passo aí pra te buscar, ok?

– Vou ficar contando as horas…

– Eu também…

– Bom, acho que por hoje chega, né? Se eu pudesse ficava conversando até o dia amanhecer, mas infelizmente tenho que desligar.

– Ahhhh…

– É que vou ter que acordar cedo amanhã, você sabe; mas de noite a gente fala mais, prometo. Olha, um beijão, lindo, sonha comigo, tá?

– Sonho sim.

– Tchau…

– … nossa! Quantas vezes imaginei esse momento! Agora que aconteceu fiquei até nervoso, porque achei que você nunca ia dizer isso, já estava até meio grilado. Pô, eu também te amo, muito, a cada dia mais!

– (…)

– Oiiii, cê tá aí ainda?

– Tô.

– Que foi, linda, ficou emocionada?

– Não, é que…  esquece.

– Tá tudo bem aí?

– Tá sim, deve ser o sono mesmo.

– Sono? Depois de 2 meses de namoro você finalmente diz que me ama pela primeira vez, daí eu digo que te amo também… desculpa, tô feliz demais pra desligar o telefone agora!

– Querido, tenho uma coisa pra te dizer, mas não quero que você fique chateado…

– Chateado? Como assim?

–  É que eu gosto muito de você, tô adorando te namorar e tudo, mas acho que aconteceu um mal entendido…

– Como assim “mal entendido”?

– É que, assim, quando eu estava me despedindo, acho que você entendeu errado uma coisa que eu disse…

– Quando você disse “eu te amo”?

– É, quer dizer, não, eu não disse isso, eu disse só “Tchau”.

– “Tchau”???? Você disse “tchau”?

– Foi.

– Peraí, eu não fiquei surdo de repente, você disse “te amo”!

– Não, eu disse tchau, mas acho que falei meio baixo e meio rápido, sei lá, tipo “tchamo”, daí ficou parecendo o que você entendeu, mas tudo bem…

– Como “tudo bem”? Pelo menos pra mim, “tchau” e “te amo” são coisas muito diferentes!

– Lindo, vamos deixar isso pra lá… eu só acho que a gente tem que ir com calma. Amanhã conversamos melhor, poxa, eu gosto tanto de você…

– É, né? Mas pelo visto não ama…

– Pronto, ficou bravo… olha, …

– Não, tudo bem, tudo bem, já entendi, tá certo. Foi bom mesmo pra eu aprender…

– Aprender o quê?

– Aprender a não me apaixonar mais pela pessoa errada.

– Nossa, não tô acreditando que você disse isso! Tô sem palavras aqui, que grosso! E que fresco também, parece até criança, fazendo tempestade num copo d’água!

– Então é isso que nossa relação significa pra você, um copo d’agua? Você diz com todas as letras que não me ama e eu ainda levo a culpa?

– Ah, depois dessa eu vou ter que desligar! Vamos terminar por aqui essa conversa antes que seja tarde demais, viu?

– Por mim já está terminada. E quer saber: pode esquecer jantarzinho romântico na quarta a noite, não tem mais clima.

– Ah é? Então tá bom, faz o seguinte: nem me liga mais!

– Beleza, nem precisava pedir!

– Tchau! E agora eu disse “tchau” mesmo, tá, seu surdo sentimentalóide!

Steve Wars

seg, 17/10/11
por Bruno Medina |

Se algum dia um cineasta resolvesse transformar a história da Apple numa série de filmes aos moldes de Star Wars, as duas últimas semanas certamente corresponderiam a um daqueles eletrizantes finais de episódio, que deixam os fãs da saga ávidos pelo próximo capítulo. Eis que, num intervalo de 15 dias apenas, a empresa mais influente do século XXI – e não por acaso a mais valiosa da atualidade – velou a desalentadora morte de seu fundador e guru intelectual, ao passo que introduziu dois fragmentos importantíssimos no verdadeiro mosaico tecnológico que se instaurou sobre o cotidiano de milhões de vidas deste planeta.

A primeira destas peças, o Icloud, é uma ferramenta que promete mudar radicalmente a forma como lidamos com arquivos digitais. Tudo bem que o armazenamento de dados em nuvem não chega a ser novidade, mas quem duvida que disponibilizar o recurso dentro de um Iphone pode elevar a modalidade a patamares impensáveis? Já o Siri, apesar do nome engraçado, é resultado de um ambicioso projeto que visa disponibilizar dentro dos smartphones da marca um assistente pessoal capaz de obedecer a comandos de voz para realizar tarefas relativamente complexas. Mal comparando, seria como uma versão simplificada daquele computador que assessora Robert Downey Jr. em “O Homem de Ferro”.

Exagero, sentenciariam os detratores da adorada maçã, mas o Siri pode, por exemplo, ligar ou mesmo enviar uma mensagem de texto ditada por seu “mestre” ao ouvir um nome que consta dos contatos. Ele também sabe marcar reuniões, adicionando uma entrada no próprio calendário e enviando um e-mail convite para a outra parte. Ainda não impressionados? Pois o mais interessante é que o Siri foi programado para responder perguntas de qualquer natureza, através de um mecanismo que escolhe a resposta mais provável dentro de um banco de dados em constante expansão. Claro que o serviço ainda demanda aperfeiçoamento, o que tem culminado em situações no mínimo engraçadas; quando perguntado por um gaiato jornalista sobre qual seria o sentido da vida, o bichinho disse: “eu não posso responder agora, mas me dê algum tempo e escrevo uma peça de teatro longa em que nada acontece”. Eu não teria respondido melhor…

Mas se para alguns o Siri representa a mais bem sucedida interface voz-computador jamais lançada, para outros, trata-se de um brinquedo bobo, sem qualquer relevância. Seja como for, o destino (ou o acaso) determinou que este fosse o derradeiro suspiro da era Steve Jobs, o que não deixa de ser mais uma evidência de sua crença na web como um ambiente que se torna eficiente e agradável pelo fato de ser minuciosamente controlado. Talvez este seja o resumo do pensamento que qualifica, dentre tantas outras notáveis, a trajetória de Jobs como a mais significativa na bilionária indústria tecnológica mundial. Agora que ele se foi, cabe a reflexão sobre como será lembrado pelas gerações futuras: gênio perfeccionista, constantemente motivado a atender anseios humanos, ou empresário intratável e sem escrúpulos no que tange atingir seus objetivos?

Antes que o hipotético filme proposto no início deste texto pudesse se tornar realidade, seria necessário traduzir seu protagonista para o universo da ficção, como um personagem. Neste caso, Steve Jobs estaria mais para Luke Skywalker ou Darth Vader? Vocês respondem.

Que venha 2013!

seg, 03/10/11
por Bruno Medina |

Acabou. Na madrugada deste domingo, debaixo de muita chuva e ao som de Guns n’Roses, a edição 2011 do Rock in Rio despediu-se de seu imenso público que –de casa ou na Cidade do Rock– prestigiou mais de 70 apresentações, ao longo dos 7 dias de duração do festival. Agora é chegado o tempo de desligar o som, de limpar a sala, de acordar os últimos bêbados dormindo no sofá, de recolher as tralhas e levar em conta erros e acertos, para que, em 2013, a festa seja ainda melhor. Nesta segunda melancólica com jeitão de quarta-feira de cinzas, tudo o que nos resta é recordar os momentos gloriosos vividos nestes dois últimos finais de semana, e aceitar que, a partir de hoje, não é mais dia de rock, bebê…

Na minha retrospectiva pessoal, esse Rock in Rio será especialmente lembrado pelos shows de:

5) Mike Patton/Mondo Cane + Orquestra de Heliópolis – A fórmula kamikaze adotada por Mike Patton em sua apresentação no Rock in Rio foi justo o contrário do que costuma se esperar de um show de festival: poucas interações com o público, repertório totalmente desconhecido e, ainda por cima, cantado em italiano. Mas, mesmo assim, a inventividade e a competência de seu tresloucado Mondo Cane foram um alento para quem já estava cansado de ouvir “tira o pé do chão!” e ver bracinhos para o alto. Mike Patton não faz concessões, e é isso mesmo que o torna um dos principais nomes de sua geração, uma mente brilhante e inquieta sempre em busca de novas inspirações.

4) Milton Nascimento + Esperanza Spalding – Ainda que trilhando o caminho seguro determinado pelo lado A da discografia de Milton Nascimento, em minha opinião, este foi o show que melhor traduziu a proposta do Palco Sunset. Se não havia grandes novidades no repertório escolhido, o mesmo não pode se dizer de Esperanza Spalding; ainda relativamente desconhecida do público brasileiro, a cantora e contrabaixista exibiu seu assombroso talento, tornando-se um espetáculo à parte, uma amostra consistente de que não lhe faltarão credenciais para figurar entre os grandes nomes do jazz ainda nos próximos anos.

3) Janelle Monáe – Para mim, a grande surpresa do festival. Chegou ao Rock in Rio levantando dúvidas quanto a sua escalação para o Palco Mundo, e saiu dele levando consigo um número considerável de novos fãs. Num show redondo e bastante coeso, em que o bom gosto do cenário e dos figurinos superou a pirotecnia, não deixou passar a oportunidade de apresentar ótimas canções e técnica vocal apurada, um prova legítima de que há talento de sobra na nova geração de divas americanas.

2) Metallica – Quando subiu ao palco, a veterana banda de James Hetfield não sabia que estava prestes a bater um recorde, o de transmissão mais visitada do Youtube na história. Trata-se de um marco significativo não só para o quarteto como para o público presente na Cidade do Rock na noite de domingo passado, que cantou em uníssono todas as músicas durante as 2h10 de duração da impecável apresentação. Com certeza, um dos momentos mais memoráveis de todas as edições do festival.

1) Stevie Wonder – Tudo bem que o show demorou um pouco a engrenar, e que a escolha das canções a serem apresentadas não chegou a surpreender, mas, mesmo assim, não teve pra ninguém, o Rock in Rio 2011 foi mesmo de Stevie Wonder. Tendo sido uma das últimas grandes atrações confirmadas, o exímio compositor e multi-instrumentista aproveitou-se da pouca assiduidade no país para encantar o públicos com seus hits, que se misturam com a própria história da música pop. Carismático e muito bem disposto, Stevie teve a todo tempo nas mãos a plateia, que, apesar do cansaço, cantou e dançou como se não houvesse amanhã. Deixou o Brasil com a promessa de realizar junto a Gilberto Gil uma turnê nacional de grandes proporções em 2012. Ficaremos aguardando ansiosamente!

 

E pra você, quais foram os melhores shows do Rock in Rio 2011?

 

Cartas Marcadas

dom, 02/10/11
por Bruno Medina |

No apagar das luzes deste Rock in Rio, gostaria de propor uma reflexão que me parece estar sendo relegada na Cidade do Rock: afinal, que características não podem faltar a um bom show? Para muita gente –arrisco– a qualidade de uma apresentação está diretamente associada à capacidade que o artista em questão tem de mexer com a massa, fazer a plateia cantar junto, jogar os braços pro alto e esquecer da vontade de fazer xixi, da fome ou da dor nas pernas. Para despertar esse estado de espírito, de devoção e desprendimento, que outra alternativa tem quem está sobre o palco senão enfileirar o maior número de hits possíveis durante sua apresentação?

E quando o artista julga que seu repertório nativo não é suficiente para alimentar uma plateia, digamos, faminta por sucessos radiofônicos, independente da experiência que tenha, quase sempre recorre ao mesmíssimo recurso que qualquer banda de moleques utilizaria no sarau da escola. Tocar covers. Pois não é de hoje que covers e festivas formam uma dupla imbatível como Batman e Robin ou arroz com feijão; no entanto, para ser considerado uma carta na manga de fato, o recurso precisa obedecer a algumas regrinhas básicas, tais como preservar certo ineditismo, se relacionar com as outras canções do show, representar uma versão inusitada da música escolhida e, sobretudo, ser exceção, a receita exata de tudo que não tem acontecido no Rock in Rio.

Como diria o famoso ditado, “a diferença entre o remédio e o veneno está na dose”, mas tudo indica que Cláudia Leitte e Frejat, para citar apenas dois exemplos, pensam diferente. Ambos recorreram a nada menos do que 6 versões de outros artistas para incrementar suas performances, obtendo, como resultado, exibições muito descaracterizadas de seus trabalhos. Toda vez que assisto a shows como estes fico me perguntando se não teria valido a pena aproveitar os holofotes para demonstrar autoralidade e consistência artística, ao invés de recorrer ao artifício pouco nobre de se escorar no sucesso alheio, o que até pode pôr em xeque suas escalações para o principal palco do evento. A exceção honrosa ficou por conta de Janelle Monáe, que apostou na própria munição (e num único cover de Michael Jackson) para enfrentar uma plateia que a desconhecia e que, assim como eu, teve a chance de se impressionar positivamente com a qualidade de suas músicas.

Em outros casos observados ao longo do festival, mesmo artistas de renome, inclusive os internacionais, têm preferido revisitar suas carreiras, transformando num emaranhado de sucessos de todas as épocas apresentações que poderiam soar mais coerentes se fossem incluídas canções recentes ou menos famosas de suas discografias, o que potencialmente poderia não agradar aos fãs de ocasião. Em suma, apesar das reconhecíveis virtudes, o Rock in Rio 2011 não conseguiu escapar a sina de abrigar apresentações pouco inspiradas de algumas de suas principais atrações, tais como Elton John, Jamiroquai e Lenny Kravitz, estes que falharam ao apostar que tocar para grandes públicos é sempre um jogo de cartas marcadas.

Assim sendo, deixo para vocês responderem a pergunta que fiz logo no início do texto: afinal, que características não podem faltar a um bom show?



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