Xô!

seg, 28/12/09
por Bruno Medina |

forcaRelembre, reveja, reviva. Retrospectiva. E listas, muitas listas. Dos melhores shows, dos piores micos, dos óbitos, dos fatos relevantes na política e nos esportes, das frases que marcaram, das tendências, das obsolescências, do que é relevante e do que já foi esquecido. Faltando poucos dias para o final do ano e da década, o que resta a esse que vos escreve a não ser engrossar o caldo? Como nadar contra a maré de saudosismo, que reboca qualquer tentativa de abordar outro tema senão o que ficou para trás?

Pois saibam que me recuso terminantemente a aderir ao tal sentimento; meu desejo é, portanto, fazer desse espaço uma tábua flutuante aos náufragos da melancolia, e a qualquer um que não pretenda gastar os dias que ainda restam em 2009 com o pescoço torto, olhando para o que passou. Não se trata de implicância ou de preguiça, muito pelo contrário, afinal, nesses últimos anos minha vida (…) . Vocês viram só como o assunto é capcioso? Quando menos se espera o saudosismo dá o bote. Xô!

Visto que minha resolução se encontrará constantemente ameaçada, decidi propor um desafio: pela primeira vez na história desse blog estarei aceitando sugestões de post. Pode ser o argumento de um conto, o comunicado de um fato pitoresco, a chance de ler sobre aquele tópico que você sempre esperou ser abordado e que nunca foi. Serão consideradas as ideias (sejam elas quais forem) enviadas até às 23:59h do dia 31. A única exigência é que não cheirem a mofo. Combinado? Então, mãos à obra!

Pois é…

ter, 22/12/09
por Bruno Medina |

4232… ter filho pequeno dá nisso aí; cedo ou tarde você perde no zerinho ou um e acaba desse jeito, travestido de Papai Noel para alegrar o Natal da criançada. O registro é do teste de figurino, realizado no último final de semana. Após a divulgação do resultado houve quem sugerisse nova disputa, afinal, convenhamos: eu não nasci para isso.

Só espero não causar danos psicológicos irreversíveis a nenhum dos pequenos. Da minha parte, garanto que não será possível esquecer tão cedo a desconfortável sensação de grudar chumaços de algodão nas bochechas com fita crepe. Se não estou sorrindo na foto, saibam, é porque o bigode caia ao mais sutil movimento de rosto.

Apesar do incomodo, acredito que todo mundo deveria se submeter à experiência de personificar uma vez ao menos o bom velhinho, nem que seja só para constranger os próprios descendentes. Assim sendo, com ou sem barba branca, desejo a todos um ótimo Natal, e votos de que o Papai Noel que for visitar a casa de vocês seja um tanto mais bem apessoado do que esse.

O preço da fama

sex, 18/12/09
por Bruno Medina |

moneyTodo bom fã – mas fã que é fã mesmo – sabe que a experiência de assistir a seu artista preferido ao vivo nunca está completa sem uma passadinha pelo camarim, pra dar um “oi”. Não importa se o sujeito esteve no aeroporto, fez vigília na porta do hotel ou ouviu o ensaio, de tarde, na calçada da rua; a certeza da missão cumprida só vem com aquele abraço (suado) depois do show.

Os acordes de introdução da última música do bis (eles sabem qual é, claro) indicam que é chegada a hora de abandonarem seus postos – conquistados, quase sempre, com enorme sacrifício – e seguirem rumo a entrada que leva ao backstage. O termo, assim mesmo em inglês, é a senha capaz de fazer disparar os corações oprimidos pelas grades que separam público e palco. Muitos dos fãs, aposto, por uma chance de cruzar a linha protegida pelos homens de preto, dariam quase tudo. Mas tudo quanto?

A pergunta, um tanto deslocada dentro do contexto de lágrimas, máquinas fotográficas e palhetas atiradas a ermo, aparentemente tem aguçado a curiosidade de cada vez mais ídolos internacionais. É isso mesmo, minha gente: visita ao camarim agora é paga, e custa caro. Fiéis ao ditado “tempos de crise, grandes oportunidades”, alguns astros do showbusiness aproveitaram a queda das bolsas, que no ano passado derrubou as economias mundo afora, para estabelecer uma maneira adicional de garantir um cascalho.

A novidade chegou em nossas bandas através de Sarah Brightman, na ocasião de sua recente visita ao país, em outubro. Pela bagatela de R$ 540 qualquer mortal assegurava o privilégio de tê-la como guia no tour que deu acesso ao interior de seu guarda-roupas, bem como conhecer de perto seus sapatos, maquiagens e ainda manusear o microfone, que logo a seguir foi utilizado pela própria. O pagamento, em espécie, segundo testemunhas, foi repassado por produtores diretamente à artista. Uma cena, diria, no mínimo incomum, considerando que a diva já vendeu mais de 30 milhões de discos.

jon_bon_joviAinda não se sabe ao certo quem lançou a moda, a qual já aderiram, também, Back Street Boys e Miley Cyrus, no entanto o modelo de negócios inusitado tem inspirado derivações; Dream Theater e Simple Plan, por exemplo, oferecem aos admiradores tickets para a passagem de som. Bon Jovi e Beyoncé, por sua vez, cobram pelo cadastro em seus fãs-clubes, e sorteiam entre esses associados o safári por sua intimidade, dentre outros benefícios. A modalidade foi batizada com o pitoresco nome de “oportunidades para conhecer e cumprimentar”. Simpático, não?

E polêmico também. No centro desse debate encontram-se os maiores interessados, divididos entre o deslumbramento de poder comprar a proximidade com seus ídolos e a sensação de que não deveriam ter que pagar por isso. Imagino haver, entre os simpatizantes, uma lista de justificativas para o serviço – se assim o podemos chamar – mas um fato, ao menos, permanecerá sem explicação: qual o impacto da renda extra nesse bolsos, acostumados a acomodar milhões de dólares? No dos fãs, presumo, deve ser bem maior.

Profissão perigo?

ter, 15/12/09
por Bruno Medina |

santaEntra ano, sai ano, em dezembro o protocolo segue sem alterações: “caixinhas” pra todos os lados, listas de presentes intermináveis, lojas abarrotadas e, na porta de cada uma delas, senhores gorduchos fazendo um troco vestidos de Papai Noel. Colocado assim, pode dar a impressão de que o bico dos vovôs barbudinhos se inclui na relação de mazelas que o Natal traz à reboque; muito pelo contrário.

Afinal, quem já foi criança sabe a importância do papel desempenhado por esses verdadeiros heróis sazonais, bastiões do espírito natalino e da magia que a data desperta entre os pequenos. Merecem nossos sinceros respeito e admiração todos aqueles que abdicam das tardes serenas de aposentadoria, passadas em frente a TV ou nas pequenas rodas de dominó, e se catapultam – de luvas, gorro e embrulhados em cetim vermelho – para o olho do furacão.

Durante pouco mais de um mês concentrarão todos os olhares, expostos em seus tronos ornados com purpurina, laços de fita e tinta dourada, à mercê de um séquito ensandecido de mães, por vezes histéricas, e por meninos e meninas, quase sempre contrariados. Não teria como precisar números exatos, mas desconfio que, na imensa maioria das vezes, são os pais, e não os filhos, que desejam sentar-se no colo do bom velhinho.

A insistência por uma foto não raro termina em choro convulsivo e certeza de vexame para todos os envolvidos, isso sem mencionar quando os, digamos, mais curiosos, impressionados com a volumosa barba branca, resolvem puxá-la para descobrir se é de verdade. Dá nervoso só de pensar. Ainda dentro do quesito ossos do ofício, aliás, cabe lembrar do montante de perguntas capciosas passível de brotar das criativas mentes infantis: por que você finge ser o Papai Noel? Como você faz para estar em todas as casas ao mesmo tempo?? Por que ano passado não ganhei o videogame que pedi???

Haja saco, literalmente.

Para contornar essas e tantas outras possíveis saias justas, a maioria dos estabelecimentos já solicita comprovação de treinamento antes de contratar os profissionais do “ho, ho, ho”. Nos cursos, cada vez mais específicos, aprendem desde a descerem de helicópteros sem ter a mão decepada por um aceno prematuro (há casos catalogados) até como tocar as crianças – meu Deus – sem dar margem a interpretações equivocadas.

Portanto, na próxima vez que encontrar um Papai Noel por aí, não deixe de prestá-lo uma saudação, um olhar de cumplicidade que seja, em reconhecimento por seu sacrifício. Pensando bem, apesar de gozar de muito menos prestígio, seu trabalho não difere muito do de uma passista de escola de samba: ambos dependem de disciplina para manter a silhueta, atuam em extensas jornadas que se limitam a apenas alguns dias por ano, precisam aturar o assédio dos inconvenientes e, ainda assim, distribuir sorrisos por onde passam. A diferença é que, o Papai Noel, ninguém gostaria de sequer imaginar em trajes de banho.

Qual é o pente que te penteia?

sex, 11/12/09
por Bruno Medina |

peinadoApesar das implicações inerentes ao ato, é possível afirmar que praticamente todo ser humano do sexo masculino carrega dentro de si a frustração de não poder dar à luz seus bebês. Tudo bem, sabemos o quão árdua a tarefa é, tanto que, ao longo dos séculos, aprendemos a sublimar o fato da natureza não nos ter incumbido de desempenhá-la (por reconhecida incompetência, talvez?);  mas a verdade é que aí esta descrito um motivo ao menos para que homens invejem mulheres. O outro, sem sombra de dúvida, é a escova progressiva.

Asseguro que não há dentro de nosso espectro simbólico nada que se equipare ao benefício trazido por uma escova progressiva bem feita. O tratamento expresso – se é que podemos denominá-lo assim – representa, na prática, o mesmo que uma sessão de terapia, uma dose instantânea de satisfação, ou, se preferir, uma chance de, ainda que por tempo determinado, virar o jogo, seja ele qual for: perdeu o emprego? Escova. Brigou com o namorado? Escova. Acordou se achando baranga? Escova. E por aí vai.

Louvado seja o sujeito que inventou a benesse e seus derivados, porque, mesmo sem saber, deu às mulheres a ilusão de poderem se reformular por completo num par de horas. E quem se importa se o pequeno milagre depende da submissão à quantidades significativas de substâncias químicas? Pode ser querosene, diabo verde ou creolina, se servir para alisar as madeixas, tá valendo.

Aos olhos de quem está de fora, o mercado da chapinha parece mais rentável do que o comércio de entorpecentes. Noto, inclusive, um acréscimo substancial no movimento do salão perto aqui de casa, com aproximação do período de festas associado ao pagamento da primeira parcela do 13o salário. Na porta afixaram um cartaz “temos escova marroquina”, o que me levou a indagar se existe algum fundamento na nomenclatura. Sim, porque escova de chocolate a gente até engole, mas o que exatamente caracteriza a escova como sendo marroquina?

Desculpem-me se estiver cometendo alguma injustiça, mas a impressão é a de que quanto mais longínquo for o suposto país de origem, mais eficiente soa o resultado. É papo de marketing. Aliás, alguém se espantaria, por exemplo, se um dia inventassem a escova do Uzbequistão? Atenção cabeleireiros que porventura estejam lendo esse texto, a ideia já é minha, ok? A despeito da criatividade dos nomes, o que mais me fascina no mundo das escovas é a ironia de terem como pior inimigo a chuva.

Chega a ser poético pensar na analogia que há entre o cabelo recém alisado e a carruagem de abóbora da Cinderela. Porque basta uma garoa fina para o sonho de uma noite inesquecível se esvair, literalmente, por água abaixo. Não tiro a razão de quem possivelmente enxergar nos parágrafos acima uma ponta de dor de cotovelo. Admito, sem resistência, a falta que faz a nós, homens, encontrar amparo emocional em algo tão simples, que se possa aplicar aos cabelos. O mais próximo que chegamos disso é aderir ao megahair quando calvos, ainda que não seja bem a mesa coisa.

Portanto, mulheres, sejam felizes com as escovas, sendo elas de que tipo forem. Aproveitem para ir à forra, afinal a celulite acabou sobrando só para vocês…

Realista até debaixo d’água

ter, 08/12/09
por Bruno Medina |

underwater

Conversa entre dois rapazes, ouvida (eu juro) hoje cedo na estação de metrô do Jabaquara, na zona sul da capital paulista:

– Ué, voltou a andar de metrô agora? E aquele seu carro?

– Tô deixando na garagem por enquanto, porque decidi trocá-lo.

– Como assim? Você comprou não tem 3 meses!

– Pois é, mudei de ideia com a chegada do verão.

– Ah, entendi, tá querendo pegar uma moto…

– Não, na verdade eu estava pensando mesmo numa lancha…

Pode até ser brincadeira, mas não é má sugestão.

qua, 02/12/09
por Bruno Medina |

musicao que – Música em Tempos de Internet traz a Curitiba o debate e a reflexão sobre as recentes transformações ocorridas no meio musical.

quem – Bruno Medina apresentará sua visão do atual panorama do mercado fonográfico e do papel a ser desempenhado pelo artista no século 21, além de dividir suas impressões e vivências como integrante da banda Los Hermanos.

onde – a palestra acontece no auditório da Uninter (Campus Divina Providência), a partir das 20 horas e tem duração de 60 minutos. A entrada é franca. Uninter (Divina Providência) – Rua do Rosário n° 147 – Centro

quando – dia 4 de dezembro, próxima sexta-feira

confira a programação completa do evento .

“É o lado negro da força, doutor”

ter, 01/12/09
por Bruno Medina |

mecanico

São certamente poucas as circunstâncias em vida capazes de fazer um sujeito se enxergar mais impotente do que quando adentra uma oficina mecânica. Só mesmo quem já vivenciou a insólita experiência sabe como pode ser frustrante se deparar com o universo imponderável que se revela no ato da abertura de um capô. Ter um carro exige saber administrar esta sensação, de num momento estar tranqüilo ao volante, passeando ou dirigindo até o trabalho e, de repente, se ver obrigado a fazer manobras radicais para conseguir entrar numa birosca imunda que não inspira qualquer credibilidade. E, pior, sem saber como ou quando vai sair de lá.

Sinto que um mecânico de confiança estaria posicionado em algum lugar entre o médico da família e a professora das crianças, caso fossem listados por ordem de importância. Há, inclusive, semelhanças indiscutíveis entre seus ofícios, a começar pelo fato de serem especialistas em lidar com o que nos é imprescindível. Não duvide das muitas coincidências que unem o funcionamento do corpo humano, de um motor e da cabeça de uma criança, afinal, para dizer o mínimo, todos 3 são sistemas extremamente instáveis, sujeitos a constantes alterações.

Investigá-los mais a fundo significa arcar com risco comparável ao de meter a mão num vespeiro, uma atitude que dificilmente escapa de ter consequências. Mas nem sempre foi assim; no caso dos carros pelo menos, o conceito era criar uma carroça que não dependesse de tração animal, impulsionada por engrenagens simplórias, com as quais quase qualquer um conseguiria lidar. Quando uma dessas pioneiras máquinas enguiçava, a solução exigida podia muito bem passar por tirar o cinto da calça, afim de reproduzir o efeito de uma correia ou, sei lá, bater com a sola do sapato num pistão que houvesse emperrado.

Hoje, quando acende uma luz no painel, é preciso ler com atenção o manual para identificar qual das 56 possíveis falhas está sendo assinalada. Os automóveis se tornaram eletrônicos demais, tão sensíveis e complexos que o melhor seria… deixá-los estacionados na garagem! Impossível conter a descarga de adrenalina que sucede a iminência de uma pane, porque, além do pânico de ficar a pé, há ainda a preocupação com o bolso, que quase sempre se justifica.

Entregar as chaves nas mãos de um mecânico desconhecido é como convidar o Darth Vader para jantar em casa, a primeira etapa de uma sucessão de acontecimentos imprevisíveis. Nada impede, por exemplo, que se dê entrada na tal oficina para trocar o óleo do freio e se saia de lá com a conta da substituição da caixa de marchas. “Sabe como é, doutor, uma coisa vai puxando a outra”, dizem os profissionais da graxa, contendo certa satisfação diante da nossa cara de tacho.

Quem possui um carro “semi-novo” sabe que tem apenas duas alternativas: usá-los até se desintegrarem e poderem ser vendidos como carcaça ou se mudar logo para a rua da oficina. Como não segui nenhum dos sábios conselhos, agora estou aqui, me sentindo como um refém, esperando o telefone tocar anunciado as condições do resgate. Tenho que estar preparado para qualquer diagnóstico, ainda que seja a notícia de que o barulho e o mal cheiro se deviam a um casal de cotias habitando meu alternador.

Enquanto especulo o valor do prejuízo, que, independendo do defeito, sempre pode variar de R$80 a R$3.000, antevejo o protocolo a ser seguido: o cara do outro lado da linha fala mecâniques, a gente finge que entende, paga o que foi pedido, e torce para ganhar pelo menos um chaveirinho de brinde, com o nome e o endereço da oficina. Isso é o que eu chamo de lado negro da força.



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